Curta-metragem produzido por pessoas trans será lançado em Rio Preto
Filme roterizado e dirigido pela drag queen rio-pretense Gaia do Brasil também será exibido no Festival Internacional de Teatro (FIT)


Produzido com elenco-protagonistas, direção, roteiro, produção e direção de trilha compostos por pessoas transexuais, o filme "O Ventre do Traviarcado" será lançado em evento para convidados no dia 5 de junho, no Teatro Municipal Humberto Sinibaldi Neto, em Rio Preto.
O curta-metragem, viabilizado por meio da Lei Paulo Gustavo, também foi selecionado para ser exibido durante o Festival Internacional de Teatro (FIT), que acontece em Rio Preto no mês de julho.
O filme foi idealizado pela drag queen Gaia do Brasil, que assina a direção-geral e o roteiro com a direção de fotografia de João Pedro Dorce. "É uma ideia que eu já tenho há bastante tempo, desde que venho fazendo uma pesquisa sobre a história da comunidade trans no Centro de São Paulo. A partir disso, comecei a criar roteiros, mas todo o roteiro tem várias modificações até chegar à obra final", conta.
O filme
O curta acompanha a história de uma travesti que, em 1986, é expulsa de casa e vai morar em outra residência com outras duas travestis, dando nova forma ao afeto familiar.
Questões como a prostituição e o início da epidemia de HIV/AIDS, atravessam as personagens, que precisam lidar com a opressão social e policial. As três protagonistas serão estreladas pelas atrizes Christina Martins, Agatha Renard e Stella She.
"Quando você está escrevendo o roteiro, já percebe qual personagem, qual tipo de vivência vai se assemelhar mais com cada pessoa ali. E, por incrível que possa parecer, eu acabei trazendo para o filme as atrizes com base na vivência delas. As vivências da Christina, Agatha e Stella têm muito a ver com as personagens que elas representam", revela a diretora.
Festival
Selecionado para a grade do Festival Internacional de Teatro, o curta terá duas exibições para o público. Após a exibição no festival, o filme ficará disponível gratuitamente por um período em plataformas de vídeo como YouTube e Vimeo.
"É uma honra fazer parte da grade do FIT de 2024. É uma realização de um sonho. Eu, que já trabalhei em outras produções nacionalmente, mas, estando como diretora desse curta-metragem, podendo mostrar outra vertente do meu trabalho, para mim é uma honra, principalmente no FIT, o qual é o maior movimento artístico cultural de Rio Preto", afirma Gaia
Ocupação
A drag queen ressalta que ter uma obra dirigida e fomentada por pessoas trans, ocupando espaços em exibições públicas é "incrível". "É um processo de ocupação e, ao mesmo tempo, de mostrar o nosso trabalho, a nossa arte, com muita qualidade", completa.
Gaia ainda revela que, embora o curta se passe nos anos 1980, o tema discutido ainda é muito atual, porque toca em questões familiares, de existência, do corpo e da saúde, tanto física quanto mental.
"Por mais que os nossos direitos venham sendo aprovados e, de certa forma, protegidos por lei, não vêm sendo efetivados. Então, eu espero que as pessoas tenham uma mínima noção da nossa luta que já vem de muito tempo, de tantas barreiras que a gente já veio superando e quantas outras que a gente precisa superar para sermos vistas de maneira igualitária na sociedade", finaliza Gaia.
(Colaborou Victória Oliveira)