Diário da Região
'AS QUATRO ESTAÇÕES DA JUVENTUDE'

Cineasta de Rio Preto conquista prêmio em festival internacional

Por meio do olhar de universitários, filme retrata crise na educação brasileira

por Salomão Boaventura
Publicado em 03/04/2023 às 21:29Atualizado em 04/04/2023 às 08:50
Lucas Pelegrino é produtor executivo formado em Cinema pela UFSCar. Neste ano, junto com ‘As Quatro Estações da Juventude’, ele lança os longas ‘Ivan’ e ‘Estranhas Cotoveladas’ (Divulgação/Osky Contreras)
Lucas Pelegrino é produtor executivo formado em Cinema pela UFSCar. Neste ano, junto com ‘As Quatro Estações da Juventude’, ele lança os longas ‘Ivan’ e ‘Estranhas Cotoveladas’ (Divulgação/Osky Contreras)
Ouvir matéria

O longa-metragem “As Quatro Estações da Juventude”, produzido pelo rio-pretense Lucas Pelegrino e com direção assinada por Essi Rafael, ganhou o prêmio WIP Puerto Lab, no Festival Internacional de Cinema de Cartagena (FICCI), na Colômbia.

O Festival é o evento mais antigo do gênero na América Latina e teve sua 62º edição entre os dias 22 e 27 de março, com a exibição de filmes de todo o mundo.

O filme

Pelegrino explica que o filme “As Quatro Estações da Juventude” começou com a ideia de acompanhar os calouros em uma das universidades mais importantes do Brasil, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). As gravações ocorreram de 2010 até 2013.

“Sempre gostamos da ideia de filmar a passagem do tempo. Então, nosso plano era filmar os alunos chegando na graduação e irmos seguindo esse pessoal. Começamos gravando a calourada e não imaginávamos que daria mais de 100 horas de material”, recorda.

“Como tinha a Copa do Mundo, Olimpíadas e investimento em educação, a vida das pessoas começou a ficar interessante. Naquela época, a educação até que estava indo bem, mostramos a Federal de São Carlos mudando, com prédios sendo construídos e toda aquela euforia. No entanto, fomos vendo isso se dissipar ao longo dos anos. Foi a partir daí que essa ideia se tornou um longa-metragem”, complementa.

Pelegrino explica que o longa tem um arco histórico. “O primeiro ano é de festa, esperança, um ano colorido, pessoas morando fora da casa dos pais pela primeira vez. Porém, quando termina, em 2013, é um ano de desilusão. Muita gente em crise, trocando de curso, por exemplo. De sete alunos que acompanhamos, apenas dois se formaram”, pontua.

A Premiação

A premiação no festival de Cartagena rendeu 15 mil dólares em serviços de pós-produção na Cinecolor, da Colômbia. Com o valor, Pelegrino pensa em aprimorar o longa. “Sempre é possível melhorar o filme. Com esse valor, podemos melhorar o som e mexer na cor, pois algumas imagens precisam de tratamento especial”, ressalta.

O filme deve seguir com exibições em festivais de cinema. “A nossa ideia é conseguir um bom festival de estreia e percorrer festivais pelo mundo. Com isso, o mercado vai dar validação para sabermos se o filme vai pra Cinema, TV ou Streaming. Isso é sempre uma incógnita”, explica.

Uma longa história

Pelegrino conta que o material ficou parado até 2019 e um prêmio de incentivo ajudou a fazer a finalização. “Estamos há 13 anos fazendo esse filme. Começamos com os recursos próprios do diretor e com a ajuda dos nossos colegas de curso. Foi preciso que a crise educacional no Brasil atingisse seu pior momento, durante o governo Bolsonaro, para que o nosso sonho de fazer Cinema voltasse. Foi quando ganhamos o prêmio do ProAC de Finalização de Longas e começamos a montar as mais de 100 horas de material gravado”, enfatiza.

Antes do prêmio em Cartagena, o projeto passou por vários eventos e feiras de mercado ao redor do mundo como o DocSp (São Paulo), DocMontevideo (Uruguai) e Visions du Reel (Suíça). Em dezembro do ano passado, o filme foi o único projeto brasileiro a ser selecionado para comparecer presencialmente ao Chile durante o encontro internacional de documentários Conecta. “Nós nos associamos com a produtora sul-mato-grossense Casa de Cinema de Aquidauana numa extensa parceria que tem rendido muitos frutos”, diz Pelegrino.

“Todo esse tempo, as crises e essa jornada épica foram, de uma estranha maneira, fortalecendo o projeto. Além de ter sido uma escola de aprendizagem para a gente sobre como funciona o mercado”, diz o produtor. E complementa, ressaltando a importância do prêmio: “Esse é um prêmio para todos os rio-pretenses se orgulharem. Os nossos filmes existem e são reconhecidos nos maiores festivais de Cinema do Brasil e de fora”, finaliza. (SB)