Diário da Região
UM NOVO AMANHECER

Tertúlia Lusófona une artes plásticas e literatura em prol de Norma Vilar

Em comemoração aos seus seis anos de atividades, o projeto Tertúlia Lusófona une as artes plásticas e a literatura na sua primeira feira literária, que arrecada fundos para a reconstrução do Ateliê de Norma Vilar

por Salomão Boaventura
Publicado em 28/11/2023 às 22:39Atualizado em 29/11/2023 às 08:54
Samira Camargo, diretora da Tertúlia Lusófona, idealizou a feira literária para ajudar Norma Vilar (Victor Natureza/Divulgação)
Samira Camargo, diretora da Tertúlia Lusófona, idealizou a feira literária para ajudar Norma Vilar (Victor Natureza/Divulgação)
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Fogo e destruição foi o que se viu na noite de 19 de julho deste ano no incêndio que consumiu a Galeria de Artes da artista plástica Norma Vilar. No entanto, em meio às cinzas e ao caos, brotaram a esperança, a união e a resiliência. Como uma Fênix, Norma renasceu.

Por meio de diversas ações culturais promovidas por amigos, a artista reconstrói sua galeria gradativamente. Nesta semana, começa mais uma ação que leva arte, cultura e solidariedade ao Riopreto Shopping

Nas comemorações do sexto aniversário da Tertúlia Lusófona, Samira Camargo, presidente e fundadora do projeto, realiza uma feira literária para arredar fundos que serão revertidos para a reconstrução da Ateliê e Galeria de Artes Norma Vilar. O projeto Tertúlia Lusófona visa levar o idioma português para os filhos dos emigrantes dos países falantes da “última flor do Lácio, inculta e bela”.

“Quando houve o incêndio no Atelier da Norma Vilar, eu fiquei bem comovida, porque eu já tive escola. Sei o tanto que a pessoa emprega de si própria no negócio. Por mais que você faça a contabilidade em dinheiro do que perdeu, a contabilidade emocional de tudo que você passou para ser sucesso, não tem dinheiro que pague”, conta Samira.

A Feira

Samira conta que a Primeira Feira Literária da Tertúlia Lusófona reúne livros novos doados por editoras de Rio Preto, exposição de obras inéditas de Norma Vilar, atividades informativas e formativas, além de esculturas que Norma recolheu após o incêndio e as repaginou.

“São 500 livros novos, doados pela editora Grupo HN, de João Paulo Vani; pela editora Ponto Z, de Edmilson Zanettti, pela THS Editora, de Lelé Arantes e por amigos escritores. Também reunimos obras inéditas da série ‘Dentro de Mim’, além de 10 peças recolhidas das cinzas que nas mãos da Norma Vilar se transformaram em obras de arte”, ressalta Samira.

Durante a feira, todas as noites, Norma Vilar estará criando telas e esculturas. Os visitantes da feira poderão interagir com a artista. “Acho muito saudável levar o observador para o universo do artista, ele ficar mais próximo do artista. A ideia é ter interação com quem pinta, com quem tem curiosidade, essa é uma oportunidade de fazer consultorias”, diz Norma Vilar.

A diretora da Tertúlia Lusófona explica que a feira segue até 7 de dezembro. “O incêndio deixou rastro e deu oportunidade ao fogo de bailar entre as obras de arte do Ateliê e Galeria da Norma Vilar. Ao queimar grande parte do acervo e da construção, o fogo iluminou novas oportunidades. Esta feira é uma oportunidade de iluminação que a Tertúlia Lusófona teve em unir os escritores, por meio de doações de editoras da nossa cidade e de muitos escritores. Eles doaram livros para um novo amanhecer surgir, trazendo cura para as cicatrizes deixadas na alma da Norma Vilar e das almas das pessoas que testemunharam o incêndio”, finaliza Samira.

‘Eu vou renascer das cinzas, como a Fênix’

Telas abstratas da mostra nas quais é possível ver o surgimento da Fênix (Victor Natureza/Divulgação)
Telas abstratas da mostra nas quais é possível ver o surgimento da Fênix (Victor Natureza/Divulgação)

Quem acompanha a carreira de Norma Vilar ficou chocado com o incêndio e com a perda de grande parte do seu acervo. Norma, porém, manteve a serenidade durante todo esse tempo e, por meio de seu dom, ressignificou o fato e transformou as cinzas em arte, literalmente.

“Esses trabalhos são muito fortes para mim. Apesar da paleta de cores ser tão suave, serena, as obras são muito profundas. Eu usei como pigmento para pintura dos quadros as cinzas e o carvão do próprio incêndio. Em algumas obras, eu usei como suporte de expressão madeiras que resistiram ao fogo”, conta a artista plástica.

Norma conta que recebeu muita ajuda durante a limpeza da galeria, de onde foram retiradas cerca de 30 caçambas de entulho. Até mesmo o pó do café, servido durante o mutirão se tornou arte.

“A gente servia muito café para as pessoas que estavam lá ajudando. Eu fui guardando o pó do café e eu desenvolvi uma obra usando esse pó. Então, isso é muito especial; essa série 'Dentro de Mim' representa o que eu vejo, o que eu sinto, o que senti”, ressalta.

A artista conta que aconteceu uma curiosidade interessante em relação às obras abstratas dessa exposição. “O fogo formou desenhos nas paredes, desenhos impressionantes. Então, foi inspirada nos desenhos do fogo que criei as obras abstratas. Eu me recordo que durante as entrevistas no dia incêndio, eu falei de uma forma muito espontânea que eu vou renascer das cinzas, como a Fênix, e nos abstratos a Fênix surge”, comenta.

“Isso tudo é uma ressignificação. Olhando de uma forma positiva, serena, leve e sempre pensando que o principal ficou dentro de mim, o qual é o dom que Deus me deu, meu conhecimento, minha sabedoria, a valorização da amizade, o envolvimento das pessoas e a compaixão do ser humano”, conclui Norma. (SB)