Diário da Região
IM MEMORIAM

Morre aos 80 anos o violeiro Antônio Zamoner, o Marcondinho, em Tanabi

Referência da música caipira regional, violeiro integrou por 40 anos uma das duplas mais antigas do interior paulista

por Salomão Boaventura
Publicado há 2 horasAtualizado há 2 horas
Artista também era conhecido pelas tradicionais coxinhas de mandioca que produziu por quase seis décadas (Alan Marcelane do Carmo/Divulgação)
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Artista também era conhecido pelas tradicionais coxinhas de mandioca que produziu por quase seis décadas (Alan Marcelane do Carmo/Divulgação)
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O som da viola perdeu uma de suas vozes mais fiéis. Morreu na manhã desta segunda-feira, 22, em Tanabi, o violeiro Antônio Zamoner, conhecido como Marcondinho, aos 80 anos. Integrante da dupla Marconde & Marcondinho por quatro décadas, ele foi uma das figuras mais representativas da música caipira na região, mantendo viva a tradição da moda de viola dentro e fora dos palcos.

A causa da morte foi infarto. As homenagens acontecem no velório municipal de Tanabi a partir das 16h desta segunda-feira, 22. O enterro está marcado para terça-feira, 23, às 10h, no cemitério daquela cidade.

Zamoner foi casado por 30 anos com Helena Maria Cordeiro Zamoner e deixa dois filhos, Marcelo e Elaine.

Ao lado do amigo Gervasio Pimentel, de 76 anos, formou a dupla sertaneja Marconde & Marcondinho, considerada uma das mais antigas da região, com atuação contínua ao longo de 40 anos em festas, festivais e encontros de música raiz.

A dimensão humana do violeiro é lembrada por quem conviveu com ele. “Para mim, ele representou muito mais que um artista era um amigo. Eu perco um amigo e a cultura raiz, a cultura caipira, da boa moda de viola, perde um exímio violeiro compositor. O Marcondinho era um sujeito puro, sem maldade, sempre pronto para atender. Com ele, não tinha tempo ruim, era sempre sorridente, prestativo. Marcondinho não deixava nenhum amigo na mão. Ele participava de festivais de música raiz, sempre que podia inclusive. Tínhamos um encontro marcado nesta segunda, no aniversário da minha mãe”, conta Alan Marcelane do Carmo, amigo de Marcondinho.

Além da viola, a cozinha

Fora dos palcos, Marcondinho também construiu uma história conhecida por gerações de moradores da região. Ele era famoso por suas coxinhas de mandioca, preparadas durante 58 anos. Aprendeu a fazer o salgado aos 21 anos, quando se mudou com a família para Tanabi. Trabalhou em diversos bares até aprender a receita em um deles, dando início à trajetória com o quitute.

Em 1966, deixou de ser funcionário para se tornar dono de bar. Ao longo dos anos, teve sete estabelecimentos. O primeiro, chamado Sai de Fasto, vendia, em média, 500 coxinhas de mandioca recheadas com carne e galinha caipira por dia, tornando-se referência local.

Registro no cinema

No fim do ano passado, a trajetória da dupla ganhou um registro inusitado. Marconde & Marcondinho participaram da gravação do filme “Coração Sertanejo”, com direção e roteiro de Flávia Orlando, direção de fotografia de Alziro Barbosa e produção de Tuinho Schwartz e Tato Siansi.

Flávia Orlando explica que os violeiros aparecem logo no início da produção. “Eles fazem uma ponta. A gente tem uma cena na qual os dois protagonistas são pequenos e, numa quermesse, eles se encantam pelos dois violeiros tocando ‘Franguinho na Panela’. No filme, os violeiros dão muita atenção para o menino, mas mal olham para menina, porque sertanejo tem essa coisa de ser de homem. Meu filme é sobre uma mulher que vai se descobrir cantora sertaneja”, conta.

O longa “Coração Sertanejo” narra a história de Vanessa e Pedro, um jovem casal que deixa um pequeno vilarejo do interior de São Paulo em busca do sonho de viver da música. O elenco conta com Gabriela Cardoso, Victor Medeiros, Ana Cecília Costa, Catarina Abdala, Hélio de La Peña e Flávio Rocha. A estreia está prevista para 2026.

Com a morte de Marcondinho, a música caipira regional perde um de seus guardiões — daqueles que não tocavam apenas por palco ou aplauso, mas por tradição, amizade e amor à terra. A viola, por ora, descansa.