Diário da Região
ENTREVISTA

Aguinaldo Gonçalves promove novo encontro de estudos em Buritama

Semioticista, poeta e ensaísta promoverá neste sábado um encontro que vai abordar questões concernentes ao signo poético; confira a entrevista

por Patrícia Reis Buzzini
Publicado em 02/12/2021 às 19:46Atualizado em 03/12/2021 às 09:02
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Aguinaldo Gonçalves promove encontro em Buritama, sua cidade natal (Divulgação)
Aguinaldo Gonçalves promove encontro em Buritama, sua cidade natal (Divulgação)
Prédio do Acervo e Pinacoteca ‘Prof. Dr. Aguinaldo Gonçalves’, que recebeu a doação de mais de 3 mil títulos e cerca de 50 telas do acervo de Gonçalves (Divulgação)
Prédio do Acervo e Pinacoteca ‘Prof. Dr. Aguinaldo Gonçalves’, que recebeu a doação de mais de 3 mil títulos e cerca de 50 telas do acervo de Gonçalves (Divulgação)
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Neste sábado, 4, o semioticista, poeta e ensaísta Aguinaldo Gonçalves reúne escritores, poetas, artistas e convidados para o Encontro de Semiótica Poética - Questões Concernentes ao Signo Poético. O evento será realizado no Acervo e Pinacoteca “Prof. Dr. Aguinaldo Gonçalves”, que faz parte do Centro Cultural “Graciliano Ramos”, em Buritama.

Este é mais um evento promovido pelo estudioso. No dia 30 de outubro, por exemplo, ele promoveu o 1º Encontro de Estudos de Semiótica Plástica, cujo objetivo foi compartilhar experiências e reflexões acerca da pintura enquanto linguagem. O evento foi palco de importantes reflexões.

Confira a entrevista de Gonçalves sobre o novo encontro.

Diário da Região - O que é poesia, na sua opinião?

Aguinaldo Gonçalves - A poesia é uma arte incontestavelmente grandiosa, elevada por grandes pensadores como Hegel e Heidegger, que consiste nesse moto perpétuo e nessa forma avassaladora de construção do signo linguístico que passa a ser elevado ao signo poético. O interessante da poesia, conforme afirma Humberto Eco, é que ela é composta pelo código simples, e se eleva da condição de signo comum (Saussure) para se transformar em signo motivado. Importante destacar essa questão da transformação do signo verbal, na qual as palavras adquirem uma profusão sensorial intensa, pois o plano de expressão se eleva ao plano do conteúdo e realiza, assim, o encantamento.

Diário - Quais foram as motivações para a escolha do poema “Vaso Grego”, do poeta parnasiano Alberto Oliveira, para iniciar o encontro?

Aguinaldo - Torna-se difícil explicar, é uma longa história. Não se trata de uma escolha ideológica e não traz aquelas máculas deixadas pela tradição em relação à poesia parnasiana. Foi uma decisão poético-estética, pois poderia ser qualquer outro poema, de qualquer tempo, que tivesse o mesmo efeito. “Vaso grego” é uma alegoria poética, e como tal é perfeita no meu modo de compreender poesia. É um poema extremamente modulado, em que todos os seus requintes poéticos se ressaltam, um soneto interessantíssimo, cujas causas serão desvendadas ao público que estará presente (Vai ser a minha surpresa!). Apesar de ser um poema do séc. XIX, trata-se de um poema fantástico, muito bem construído, que consegue engendrar de maneira feliz a história da poesia. É uma homenagem para ilustrar nossas reflexões sobre poesia e invenção. As minudências da linguagem serão expostas nesse encontro de sábado.

Diário - Acredita-se que os autores parnasianos faziam a chamada "arte pela arte", por afirmarem que a arte devia existir por si só, e não por subterfúgios. O senhor concorda com essa ideia?

Aguinaldo - Existe um pouco de folclore em torno da poesia parnasiana. Ela aconteceu no final do século XIX no Brasil e na França. No Brasil, destacaram-se poetas como Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia. E pelo perfil da lírica desses poetas, na sua forma objetiva, descritiva e detalhada de criar, surgiu uma espécie de obsessão. Acredito que, diante da poesia, não se pode exaltar uma forma em detrimento de outra, porque as formas de composição poética são dialéticas. É dito que o Parnasianismo defendeu a “arte pela arte”, mas não nos cabe aqui refletir sobre esse tema a partir de um tempo passado. É preciso entender o que o Parnasianismo defendia naquele momento: falava-se do peso exageradamente metafórico e simbólico que acontecia no romantismo, o que acabou criando um fosso de coisas externas e relações analógicas entre a poesia e o mundo. Nesse sentido, o Parnasianismo salvou a palavra, ampliou a consciência da poesia posta em questão. Em alguns casos, esse processo de evolução ficou isento demais, é verdade, partindo para uma objetividade estranha. Toda escola tem os seus prejuízos. Contudo, cabe destacar que o Parnasianismo levou ao nascimento de uma concepção de poesia meta linguística, a um voltar da arte para os seus próprios atributos estéticos, à poesia que se aponta com o próprio dedo.

Diário - Após a leitura do poema “Vaso Grego”, o público poderá assistir a uma performance músico-poética. Qual foi o papel desempenhado pela música e pela oralidade no surgimento da poesia como a conhecemos hoje?

Aguinaldo - Poesia e música sempre estiveram unidas desde a Antiguidade, desde a sua origem, estando integrada a lira ao canto, pois o entoar é fundamental quando nos volvemos à estrutura da poesia. A poesia começou como música. O simbolismo francês tem na música a sua abstração maior e a sonoridade da poesia traz em si o âmago musical, por mais que não consideremos musical determinados versos, ele é engendrado por uma forma de composição musical por meio das figuras de som nas relações entre som e sentido. A assonância é muito musical, assim como a aliteração e a paronomásia. A presença da música é indescritível na forma do poema, a materialização do som no corpo do poema e a abstração do som são marcas que ecoam da alma.

Diário - No encontro, sabe-se que haverá a participação de alguns poetas locais. Qual é a relevância da poesia contemporânea?

Aguinaldo - São muitas vertentes apresentadas pela poesia contemporânea, ou poesia do hoje, do nosso tempo, mas é importante lembrar que esse evento será marcadamente contemporâneo, pois alguns poetas apresentação poesias independente do estilo, haverá vozes diferentes, o que é o ponto chave do evento, determinando assim essa forma de poesia. Qual é a relevância da poesia contemporânea? Não há resposta. Em qualquer tempo, houve relevância, pois ela tem asas, vertentes, fluxos e contra fluxos. Ter a resposta seria grave, não dá para colocar a poesia contemporânea em uma caixinha de vidro, ela ficaria blindada, o que não pode acontecer. No evento de sábado, alguns poetas farão declamações de forma presencial e outros em áudios e vídeos. Fiz de tudo para reunir o máximo de poetas locais, mas peço desculpas por não ter atingido a todos. Espero que essa influência seja grande, para que a poesia cumpra o que já dizia Carlos Drummond de Andrade, em seu Poema de sete faces: “Quando eu nasci, um anjo torto/ desses que vivem na sombra/ disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida”. É essa a função maior do poeta.

Diário - O Projeto “Poesia na Cidade”, da revista Bem-Estar do Diário da Região, tem contribuído para o fomento e a divulgação da escrita poética local. Pela primeira vez, a poesia foi protagonista de uma exposição em um dos centros comerciais mais tradicionais da cidade. Sendo professor e vencedor da primeira edição do projeto, como o senhor avalia esse tipo de iniciativa?

Aguinaldo - As iniciativas são louváveis, eu mesmo fiquei muito feliz com a minha premiação. É interessante a sensação do autor quando ele é escolhido, parece que a gente recebe um lugar ao sol, de destaque. Espero que essas formas de estímulo continuem a se desenvolver bastante!

Diário - O senhor tem novos projetos para o Acervo Cultural?

Aguinaldo - Penso que esse Centro Cultural que leva o meu nome, em Buritama, está ganhando ritmo e intensidade, e sobretudo o respeito das pessoas. Vários eventos já foram realizados, mas pretendo retomar novos projetos em 2022. Agradeço a todos que me apoiaram até o momento e espero continuar contando com essa ajuda, pois como já dizia Drummond: “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”.

Programação

Encontro de Semiótica Poética - Questões Concernentes ao Signo Poético. Neste sábado, a partir das 9h, no Acervo e Pinacoteca “Prof. Dr. Aguinaldo Gonçalves”.

 

9h

Abertura: leitura do poeta decano Aguinaldo Gonçalves: leitura do poema “Vaso Grego”, de Alberto Oliveira. A leitura traz o objetivo de apresentar o núcleo das vozes poéticas que dominarão a nossa manhã. Haverá uma elucidação a respeito das vozes poéticas.

Após a leitura: performance músico-poética de João Liossi e Aguinaldo Gonçalves: presente lírico para a nossa manhã

 

10h30

Intervalo até 10h45

 

10h45

Representações poéticas:

  • 1. Simone Homem de Melo
  • 2. Tito Damazo
  • 3. Lucila Papacosta Conte
  • 4. Patrícia Reis Buzzini
  • 5. Priscila Topdjian
  • 6. Alex Dias - leitura de poema próprio e reflexão sobre Galáxias de Haroldo de Campos e a Utopia e Distopia hoje
  • 7. Sidnei Olivio
  • 8. Luiz Claudio Tonchis
  • 9. Fernando Saves, lerá poemas de Orlando Amorim e Pablo Simpson
  • 10. Rosalie Gallo – fala sobre o Nósside
  • 11. Loreni F. Gutierrez
  • 12. Arnaldo Antunes - Áudio/Vídeo
  • 13. Aguinaldo Gonçalves / Fernando Saves - poema Jardim da resistência, do livro Crespos Jardins
  • 14. Marcos Siscar – áudio
  • 15. Marcelo Tápia - áudio, poema e reflexão crítica
  • 16. Susana Bussato - áudio/vídeo
  • 17. Frederico Barbosa - áudio/vídeo

 

13h

Encerramento/agradecimentos: Aguinaldo Gonçalves