Espetáculo inspirado em Graciliano Ramos marca retorno de Alexandre Rosa a Mirassol
Peça reúne o ator Ney Piacentini e o músico mirassolense indicado ao Shell

O espetáculo “Infância”, que rendeu a indicação ao Prêmio Shell de Melhor Música em 2023 ao mirassolense Alexandre Rosa, será apresentado em Mirassol neste sábado, 22, às 20h, no auditório Cândido Brasil Estrela, anexo ao museu. A entrada será um alimento não perecível. A sessão ganha contornos de retorno simbólico: Rosa, doutor em música com ênfase em performance pela Unesp e integrante do naipe de contrabaixos da Osesp, volta à cidade onde iniciou a formação que o levaria aos principais palcos do País.
No palco, o multi-instrumentista divide a cena com o ator Ney Piacentini, integrante da Companhia do Latão e um dos nomes mais atuantes do teatro paulista. A parceria entre os dois nasceu de uma viagem pelo sertão de Pernambuco e de Alagoas, em busca dos cenários descritos por Graciliano Ramos. “Vivenciamos a aridez e a pulsação da gente do sertão e da Zona da Mata nordestinos”, relembra Piacentini.
A dramaturgia, adaptada pelo ator a partir do livro homônimo, destaca temas centrais da infância do autor alagoano: a precariedade da educação, o autoritarismo paterno, o silêncio imposto e a solidão. O texto preserva o tom seco e direto de Graciliano, alternando as vozes do menino que viveu e do adulto que rememora, sem sentimentalismo nem romantização.
Um dos pilares da montagem é a trilha sonora original composta por Alexandre Rosa, executada ao vivo. O músico utiliza violão, viola caipira, contrabaixo, violino, shruti box e harmonium — estes dois últimos ligados à introspecção e à espiritualidade. Cada instrumento assume a função de um personagem ou de uma atmosfera: o violão evoca o pai; a viola, a mãe; o violino representa a irmã mais nova; o contrabaixo, a mais velha. Os instrumentos indianos surgem nos momentos associados à leitura e ao aprendizado. “A música constrói a atmosfera e guia a narrativa. É tão essencial quanto a palavra”, explica Piacentini.
Para Rosa, a apresentação em Mirassol tem sabor de reencontro com suas origens artísticas, já que nunca havia sido convidado a tocar na cidade como músico profissional. “É uma alegria me apresentar em Mirassol, principalmente no espaço desse auditório que foi o lugar onde toquei pela primeira vez em público, quando estava iniciando minha jornada como músico. Voltar agora, maduro, multi-instrumentista e também atuando nesse espetáculo me acarreta uma grande felicidade. Espero que meus amigos e o público em geral compareçam, tenho certeza que vão gostar”, diz.
Ele também reforça a importância das políticas culturais para a circulação de artistas. “Fico muito grato ao secretário de cultura e à prefeitura por viabilizarem isso, porque é preciso que acreditem na cultura e que a promovam para que artistas possam mostrar seus trabalhos”, conclui.