Seguindo estrelas
De Rio Preto ao infinito, os apaixonados pelo céu transformam a astronomia em paixão e missão; ajudam a popularizar a ciência e a despertar o interesse de gerações por galáxias, nebulosas e planetas

Enquanto a maioria dorme, há quem olhe para o alto em busca de galáxias, nebulosas e planetas. Em Rio Preto, a astronomia, que mistura ciência, curiosidade e contemplação, mexe com um grupo de entusiastas que dedica madrugadas inteiras a observar o universo. São os astrônomos amadores e profissionais, apaixonados que, mesmo sem vínculos acadêmicos, ajudam a popularizar a ciência e despertar o interesse de novas gerações.
Um desses apaixonados é o farmacêutico Jefferson Mazzoni, 36 anos, Um astrônomo amador desde a infância. Aos 11 anos, comprou o primeiro telescópio e nunca mais deixou de mirar o céu.
“Comecei a gostar de astronomia ainda criança. Com o tempo, fui aprimorando o equipamento, primeiro um telescópio simples, depois câmeras e modelos mais avançados”, conta.
Principalmente durante o inverno, quando o céu fica mais limpo no hemisfério sul, Jefferson aproveita as noites frias para registrar imagens que impressionam.
De seu quintal em Rio Preto, ele já fotografou nebulosas, conjunções planetárias e crateras lunares. Descobertas científicas, ele admite, são raras — mas o prazer de observar o cosmos não depende disso.
“Com equipamentos amadores, é difícil fazer descobertas relevantes, mas o registro fotográfico e o aprendizado já são uma recompensa enorme”, afirma.
Já o astrônomo e físico Alexandre Neves tem mais de 25 anos de observação das estrelas e corpos coletes. O professor ajudou a consolidar projetos e espaços de observação em Rio Preto e região. Ele foi responsável por cursos e oficinas que introduziram centenas de pessoas ao universo da astronomia prática.
“A astronomia sempre chama a atenção do público, especialmente das crianças. Muitas se encantam e acabam virando astrônomos amadores — e isso é maravilhoso, porque elas começam a mapear o céu e contribuir com observações para a comunidade científica”, explica.
Segundo Alexandre, a astronomia amadora é essencial para complementar o trabalho dos grandes observatórios. “Astrônomo amador não é alguém que não saiba astronomia. É quem trabalha com paixão, mesmo sem a formação acadêmica. E muitos acabam contribuindo com dados e medições importantes”, diz.
Ele lamenta, porém, o enfraquecimento dos espaços públicos de observação, como o antigo observatório de astronomia da prefeitura, que funcionou até 2015 em parceria com a Unesp, no Complexo Integrado de Educação, Ciência e Cultura “Dr. Aziz Ab’ Saber”.
“Era um projeto tripartite que ganhou reconhecimento nacional. Tínhamos sessões semanais de observação e um planetário ativo. Mas, quando o apoio institucional acaba, essas iniciativas se perdem”, lembra.
Mesmo com os obstáculos, Alexandre segue lecionando e incentivando novos olhares para o cosmos. “Dá pra observar o céu, sim, mas o ideal é se afastar um pouco da cidade. A poluição luminosa atrapalha bastante, mas a curiosidade sempre vence”, completa.
OBSERVAR E ENTENDER
O astrônomo amador Renato Cássio Poltronieri, co-fundador da Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon), é um dos veteranos na região de Rio Preto.
Com mais de duas décadas dedicadas à astronomia amadora, o paulista de Nhandeara se tornou uma figura conhecida entre os entusiastas da região. Foi ele quem incentivou e ensinou novos nomes a iniciarem na observação astronômica.
“A primeira coisa é gostar de observar o céu. Aprender a reconhecer constelações, entender meteorologia, saber o que está vendo. O telescópio é importante, mas o principal é estudar e ter paciência”, ensina.
Renato conta que o acesso aos equipamentos ficou mais fácil nos últimos anos, com telescópios de R$ 2 mil a R$ 3 mil, valores bem mais baixos dos que eram praticados há duas décadas.
Mas Renato, também critica o excesso de “astrônomos de internet”, que buscam fama em vez de aprendizado.
“Tem gente que nunca olhou por um telescópio e se diz astrônomo nas redes. Astronomia é dedicação, é sair à noite para ensinar e compartilhar”, defende. (MAS)
Restaurando o Planetário
Um grupo de astrônomos amadores está devolvendo vida ao Planetário Municipal, instalado no Complexo Integrado de Educação, Ciência e Cultura (Ciecc) de Rio Preto. Fechado desde o início da pandemia, o espaço passa por um processo de recuperação liderado por seis voluntários apaixonados pela astronomia.
Com autorização da Secretaria Municipal de Educação, o grupo tem dedicado noites e fins de semana à restauração dos sete telescópios do Planetário. Dois deles — um de 16 polegadas e outro de 10 — já foram totalmente recuperados.
O engenheiro civil Otávio Rodrigues Kozyrski, um dos integrantes da equipe, destacou o caráter comunitário da iniciativa. “Todos amam o Ciecc, todos querem ajudar. Fizemos até uma vaquinha virtual para comprar uma peça que faltava para consertar um dos telescópios. Tivemos de mandar trazer dos Estados Unidos”, contou, elogiando a atual gestão por permitir a colaboração dos voluntários.
A mobilização reúne membros de grupos de astronomia do Sesc Rio Preto e do Ibilce, além de doadores de outras cidades que têm contribuído com recursos e peças para a manutenção dos equipamentos.
Entre os voluntários está o médico Nelson Falsarella, um dos incentivadores da criação do Planetário, inaugurado em 2008.
A reabertura está prevista para o fim do ano. A secretaria aguarda a aquisição de um software para colocar em operação os telescópios de maior porte. Num primeiro momento, o espaço voltará a receber estudantes em excursões escolares voltadas à observação astronômica e à educação científica. (MAS)
Onde observar o céu ‘de graça’
O Sesc Rio Preto oferece periodicamente espaço para observação astronômica. O próximo está marcado para 2 de dezembro, das 19h30 às 21h30, para observação da Lua Crescente, próximo da área externa da Cafeteria.
O espaço é aberto a todos os públicos, inclusive para quem não tem a carteirinha do Sesc. A orientação é feita pelo educador Fernando Masquio, educador em Tecnologias e Artes do Sesc.
Outro espaço seria o Planetário Municipal, mantido pela Secretaria Municipal de Educação, mas que está em reparo desde 2020. Um grupo de astrônomos amadores têm autuado de forma voluntária na recuperação dos equipamentos. (MAS)
O que observar na astronomia
Eclipses
Ocorrem quando um corpo celeste bloqueia a luz de outro.
Eclipse solar
Eclipse lunar
Chuvas de meteoros
Fases da Lua
Conjunções planetárias
Via Láctea
Cometas
Dicas para observação astronômica
Fuja da poluição luminosa, prefira locais afastados das luzes da cidade, que oferecem uma visibilidade muito melhor.
Consulte sites de astronomia ou aplicativos para saber as datas e horários de picos de chuvas de meteoros, eclipses e outros eventos.
Use aplicativos de astronomia para celular ajudam a identificar constelações e planetas, facilitando a observação.
Seja paciente, porque os eventos celestes pedem tempo e dedicação para adaptação da visão à escuridão.
Verifique a previsão do tempo: um céu limpo e sem nuvens é essencial para a observação.