Diário da Região
JORNADA DA VIDA

Transporte de órgãos e até transferência de pacientes com Covid-19: os voos que salvam vidas

Na segunda reportagem da série especial, Diário mostra como aeroporto de Rio Preto ajuda a salvar vidas

por Rone Carvalho
Publicado em 24/07/2021 às 17:46Atualizado em 24/07/2021 às 20:59
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Quatro horas. Esse era o tempo máximo para que um pulmão fosse transportado de São Paulo para Rio Preto para salvar a vida de Nivaldo Fernandes de Almeida, morador de Catanduva, de 58 anos. Na corrida contra o tempo, foi o transporte aéreo que ajudou o aposentado a voltar a respirar, sem ter colado consigo um cilindro de oxigênio. Quando acordou no quarto do Hospital de Base, no dia 8 de setembro de 2019, ele se deu conta que estava diante de um novo início. Era uma nova oportunidade de aproveitar a família.

Na segunda reportagem da série especial “Jornada da vida”, o Diário mostra como o aeroporto de Rio Preto funciona como base para salvar vidas no interior de São Paulo. São voos que levam órgãos e esperança. “Tenho muita gratidão a todos. Antes eu não podia andar de moto, nem sair de casa, porque tinha que carregar o cilindro de oxigênio. Aquele homem que não andava nem cinco metros sem oxigênio, hoje, corre seis quilômetros sem nada”, diz Almeida, que recebeu um novo pulmão em 2019.

Nivaldo entrou na fila do transplante, em março de 2019, mas sua história de dificuldades de respiração começou muito antes. Foi em 2005, que o ex-tabagista foi parar na UTI pela primeira vez. Começava ali a luta para voltar a ter uma vida normal, mas que se estendeu por 14 anos até receber um novo pulmão transplantado de um adolescente que morreu na capital.

“Naquela época não existia o transplante de pulmão na região. Fui fazendo diversos tratamentos para tentar melhorar minha oxigenação. Foi quando minha médica falou que o HB tinha começado a fazer transplantes. Lembro que entrei na fila, em março de 2019, e meses depois, exatamente no dia 7 de setembro, me falaram que tinha um pulmão compatível com minha caixa torácica”, relembra.

Para vir da capital para Rio Preto, um avião foi utilizado para o transporte do novo pulmão de Nivaldo. E dados do Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp) revelam que houve um aumento do número de aeronaves médicas embarcando e desembarcando no aeroporto de Rio Preto durante a pandemia da Covid-19. Em 2019, 61 aeromédicos passaram pelo aeroporto. Em contrapartida, no ano passado, esse número saltou para 154. Um aumento de 152%. Neste ano, de janeiro a junho, 95 aeromédicos já pousaram ou decolaram na pista rio-pretense.

Segundo o coordenador da procura de órgãos do Hospital de Base de Rio Preto, João Fernando Picollo, transplantes de coração e pulmão somente são possíveis graças ao transporte aéreo. “São órgãos que não podem ter atraso no transporte, pois resistem apenas quatro horas fora do corpo humano. Por isso, da importância do setor de transportes para salvar vidas”, explicou.

Em Rio Preto, dos aproximadamente 2,8 mil transplantes realizados no Hospital de Base nos últimos dez anos, 30% deles contaram com ajuda da aviação para acontecer.  “São órgãos que necessitam de rapidez e agilidade para serem transportados”, destacou Picollo.

Além de aviões fretados e até o helicóptero Águia da Polícia Militar, aeronaves comerciais também são utilizadas no transporte de órgãos. Um levantamento da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear) aponta que a aviação comercial realiza mais de 80% dos transportes por via aérea para transplantes do Brasil. A cada ano, cerca de 9 mil órgãos e tecidos doados chegam a tempo aos pacientes graças à agilidade da aviação.

“A grande vantagem da aviação é a velocidade. Ela consegue levar pessoas ou carga com rapidez e isso faz total diferença. Na pandemia, isso ficou ainda mais evidente, com hospitais lotados em regiões do País, foi graças ao apoio da aviação que pacientes lá do Norte foram transferidos para hospitais do Sudeste. Sem contar na parceria que empresas aéreas fizeram para transportar profissionais de saúde gratuitamente para regiões que necessitavam de mão de obra”, destacou o diretor de segurança e operações de voo da Abear, Ruy Amparo.

 

Águia

Além dos aviões, o helicóptero Águia da Polícia Militar também ajuda no transporte de órgãos. A base de Rio Preto é composta por quatro pilotos e 18 tripulantes operacionais, que se revezam em quatro turnos de 12 horas. “Geralmente, somos acionados para o transporte de órgãos através dos bombeiros. Levamos a equipe médica daqui ao local para pegar o órgão e depois trazemos a equipe junto o órgão para ser realizada a cirurgia”, disse a tenente e piloto Daniela Pereira Ramos.

Em dez anos, a equipe ajudou a salvar 12 vidas. A última operação foi do pequeno morador de Presidente Venceslau Vitor Ribas da Silva, de 6 anos, que estava internado no Hospital da Criança e Maternidade (HCM), de Rio Preto, aguardando por um novo coração. Graças à solidariedade de uma família de Ribeirão Preto, médicos e da equipe de aviação da PM de Rio Preto, o garotinho ganhou um novo coração no último dia 21 de fevereiro.

“A gente fica muito feliz por poder ajudar. Utilizamos o transporte para minimizar o tempo e conseguimos agregar a um serviço público de qualidade. É um trabalho em conjunto”, afirma o enfermeiro e tripulante de bordo Ednelson dos Santos, que há 23 anos atua na aviação da Polícia Militar de São Paulo.

Para quem foi salvo com ajuda da aviação. O sentimento é de gratidão e que tudo pode ser possível. “A todos, o meu muito obrigado”, agradeceu o morador de Catanduva, Nivaldo.