Diário da Região
ENTREVISTA

Alceu Valença, que se apresenta em Rio Preto, fala sobre o amor pelo palco

Show acontece no dia 2 de agosto, às 20h, no Espaço Show do Centro Cultural Sesi — noite marcada para ser vivida com os sentidos em festa e o coração em estado de poesia

por Salomão Boaventura
Publicado em 26/07/2025 às 10:52Atualizado há 9 horas
Alceu Valença, com a alma carregada de vento e verso, leva seu Brasil encantado ao palco do Sesi Rio Preto (Leo Aversa/Divulgação)
Alceu Valença, com a alma carregada de vento e verso, leva seu Brasil encantado ao palco do Sesi Rio Preto (Leo Aversa/Divulgação)
Ouvir matéria

Na bruma leve das paixões que vêm de dentro, Alceu Valença se aproxima de Rio Preto para um encontro gratuito e inesquecível com o público. O show acontece no dia 2 de agosto, às 20h, no Espaço Show do Centro Cultural Sesi — noite marcada para ser vivida com os sentidos em festa e o coração em estado de poesia.

Os ingressos, que são gratuitos, precisam ser reservados com antecedência. Para quem tem credencial do Sesi, os ingressos já estão liberados. Para o público em geral, a liberação acontece nesta segunda, dia 28, a partir das 10h, pelo site do Sesi, no menu “Meu Sesi”. A expectativa é grande, e a procura deve ser intensa. Quem quiser sonhar acordado ao som de “Anunciação”, “Tropicana”, “Coração Bobo” e tantos outros hinos, é bom ficar atento ao horário para acessar o site com agilidade.

Enquanto a cidade se prepara para cantar em coro, Alceu conversou com o Diário sobre sua música, sua estrada e o elo que o une a gerações de fãs. Confira:

 

Diário da Região - Alceu, depois de tantos discos, palcos, carnavais... o que ainda te dá aquele friozinho na barriga antes de um show?

Alceu Valença - Friozinho na barriga? De jeito nenhum. Nunca tive friozinho na barriga, porque para mim o palco é uma alegria. Eu adoro estar no palco. Se eu pudesse, podia estar o dia todinho no palco (risos).

 

Diário - O que o público de Rio Preto pode esperar desse encontro? Vai ter aquele frevo rasgado, poesia, amor e bruma no ar?

Alceu - Nesse show não tem frevo. Eu faço vários tipos de shows e se Rio Preto ou alguém quiser me contratar para eu ir fazer um show de Carnaval, eu faço; se for para querer fazer um show de São João, eu faço, mas agora não está em nenhuma dessas épocas. “Alceu Dispor” é um outro show, onde tem os sucessos de minha carreira e outras músicas que entram na grade, tudo muito bem ensaiado. Esse show vou fazer também, por exemplo, em Rezende, em Curitiba, mas essa não é hora nem de Carnaval, nem de São João (risos).

 

Diário - Vamos ter, por exemplo, Anunciação, Tropicana…

Alceu - Essas daí tem, essas músicas icônicas vão estar dentro do show e tem outras, que eu deixo para depois as pessoas curtirem. Tem “Coração Bobo”, “Solidão”, “Flor de Tangerina”, “Girassol”, todas estão nesse show.

Diário - Suas músicas sempre carregam imagens fortes, como se fossem filmes sonoros. Quando você compõe, as imagens vêm antes da melodia ou tudo brota junto?

Alceu - A composição vem como um surto, ela vem como um sonho, a composição entra, não é uma coisa. As composições minhas não são racionais, não, elas vêm de dentro da alma, vamos dizer, é muito mais do coração do que da razão.

 

Diário - Tem alguma música sua que, com o tempo, foi ganhando outro sentido? Que hoje toca diferente em você?

Alceu - Quando elas são feitas em cima de lembranças e tal, são as mesmas lembranças que vão bater em mim, né? Mais ou menos as mesmas lembranças. “De uma moça bonita de olhar agateado”, foi em Olinda, no Carnaval. Se você ver a música “Coração Bobo”, ela foi composta num petit appartement, num pequeno apartamento, né, na Avenue des Gobelins, em Paris. E foi uma música que eu fiz me lembrando de Jackson do Pandeiro, que foi um artista maravilhoso, que eu viajei com ele pelo Brasil. Então, “Coração Bobo” é dedicada a ele. Na época que fiz “Tropicana”, eu estava namorando uma loirinha (risos). “La Belle de Jour” é lembrança de duas musas inspiradoras, uma da praia de Boa Viagem, morava lá e foi para Paris fazer balé, e outra foi Jacqueline Bisset, uma grande e linda atriz inglesa que era fazia muitos filmes na França. É assim.

Diário - “Anunciação”, como foi?

Alceu - “Anunciação” eu fiz após um show em um ginásio lá do Rio Grande do Sul, o Gigantinho. Um rapaz me ofereceu uma flauta, para poder vender, era um cabeludo, meio doidão, e eu comprei uma flauta transversa. Voltei para Olinda - eu moro entre Olinda, Recife e Lisboa; Lisboa há uns 15 anos atrás. Pois bem, eu levei minha flauta para Olinda, comecei a aprender a tocar a flauta sozinho, uma flauta transversa. Um dia, eu comecei a improvisar uma melodia dentro de casa. Naquela época não tinha celular (era tão bom) e aí eu saí para a rua, eu brincava carnaval todinho, ninguém incomodava, a não ser quando era para pedir um autógrafo em um disco, mas as pessoas não andavam com um isso na mão. Hoje em dia, não dá para botar o pé na rua, mas tudo bem. Mas aí, eu saí de casa, comecei a tocar no meio da rua, entrei à esquerda pela Rua São Bento, passei pela prefeitura, cheguei no pátio do Mosteiro de São Bento, tocando, tocando, voltei por detrás da minha casa, entrei pelo quintal, vi as roupas quarando no varal e, de repente, uma moça que estava lá em cima no terraço, falou: “Ó, que coisa mais linda essa música”. Eu perguntei: “Que música?” “Essa você tá tocando”. “Ó, essa, ah, é?” Pronto. Daí em diante, eu entrei em casa, peguei um papel de pão, aquele papel de embrulho de pão, peguei o lápis que estava lá e compus. Escrevi a letra na hora, tudinho, tudinho, tudinho, tudinho. Foi isso aí, a história da música é essa. Agora, por detrás dela, também tem metáforas, tem coisas que a gente pode analisar, mas eu não componho de maneira racional, não, certo? Ah, vou fazer isso, vou fazer aquilo, não. Eu estou me lembrando do que aconteceu, o que me inspirou a compor isso. Aí, nessa tem até um sentido, porque eu passei pelo quintal da casa.

 

Diário - Se você encontrasse aquele Alceu do comecinho de tudo, o que você diria pra ele?

Alceu - Essa é arretada. Eu tenho saudade de você, era tão bom eu ser você antigamente. Eu tomava uma cervejinha, coisa que eu não faço mais, tomava um vinhozinho, coisa que eu não faço mais. Queria morar em Paris, que agora eu não quero mais morar lá, mas morei lá. Se eu voltasse no tempo, queria ser aquele garoto do tempo São Bento. Mas a gente pode voltar através da imaginação. Sou uma pessoa que vejo o tempo numa triplicidade: presente, passado, futuro, tudo ao mesmo tempo. Eu vivo na embolada do tempo.

 

Diário - E hoje, o que te emociona? O que te faz parar e pensar: “isso vale uma música”?

Alceu - Não posso falar isso que vale uma música. Na hora que vier uma coisa que me inspira, aí eu faço, mas não adianta eu racionalizar uma coisa que para mim não é racional.

 

Diário – Um recado para seus fãs de Rio Preto.

Alceu - Eu tenho um parente que morou aí, viu? A família Paiva. Era o irmão de meu avô Adalberto que foi morar nessa região aí de São José do Rio Preto. Um abraço bem grande para vocês. Vamos levando esse show e vou estar à sua disposição: “Alceu Dispor”, com o repertório muito bacana. Esse show que a gente está fazendo é o show que eu já fiz duas turnês na Europa com ele e que agora vamos fazendo por aqui também. Abraço, bem grande para todo mundo de São José do Rio Preto.Tudo de bom!