‘OUTROS NAVIOS’ revisita histórias negras em circulação pelo interior paulista
Espetáculo une dança, performance e artes visuais em viagens por Ubarana, Itu e Matão, com sessões gratuitas

As danças que lembram, reinventam e insistem na vida atravessam o Mês da Consciência Negra pelo interior paulista. Em “OUTROS NAVIOS: danças para não morrer”, quatro artistas transformam suas próprias memórias negras — feridas, encontros, deslocamentos — em movimento. Uma obra que navega entre mundos, entre o que foi e o que ainda pode ser, para afirmar a existência como resistência.
Criada por Mayk Ricardo, de Rio Preto, a montagem combina dança, performance, música e artes visuais. O artista assina direção, concepção e coreografia, além de dividir o palco com Carol Cof, David Balt e Diego Neves. Da experiência individual de cada intérprete nasce um gesto coletivo de reconstrução, marcado pela vontade de imaginar futuros mais largos.
A circulação de novembro passa por três cidades. Ubarana recebe a primeira sessão nesta quarta-feira, 19, às 19h, na Praça da Matriz, dentro da 2ª Festa da Consciência Negra promovida pela prefeitura municipal. Em seguida, o trabalho chega a Itu, na sexta-feira, 21, também às 19h, no Museu Fama, como parte da programação da Semana da Consciência Negra organizada pela Prefeitura local. Matão fecha o roteiro no sábado, 29, às 10h, no campus do IFSP.
Antes dessa última apresentação, na sexta-feira, 28, das 14h às 16h, o próprio Mayk ministra o laboratório investigativo “Estudos afetivos para mover a corpa”, voltado ao público a partir dos 16 anos, com inscrições presenciais. Todas as atividades são gratuitas, com recursos de acessibilidade em Libras e audiodescrição.
As ações integram o projeto “OUTROS NAVIOS: circulação para novos mundos”, contemplado pelo Edital Fomento CULTSP - PNAB nº. 27/2024, voltado à difusão de projetos culturais. Além das apresentações e formações, o projeto prevê a produção de um vídeo documental. A circulação já passou por Rio Preto, durante o FIT, em julho; pelo Festival de Teatro de Araçatuba, em setembro; e pelo Festival Nacional de Teatro de Jales, em outubro. Em 14 de dezembro, o trabalho chega a Franca.
O espetáculo nasceu em 2023, a convite do Sesc Rio Preto, para integrar a exposição “OUTROS NAVIOS: fotografias de Eustáquio Neves”. A performance se constrói em diálogo direto com o imaginário visual do fotógrafo mineiro, marcado por memória, apagamento, deslocamento e sobrevivência.
As imagens aparecem nos corpos dos intérpretes e também no videomapping e nas projeções que compõem a dramaturgia. “Utilizamos a arte como estratégia de contra-ataque e prática de autodefesa para reconstruir nossas identidades, territórios e pertencimento; valorizando a ancestralidade, as afetividades e as singularidades”, diz Mayk Ricardo.
No centro da criação, o afeto e a alegria se tornam escolhas éticas, políticas e coreográficas frente às opressões. Na parte final da obra, a cena se expande: uma discotecagem ao vivo, assinada pelo DJ Taroba, convida o público a ocupar o espaço, dançar e celebrar. A festa não funciona como alívio, mas como gesto político — uma afirmação de vida diante da pulsão de morte e da potência dos corpos negros enquanto criadores de mundos.