Diário da Região
TEATRO

Espetáculos de Rio Preto ganham os palcos do Festival Nacional de Teatro de Jales

As companhias teatrais Azul Celeste e Hecatombe e o artista da dança Mayk Ricardo participam do evento que está na 11ª edição e segue até 25 de outubro com programação gratuita

por Salomão Boaventura
Publicado há 2 horasAtualizado há 2 horas
“Aquele que tem os pés inchados”,  da Azul Celeste, será apresentada neste domingo, dia 19, no Teatro Municipal de Jales (Milena Áurea/Divulgação)
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“Aquele que tem os pés inchados”, da Azul Celeste, será apresentada neste domingo, dia 19, no Teatro Municipal de Jales (Milena Áurea/Divulgação)
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Três produções rio-pretenses cruzam estradas e palcos para ocupar o Festival Nacional de Teatro de Jales, que chega à 11ª edição reafirmando a força da cena brasileira fora dos grandes centros. Até 25 de outubro, companhias de todo o País se encontram no interior paulista, e entre elas estão a Azul Celeste, a Hecatombe e o artista da dança Mayk Ricardo — nomes que, cada um à sua maneira, traduzem a vitalidade e a diversidade criativa de São José do Rio Preto.

Toda a programação é gratuita e os ingressos devem ser retirados na Secretaria do Ponto de Cultura Escola Livre de Teatro, anexo ao Teatro Municipal. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira das 10h às 19h.

Companhia Azul Celeste

A primeira presença rio-pretense no palco jalesense é da Companhia Azul Celeste, que apresenta neste domingo, 19, às 19h, no Teatro Municipal, o espetáculo “Aquele que tem os pés inchados”. Inspirado no mito de Édipo, o trabalho propõe uma travessia contemporânea em que ruínas e encruzilhadas se entrelaçam à busca de pertencimento. O texto e a direção são de Jorge Vermelho, com supervisão dramatúrgica de Luis Alberto de Abreu.

“O herói trágico dá lugar ao errante contemporâneo, perdido entre algoritmos e destinos, obstinado na busca desmedida de si”, define Vermelho. “É uma tragédia pisada com os pés da gente.”

A montagem, apoiada pelo ProAC SP e pela Lei Aldir Blanc, ergue uma ponte entre o mito grego e os fundamentos simbólicos dos orixás, estruturando-se sobre os 16 odús do oráculo iorubá merindilogum. O elenco — Alexandre Manchini Jr., Fabiana Pezzotti, Glauco Garcia, Lorenzo Hernandes, Murilo Gussi e Rodolfo Kfouri — dá corpo a essa travessia cênica, unindo dramaturgia, ritual e poesia.

Companhia Hecatombe

Na sequência, no dia 23 de outubro, às 20h30, também no Teatro Municipal, entra em cena a Companhia Hecatombe, que celebra 20 anos de trajetória com “ØDISSE.IA”, livremente inspirada na Odisseia, de Homero. Dirigida e escrita por Homero Kaneko, a obra embaralha tempo, espaço e mito para narrar a jornada de um Ulisses mambembe, interpretado por Ícaro Negroni, que percorre cidades e dilemas do Brasil atual.

O espetáculo reflete sobre masculinidade, guerra e pertencimento em uma dramaturgia que se espalha pelo espaço urbano. Lari Luma, como Calipso, encarna a crítica à lógica mercadológica da arte, e Jaqueline Cardoso, no papel de Zeus, encerra a odisseia com um grande show — gesto que transforma o mito em espetáculo pop.

A Hecatombe também conduz o workshop “A música na cena, no espaço e no público”, ministrado por Jaqueline Cardoso e Lari Luma, no mesmo dia 23, das 14h às 16h, na Casa do Poeta e Escritor de Jales. A atividade tem classificação de 16 anos e vagas limitadas.

O grupo foi contemplado pelo ProAC e pela Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), com apoio do Ministério da Cultura e do Governo Federal.

Mayk Ricardo

Encerrando a participação rio-pretense no festival, o artista Mayk Ricardo apresenta, no dia 24 de outubro, às 22h, na New Corpus Escola de Dança, o experimento performativo “OUTROS NAVIOS: danças para não morrer”. A obra une dança, performance, música e artes visuais em uma celebração da resistência e da ancestralidade negra, com acessibilidade em Libras e audiodescrição.

Criado em 2023, a convite do Sesc Rio Preto, o trabalho nasceu a partir da exposição “OUTROS NAVIOS: fotografias de Eustáquio Neves”, e investiga a relação entre corpo, memória e sobrevivência. “A pesquisa propôs o encontro das obras fotográficas tanto nos corpos dos performers quanto no vídeomapping e projeções que compõem a dramaturgia, utilizando a arte como estratégia de contra-ataque e prática de autodefesa para reconstruir nossas identidades”, afirma Mayk Ricardo.

A cena final se transforma em uma grande festa comandada pelo DJ Taroba, onde o público é convidado a dançar — não como fuga, mas como ato político. O projeto integra o edital Fomento CULTSP – PNAB nº 27/2024, dedicado à difusão e circulação de projetos culturais.

Entre tragédias revisitadas, odisseias urbanas e danças de resistência, a presença rio-pretense no Festival de Teatro de Jales confirma: a arte feita no interior continua dizendo muito sobre o País — e sobre o poder do palco como espaço de reinvenção.