Amaury Jr. fala sobre os novos desafios em 2019
De volta à Rede TV!, depois de um ano na Band, Amaury Jr. se divide entre o Brasil e os Estados Unidos, onde se tornou sócio de um canal de TV só com conteúdo brasileiro
Pioneiro do colunismo social televisivo no Brasil, o rio-pretense Amaury Jr. se prepara para encarar novos desafios em 2019. Além de voltar para a Rede TV!, depois de um ano na Band, ele adquiriu 50% de um canal de televisão sediado em Orlando, na Flórida (EUA), cujo conteúdo de sua programação é exclusivamente relacionado ao Brasil.
"Eu estou pegando todo esse expertise que acumulei ao longo desses quase 40 anos na televisão brasileira e tentando fazer desse canal um polo divulgador do Brasil para o mundo", comentou ele em entrevista à Revista Vida&Arte concedida no mês passado, durante visita a Rio Preto.
Estado norte-americano que abriga mais de 2 milhões de brasileiros, a Flórida é bem conhecida de Amaury Jr., que tem residência em Orlando há mais de 20 anos. Foi lá que ele conheceu Claudio Costa, empresário brasileiro que mora nos Estados Unidos há mais de 30 anos e que está à frente do grupo ligado ao CBTV - Canal Brasil de Televisão, o único canal com conteúdo em português para o mundo.
Dividir residência entre Brasil e Estados Unidos não representa nenhum transtorno para quem é "ligado no 220" o tempo todo. Aliás, o que mais relaxa Amaury Jr. é a satisfação de um programa bem feito. "Eu relaxo assim. Depois de fazer uma grande reportagem, vem um remanso tão gostoso. O prazer, a satisfação. Isso me relaxa porque eu cumpri com meu dever", destacou.
Terra onde ainda residem familiares e grandes amigos, Rio Preto tem lugar cativo no coração do colunista. "Rio Preto me deu tudo o que eu precisava. Acho que só consegui me colocar em São Paulo porque Rio Preto me deu uma base muito importante", elogiou.
V&A - Quais são os projetos que estão te levando para Orlando?
Amaury Jr. - Eu frequento Orlando há mais de 20 anos. Tenho uma casa em Orlando e pude acompanhar todo o desabrochar daquela cidade, que hoje é, indiscutivelmente, o maior centro de entretenimento do mundo. Eu conheci, cinco anos atrás, um empresário brasileiro que está radicado lá há mais de 30 anos, chamado Cláudio Costa, cujo negócio principal é turismo. Ele tem a mais importante agência de turismo da Flórida. Apaixonado por televisão, ele comprou um canal, colocou no ar há dois anos. Um canal muito bem montado e já em operação em diferentes plataformas. Eu fiquei muito empolgado, não só pela seriedade dele, mas pela sua obstinação em fazer televisão. Ele está há muito tempo fora do Brasil, mas é um cara que gosta de mostrar uma imagem positiva do nosso País lá fora.
V&A - Sem contar que a Flórida abriga uma grande comunidade de brasileiros.
Amaury Jr. - Hoje, na Flórida, vivem mais de 2 milhões de brasileiros, fora o que o consulado não consegue auferir porque devem estar em situação irregular. Mas a gente não está pensando só na Flórida, a gente está pensando na América inteira e também no mundo inteiro - isso pelas plataformas que o canal está assentado. Como ele é muito caprichoso, e eu também sou muito caprichoso, me apaixonei pelo projeto. A gente foi andando no tempo e tentando encontrar um posicionamento especial para o canal, e esse posicionamento finalmente chegou ao ponto ideal, que é transformar aquilo que ele está fazendo lá em um centro de divulgação do Brasil para o mundo inteiro. A falta de divulgação do Brasil é histórica. A gente tem uma imagem altamente negativa. Só as coisas ruins que acontecem aqui é que reverberam lá fora, e ainda tem a lente de aumento da imprensa norte-americana. Eu estou muito empolgado com este projeto. Fiquei sócio de 50% do canal e vou levar pra lá o Leandro (Sawaya), que é meu diretor aqui no Brasil. Eu estou pegando todo esse expertise que acumulei ao longo desses quase 40 anos na televisão brasileira e tentando fazer desse canal um polo divulgador do Brasil para o mundo. Já fiz contatos com organismos de turismo do governo Bolsonaro, pretendo conversar com o próprio presidente, que já deu sinais de que se trata de um projeto maravilhoso, até porque o custo é muito absorvível e os efeitos são maravilhosos. O Visitors Orlando, por sua vez, também ficou muito interessado porque está sabendo que eu vou fazer algo de duas mãos. Eu vou pegar conteúdo do Brasil e colocar lá, para ser divulgado, e vou trazer conteúdo de lá para o meu programa na Rede TV!, que vou estrear em breve. Está tudo dando muito certo.
V&A - O que esse canal terá de conteúdo brasileiro?
Amaury Jr. - O conteúdo é a cultura brasileira. Por exemplo, uma das nossas iniciativas, que já estamos implementando, é fazer, de tarde, uma sessão da época mais áurea do cinema brasileiro, que foi a época da chanchada. Estamos falando de Oscarito, Grande Otelo, Anselmo Duarte, Dercy Gonçalves... são filmes que, na época, era ingênuos, davam grande bilheteria e hoje nostalgicamente são maravilhosos. A gente tem uma série de depoimentos - eu mesmo entrevistei o Anselmo Duarte uma série de vezes. Temos um amplo material de arquivo. Isso é só um detalhe para exemplificar como é que a gente pretende divulgar a cultura brasileira. Lá fora, por exemplo, nenhuma televisão pode exibir videoclipes da música brasileira. O Leandro conseguiu autorização das mais importantes gravadoras brasileiras para a gente fazer isso lá. Teremos música brasileira também.
V&A - Se a sua vida já era corrida, agora ficará mais ainda com sua mudança para Orlando e o novo programa na Rede TV!.
Amaury Jr. - Desde que eu sai de Rio Preto a minha vida sempre foi ligada no 220. Eu acho empolgante. Quando você tem entusiasmo pelo projeto jamais se cansará. Quando a coisa não é interessante, a gente se cansa o tempo todo. Então, eu estou muito animado. Acho que esse "crossmedia" que nós vamos fazer de conteúdos - com comercial também porque é importante que o carro ande com gasolina, senão não tem jeito - vai dar muito certo. E eu sou muito intuitivo, sei que já deu certo. Você vai ouvir muito falar dessa história que estou criando na América.
V&A - E o seu novo programa na Rede TV!, já sabe qual será o formato?
Amaury Jr. - A gente está sempre procurando inovar. O programa tem quase 40 anos no ar, e isso significa que a gente já se reinventou várias vezes. Mas nunca abandonando o DNA do programa. O que é que o público mais gosta? As festas? Gosta. Até porque eu sobrevivi fazendo as festas. Mas sobrevivi porque eu não mostro o "fru-fru" das festas, o que também vale, eu reconheço - a base da coluna social de antigamente era escrever o que as mulheres vestiam, como era a decoração, mas isso tudo a televisão se incube de mostrar e falar. Vamos continuar com isso, sim, mas a gente está buscando uma nova ótica, um novo jeito de abordagem. Existe milhares de forma para você inovar. Por exemplo, viagens, que é uma coisa que meu público exige muito. A gente descobriu algumas formas inusitadas de se viajar, que é não privilegiando aspectos urbanos muito conhecidos em lugares que a gente vai. A gente busca identificar coisas novas. Fizemos uma recente viagem para Veneza. Qual brasileiro que me acompanha - porque eu me orgulho do meu público qualificado - que não tenha ida a Veneza? Todos foram. Agora, o que o sujeito que vai gravar em Veneza faz? Ele vai fazer as gôndolas, vai fazer as máscaras venezianas... A gente fez uma pesquisa maravilhosa, e o Ruy Castro, que é muito meu amigo, me ajudou nisso. A gente foi mostrar, por exemplo, uma coisa que todo mundo vê, mas nem sabe que está lá, que é o Caffè Quadri. Ele fica na Piazza San Marco. Stendhal (escritor francês) sentava ali e escrevia. Balzac tem a mesa dele conservada até hoje. Ali nasceu, provavelmente, a expressão "balzaquiana". Ali foi inventado o café espresso. Então, as pessoas vão visitar à Piazza San Marco, mas como não pesquisam, o Caffé Quadri acaba passando batido. E isso nem está em guia turístico. Em Veneza, outro passeio é visitar locações de filmes famosos que foram rodados lá. Há ainda a Ilha de São Miguel, a "ilha cemitério", em Murano, onde está enterrado Stravinsky (compositor russo). Inovar é isso. Eu já fui em vários cemitérios pelo mundo. Em Los Angeles, o Hollywood Forever está fazendo sessões de cinema atualmente. Por isso que as viagens minhas são tão aguardadas pelo telespectador. Eu acabei vendendo para o Netflix a minha permanência na Turquia, em Dubai, Cingapura, Japão e outros lugares. Ficou dois anos no catálogo deles.
V&A - E as redes sociais, você se considera uma pessoa conectada?
Amaury Jr. - Eu achava, no começo, que rede social, internet, era pastel de vento. Ledo engano meu. Entrei um pouco mais tarde, mas acho que estou acrescentando bastante com meus programas nas redes sociais. Eu tenho hoje um canal no Youtube com quase 150 mil inscritos - ganhei, inclusive, uma placa de reconhecimento do Youtube. Mas eu já devia ter 1 milhão, acontece que eu entrei muito atrasado. Meu Instagram tem hoje cerca de 157 mil seguidores. Eu tenho um blog no UOL, esse talvez seja o meu veículo de rede social mais importante. Eu tenho notícias que eu dou e tem 250 mil views em um dia. É importante? É importante. Mas, agora, você faz uma comparação com a televisão, em que 75 mil domicílios significam um ponto de audiência - vê quanto em um dia eu tenho de audiência em uma notícia que me dá 250 mil views. A Rede TV! é muito antenada nas redes sociais. Hoje, as pegadinhas do meu irmão João Kléber são vistas no mundo inteiro.
V&A - Com uma vida tão agitada, repleta de compromissos, o que você costuma fazer para relaxar? Ou não relaxa?
Amaury Jr. - Eu já fui muito mais ativo ainda. Esses projetos me bastam hoje. Eles estão do tamanho do meu entusiasmo. Eu já vivi bastante, tive uma vida muito ativa em Rio Preto. Fiz de tudo um pouco e me orgulho das coisas que fiz aqui. Eu aprendi muito com Rio Preto, que é uma cidade refinada, uma cidade que pensa direito, uma cidade viajada. Eu, por força do meu pai, que era filólogo, fui um cara que, no começo, era obrigado a ler, e hoje sou viciado em leitura. Rio Preto me deu tudo o que eu precisava. Acho que só consegui me colocar em São Paulo porque Rio Preto me deu uma base muito importante. Agora, relaxar é o que faço quando estou com os amigos. Daqui a pouco vou para uma festa do Betinho Brito, que é meu irmão, meu amigo. Eu vendi um milhão de CDs, e eu não canto, não toco nenhum instrumento e não componho nada. Só selecionando, eu vendi um milhão de CDs, são as trilhas dos meus programas. E o Betinho teve uma participação muito ativa nisso. Fizemos a quatro mãos, selecionando, essa vai, essa não. Vendi um milhão em uma época difícil. Eu relaxo assim. Depois de fazer uma grande reportagem, vem um remanso tão gostoso. O prazer, a satisfação. Isso me relaxa porque eu cumpri com meu dever.