Cineasta de Rio Preto conquista prêmio em festival internacional
Por meio do olhar de universitários, filme retrata crise na educação brasileira

O longa-metragem “As Quatro Estações da Juventude”, produzido pelo rio-pretense Lucas Pelegrino e com direção assinada por Essi Rafael, ganhou o prêmio WIP Puerto Lab, no Festival Internacional de Cinema de Cartagena (FICCI), na Colômbia.
O Festival é o evento mais antigo do gênero na América Latina e teve sua 62º edição entre os dias 22 e 27 de março, com a exibição de filmes de todo o mundo.
O filme
Pelegrino explica que o filme “As Quatro Estações da Juventude” começou com a ideia de acompanhar os calouros em uma das universidades mais importantes do Brasil, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). As gravações ocorreram de 2010 até 2013.
“Sempre gostamos da ideia de filmar a passagem do tempo. Então, nosso plano era filmar os alunos chegando na graduação e irmos seguindo esse pessoal. Começamos gravando a calourada e não imaginávamos que daria mais de 100 horas de material”, recorda.
“Como tinha a Copa do Mundo, Olimpíadas e investimento em educação, a vida das pessoas começou a ficar interessante. Naquela época, a educação até que estava indo bem, mostramos a Federal de São Carlos mudando, com prédios sendo construídos e toda aquela euforia. No entanto, fomos vendo isso se dissipar ao longo dos anos. Foi a partir daí que essa ideia se tornou um longa-metragem”, complementa.
Pelegrino explica que o longa tem um arco histórico. “O primeiro ano é de festa, esperança, um ano colorido, pessoas morando fora da casa dos pais pela primeira vez. Porém, quando termina, em 2013, é um ano de desilusão. Muita gente em crise, trocando de curso, por exemplo. De sete alunos que acompanhamos, apenas dois se formaram”, pontua.
A Premiação
A premiação no festival de Cartagena rendeu 15 mil dólares em serviços de pós-produção na Cinecolor, da Colômbia. Com o valor, Pelegrino pensa em aprimorar o longa. “Sempre é possível melhorar o filme. Com esse valor, podemos melhorar o som e mexer na cor, pois algumas imagens precisam de tratamento especial”, ressalta.
O filme deve seguir com exibições em festivais de cinema. “A nossa ideia é conseguir um bom festival de estreia e percorrer festivais pelo mundo. Com isso, o mercado vai dar validação para sabermos se o filme vai pra Cinema, TV ou Streaming. Isso é sempre uma incógnita”, explica.
Uma longa história
Pelegrino conta que o material ficou parado até 2019 e um prêmio de incentivo ajudou a fazer a finalização. “Estamos há 13 anos fazendo esse filme. Começamos com os recursos próprios do diretor e com a ajuda dos nossos colegas de curso. Foi preciso que a crise educacional no Brasil atingisse seu pior momento, durante o governo Bolsonaro, para que o nosso sonho de fazer Cinema voltasse. Foi quando ganhamos o prêmio do ProAC de Finalização de Longas e começamos a montar as mais de 100 horas de material gravado”, enfatiza.
Antes do prêmio em Cartagena, o projeto passou por vários eventos e feiras de mercado ao redor do mundo como o DocSp (São Paulo), DocMontevideo (Uruguai) e Visions du Reel (Suíça). Em dezembro do ano passado, o filme foi o único projeto brasileiro a ser selecionado para comparecer presencialmente ao Chile durante o encontro internacional de documentários Conecta. “Nós nos associamos com a produtora sul-mato-grossense Casa de Cinema de Aquidauana numa extensa parceria que tem rendido muitos frutos”, diz Pelegrino.
“Todo esse tempo, as crises e essa jornada épica foram, de uma estranha maneira, fortalecendo o projeto. Além de ter sido uma escola de aprendizagem para a gente sobre como funciona o mercado”, diz o produtor. E complementa, ressaltando a importância do prêmio: “Esse é um prêmio para todos os rio-pretenses se orgulharem. Os nossos filmes existem e são reconhecidos nos maiores festivais de Cinema do Brasil e de fora”, finaliza. (SB)