Diário da Região
Literatura

A presença do índio nas canções de Almir Sater

Em sua dissertação de mestrado pela UFMS, o tanabiense Flávio Faccionio pesquisa as representações do índio nas músicas do artista sul-mato-grossense

por Hárlen Felix
Publicado em 28/01/2019 às 20:30Atualizado em 07/07/2021 às 08:07
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"Lembro de um velho índio contando histórias | De glórias e tragédias que não vivi | Quando das estrelas vieram deuses | E seus sinais estão por aí..."

No rádio do carro, Almir Sater cantava "Serra de Maracaju" enquanto o então estudante de Letras Flávio Faccioni voltava para Três Lagoas (MS) com a professora Claudete Cameschi de Souza, depois de visitar mais uma comunidade indígena, desta vez na cidade de Barra do Garças (MT). "Ele (Almir Sater) está cantando a história dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul", disse a professora ao aluno, que é natural de uma cidade do interior paulista cujo nome significa "rio das divinas borboletas" em tupi-guarani: Tabani.

A viagem, feita em 2017, e principalmente a canção do cantor e compositor sul-mato-grossense, acabaram influenciando Faccioni na escolha do tema de sua dissertação de mestrado, iniciado, em 2018, na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), a mesma instituição em que ele concluiu sua graduação em Letras.

"Serra do Maracaju" é uma das três músicas eternizadas pela voz de Almir Sater que fazem parte da pesquisa do tanabiense em torno das representações indígenas nas canções do artista sul-matro-grossense, uma das grandes referências do folk brasileiro. As outras são "Sonhos Guaranis" e "Kikiô", cuja letra é do compositor Geraldo Espíndola.

"Para a minha dissertação, que envolve a análise de discurso, estou pesquisando como os índios são retratados nas músicas compostas e interpretadas por Almir Sater. Nas três canções escolhidas, é possível observar a memória das tradições indígenas, sobretudo aspectos ligados à oralidade", comenta Faccioni, que teve a oportunidade de entrevistar o próprio cantor e compositor em junho do ano passado.

Desde a sua graduação, o tanabiense já teve contato com inúmeras aldeias indígenas no Brasil e em países como Argentina, Paraguai e Bolívia, de onde ele acaba de chegar depois de comandar um ciclo de aulas em La Paz, realizado no Centro Cultural Brasil-Bolívia. "Tive a oportunidade de ensinar a língua portuguesa a uma turma de bolivianos utilizando as músicas de Almir Sater. São pessoas que têm interesse em conhecer e estudar no Brasil", explica Faccioni, que, em algumas visitas feitas a povos indígenas, foi caracterizado como Dr. Torresmo, palhaço que ele interpreta desde quando morava em Tanabi.

O tanabiense, que conta com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), começará a escrever a sua dissertação neste ano. "Ainda não cheguei às conclusões de minha pesquisa, mas espero que esse trabalho colabore na valorização da cultura dos povos originários de nosso País."