Diário da Região
‘QUESTÕES INDELÉVEIS DA MORTE’

Aguinaldo José Gonçalves lança livro nesta sexta-feira na galeria Norma Vilar, em Rio Preto

Obra do poeta e ensaísta se destaca pela transversalidade entre arte e literatura

por Rita Fernandes
Publicado em 24/03/2022 às 20:12Atualizado em 25/03/2022 às 08:33
Aguinaldo Gonçalves: ‘Pela arte eu chegaria à morte' (Divulgação)
Aguinaldo Gonçalves: ‘Pela arte eu chegaria à morte' (Divulgação)
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“Nada melhor do que a arte para falar da morte.” Assim o semioticista, poeta e ensaísta Aguinaldo José Gonçalves define o seu novo livro, “Questões Indeléveis da Morte”, que será lançado nesta sexta-feira, 25, a partir das 18h, na Galeria de Artes Norma Vilar, em Rio Preto. Dos sete capítulos da obra, o último foi escrito, a convite, pelo médico e professor da Famerp Moacir Fernandes de Godoy, especialista em teoria do caos aplicada à medicina.

Mestre e doutor em letras, Aguinaldo Gonçalves explica que a ideia de escrever um livro sobre morte surgiu enquanto era professor de Semiologia Humana na Faculdade de Medicina de Rio Preto, a Famerp. “Eu lidava muito com a questão da morte e isso me levou a imaginar o livro. Tive a ideia de criar uma obra baseada na arte porque é o que eu entendo. E pela arte eu chegaria à morte”, explica. “Por isso, em geral as introduções dos capítulos têm alguma coisa da arte. E, apesar de falar da morte, não tem o negativismo”, diz.

A transversalidade entre arte e literatura, presente no livro “Questões Indeléveis da Morte”, chamou a atenção da artista plástica Norma Vilar, que cedeu a galeria para o evento de lançamento. “Sempre gostei da arte conversando com outra forma de expressão artística. E o Aguinaldo tem um trabalho ligado à artes plásticas, pois ele é um crítico de arte”, destaca.

Estímulo

O cerne da obra foi o primeiro capítulo, com o título original de “A Sétima Instância da Morte”, publicado pela Revista USP (da Universidade de São Paulo), em 2010. Na época, o texto chamou a atenção do jornalista e crítico de cinema brasileiro Luiz Carlos Merten.

“Aguinaldo Gonçalves poderia levar seu texto à Semana Bergman, em Faro, e daria uma bela lecture”, escreveu Merten na edição de julho de 2010, no caderno de Cultura do jornal O Estado de S.Paulo. “Aguinaldo reflete sobre alguns aspectos da morte e o seu texto, como ele diz, poderia ser intitulado ‘A Primeira Instância da Vida’”, comentou na época.

E foi justamente essa “primeira crítica”, feita por Merten, que estimulou Aguinaldo a concretizar o livro que será lançado nesta noite pela Editora Appris. “De repente, o crítico do jornal O Estado de S. Paulo, que não gosta de revista acadêmica e, inclusive, ia jogar o exemplar fora, leu o artigo e adorou. Isso foi bem bacana e me estimulou mais ainda a publicar o livro, porque eu não sou psicólogo, não sou psiquiatra e não sou filósofo. Foi um foro íntimo escrever sobre a morte. Eu não pesquisei. Ele nasceu. Por isso me apeguei à arte como estímulo”, explica Aguinaldo.

Serviço

Lançamento do livro “Questões Indeléveis da Morte”, nesta sexta-feira, 25, a partir das 18h. Galeria de Artes Norma Vilar (rua Raul de Carvalho, 3995 - Santos Dumont).

Teoria do caos encerra a obra

No uso habitual da Língua Portuguesa, o termo “caos” costuma receber uma conotação negativa, ligado a desordem, confusão ou desorganização. No entanto, no último capítulo do livro “Questões Indeléveis da Morte”, o médico e professor da Famerp Moacir Fernandes de Godoy explica que “é digna de nota a menção do Caos como sendo gerador e não destruidor, uma vez que aparece como elemento inicial de tudo que se segue.”

Especialista em teoria do caos aplicada à medicina, Godoy foi convidado pelo autor, Aguinaldo Gonçalves, a apresentar a teoria do caos se tratando da morte.

“Nunca fiz um livro em parceria com alguém. É raro na universidade, ainda mais na Faculdade de Medicina, uma conjunção de ideias entre as pessoas. E eu gosto muito do Godoy. Ele é muito inteligente. Então, fiz o convite e ele muito agradavelmente aceitou”, afirma. “Contraria um pouco do que eu fiz nos outros seis capítulos, mas não faz mal. É para isso mesmo.”

Segundo Godoy, o caos é abordado ao longo do texto “como algo criador e organizador e como verdadeiro e adequado processo de manutenção da vida.” (RF)

Galeria Norma Vilar é repaginada para o evento

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Norma Vilar pintou novas obras (Divulgação)
Norma Vilar pintou novas obras (Divulgação)
Gráficos de batimento cardíaco (acima) que ficam com efeito de caos (Divulgação)
Gráficos de batimento cardíaco (acima) que ficam com efeito de caos (Divulgação)

Mais do que ceder sua galeria para o lançamento do livro “Questões Indeléveis da Morte”, a artista plástica Norma Vilar vai repaginar o espaço com obras relacionadas à teoria do caos.

A inspiração para este novo trabalho veio do co-autor da obra, o médico e professor da Famerp Moacir Fernandes de Godoy, especialista em teoria do caos aplicada à medicina.

“Quando o Moacir Godoy visitou a galeria para conhecer o espaço, ele me mandou algumas imagens inspiradoras. São figuras que se obtêm da avaliação do coração em pessoas saudáveis, idosas, crianças, prematuros ou em casos de morte cerebral. É interessantíssimo”, destaca Norma.

“Resolvi separar alguns trabalhos e pintar novas obras dialogando com esses gráficos que ele me mandou. Portanto, vou expor obras inspiradas nos batimentos cardíacos, cujo gráfico fica com efeito de caos”, explica. (RF)