Diário da Região

Seguindo estrelas

De Rio Preto ao infinito, os apaixonados pelo céu transformam a astronomia em paixão e missão; ajudam a popularizar a ciência e a despertar o interesse de gerações por galáxias, nebulosas e planetas

por Marco Antonio dos Santos
Publicado há 5 horas
Jefferson Mazzoni, astrônomo amador desde a infância (Arquivo Pessoal)
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Jefferson Mazzoni, astrônomo amador desde a infância (Arquivo Pessoal)
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Enquanto a maioria dorme, há quem olhe para o alto em busca de galáxias, nebulosas e planetas. Em Rio Preto, a astronomia, que mistura ciência, curiosidade e contemplação, mexe com um grupo de entusiastas que dedica madrugadas inteiras a observar o universo. São os astrônomos amadores e profissionais, apaixonados que, mesmo sem vínculos acadêmicos, ajudam a popularizar a ciência e despertar o interesse de novas gerações.

Um desses apaixonados é o farmacêutico Jefferson Mazzoni, 36 anos, Um astrônomo amador desde a infância. Aos 11 anos, comprou o primeiro telescópio e nunca mais deixou de mirar o céu.

“Comecei a gostar de astronomia ainda criança. Com o tempo, fui aprimorando o equipamento, primeiro um telescópio simples, depois câmeras e modelos mais avançados”, conta.

Principalmente durante o inverno, quando o céu fica mais limpo no hemisfério sul, Jefferson aproveita as noites frias para registrar imagens que impressionam.

De seu quintal em Rio Preto, ele já fotografou nebulosas, conjunções planetárias e crateras lunares. Descobertas científicas, ele admite, são raras — mas o prazer de observar o cosmos não depende disso.

“Com equipamentos amadores, é difícil fazer descobertas relevantes, mas o registro fotográfico e o aprendizado já são uma recompensa enorme”, afirma.

Já o astrônomo e físico Alexandre Neves tem mais de 25 anos de observação das estrelas e corpos coletes. O professor ajudou a consolidar projetos e espaços de observação em Rio Preto e região. Ele foi responsável por cursos e oficinas que introduziram centenas de pessoas ao universo da astronomia prática.

“A astronomia sempre chama a atenção do público, especialmente das crianças. Muitas se encantam e acabam virando astrônomos amadores — e isso é maravilhoso, porque elas começam a mapear o céu e contribuir com observações para a comunidade científica”, explica.

Segundo Alexandre, a astronomia amadora é essencial para complementar o trabalho dos grandes observatórios. “Astrônomo amador não é alguém que não saiba astronomia. É quem trabalha com paixão, mesmo sem a formação acadêmica. E muitos acabam contribuindo com dados e medições importantes”, diz.

Ele lamenta, porém, o enfraquecimento dos espaços públicos de observação, como o antigo observatório de astronomia da prefeitura, que funcionou até 2015 em parceria com a Unesp, no Complexo Integrado de Educação, Ciência e Cultura “Dr. Aziz Ab’ Saber”.

“Era um projeto tripartite que ganhou reconhecimento nacional. Tínhamos sessões semanais de observação e um planetário ativo. Mas, quando o apoio institucional acaba, essas iniciativas se perdem”, lembra.

Mesmo com os obstáculos, Alexandre segue lecionando e incentivando novos olhares para o cosmos. “Dá pra observar o céu, sim, mas o ideal é se afastar um pouco da cidade. A poluição luminosa atrapalha bastante, mas a curiosidade sempre vence”, completa.

OBSERVAR E ENTENDER

O astrônomo amador Renato Cássio Poltronieri, co-fundador da Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon), é um dos veteranos na região de Rio Preto.

Com mais de duas décadas dedicadas à astronomia amadora, o paulista de Nhandeara se tornou uma figura conhecida entre os entusiastas da região. Foi ele quem incentivou e ensinou novos nomes a iniciarem na observação astronômica.

“A primeira coisa é gostar de observar o céu. Aprender a reconhecer constelações, entender meteorologia, saber o que está vendo. O telescópio é importante, mas o principal é estudar e ter paciência”, ensina.

Renato conta que o acesso aos equipamentos ficou mais fácil nos últimos anos, com telescópios de R$ 2 mil a R$ 3 mil, valores bem mais baixos dos que eram praticados há duas décadas.

Mas Renato, também critica o excesso de “astrônomos de internet”, que buscam fama em vez de aprendizado.

“Tem gente que nunca olhou por um telescópio e se diz astrônomo nas redes. Astronomia é dedicação, é sair à noite para ensinar e compartilhar”, defende. (MAS)

Restaurando o Planetário

Um grupo de astrônomos amadores está devolvendo vida ao Planetário Municipal, instalado no Complexo Integrado de Educação, Ciência e Cultura (Ciecc) de Rio Preto. Fechado desde o início da pandemia, o espaço passa por um processo de recuperação liderado por seis voluntários apaixonados pela astronomia.

Com autorização da Secretaria Municipal de Educação, o grupo tem dedicado noites e fins de semana à restauração dos sete telescópios do Planetário. Dois deles — um de 16 polegadas e outro de 10 — já foram totalmente recuperados.

O engenheiro civil Otávio Rodrigues Kozyrski, um dos integrantes da equipe, destacou o caráter comunitário da iniciativa. “Todos amam o Ciecc, todos querem ajudar. Fizemos até uma vaquinha virtual para comprar uma peça que faltava para consertar um dos telescópios. Tivemos de mandar trazer dos Estados Unidos”, contou, elogiando a atual gestão por permitir a colaboração dos voluntários.

A mobilização reúne membros de grupos de astronomia do Sesc Rio Preto e do Ibilce, além de doadores de outras cidades que têm contribuído com recursos e peças para a manutenção dos equipamentos.

Entre os voluntários está o médico Nelson Falsarella, um dos incentivadores da criação do Planetário, inaugurado em 2008.

A reabertura está prevista para o fim do ano. A secretaria aguarda a aquisição de um software para colocar em operação os telescópios de maior porte. Num primeiro momento, o espaço voltará a receber estudantes em excursões escolares voltadas à observação astronômica e à educação científica. (MAS)

Onde observar o céu ‘de graça’

O Sesc Rio Preto oferece periodicamente espaço para observação astronômica. O próximo está marcado para 2 de dezembro, das 19h30 às 21h30, para observação da Lua Crescente, próximo da área externa da Cafeteria.

O espaço é aberto a todos os públicos, inclusive para quem não tem a carteirinha do Sesc. A orientação é feita pelo educador Fernando Masquio, educador em Tecnologias e Artes do Sesc.

Outro espaço seria o Planetário Municipal, mantido pela Secretaria Municipal de Educação, mas que está em reparo desde 2020. Um grupo de astrônomos amadores têm autuado de forma voluntária na recuperação dos equipamentos. (MAS)

O que observar na astronomia

Eclipses

Ocorrem quando um corpo celeste bloqueia a luz de outro.

  • Eclipse solar

  • Eclipse lunar

  • Chuvas de meteoros

  • Fases da Lua

  • Conjunções planetárias

  • Via Láctea

  • Cometas

Dicas para observação astronômica

  • Fuja da poluição luminosa, prefira locais afastados das luzes da cidade, que oferecem uma visibilidade muito melhor.

  • Consulte sites de astronomia ou aplicativos para saber as datas e horários de picos de chuvas de meteoros, eclipses e outros eventos.

  • Use aplicativos de astronomia para celular ajudam a identificar constelações e planetas, facilitando a observação.

  • Seja paciente, porque os eventos celestes pedem tempo e dedicação para adaptação da visão à escuridão.

  • Verifique a previsão do tempo: um céu limpo e sem nuvens é essencial para a observação.