Problema pulmonar do cantor Zé Neto alerta para riscos do cigarro eletrônico
Cantor teve problema no pulmão devido ao consumo de cigarro eletrônico. Com venda proibida pela Anvisa, dispositivos usam essências para atrair jovens

Com essências de manga, banana, morango, melancia, dentre outras, os cigarros eletrônicos atraem jovens – inclusive e especialmente adolescentes – com a promessa de serem menos prejudiciais do que o cigarro convencional. Na internet, não é raro encontrar quem defenda o uso dos dispositivos eletrônicos, mas os médicos são claros: não existe nível seguro de consumo dessas essências e a ciência não comprova que façam menos mal que o cigarro comum.
A doença do cantor Zé Neto, da dupla com Cristiano, o foco de vidro fosco no pulmão, pode estar associada ao uso desses dispositivos, o que acende mais um alerta. “O cigarro eletrônico normalmente tem nicotina, é isso que mantém o vício. E tem também outras substâncias que podem inflamar o pulmão”, diz o pneumologista Rafael Mussolino, do Hospital da Base e da Beneficência Portuguesa. “É difícil falar que faz menos mal, porque não temos avaliação a longo prazo.”
Como o Diário mostrou na última semana, mesmo proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a venda de cigarros eletrônicos vem ganhando força em Rio Preto, principalmente entre jovens. Aí está mais um problema: existem essências (em sua maioria importadas) que as lojas prometem ser sem nicotina, porém, como os produtos não são regulamentados pela Anvisa, não há fiscalização nem garantia sobre o que de fato está dentro do frasco.
O corretor de imóveis Matheus, de 21 anos, começou há alguns meses utilizar cigarro eletrônico, quando, segundo ele, o item “viralizou”. “Ele não fica cheiro ruim. Creio que não tem tantas substâncias tóxicas, mas mesmo assim continua sendo prejudicial”, diz. Um colégio de Rio Preto teve de fazer alerta aos pais após encontrar os dispositivos com alguns estudantes.
Na maioria das essências, vem escrito em inglês, logo na caixa, que aquele produto contém nicotina e pode levar à dependência. De acordo com o pneumologista Leandro Salviano, a concentração dessa substância nos cigarros eletrônicos às vezes é ainda maior que nos cigarros convencionais.
“O cigarro eletrônico não tem alcatrão e monóxido de carbono. Essas substâncias causam diversas doenças. Mas ele libera outras substâncias, que podem provocar doenças no pulmão como asma, piorar enfisema e correndo risco de outros tipos de câncer”, explica o médico.
Componentes
De acordo com estudo publicado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), algumas substâncias estão presentes no vapor desses dispositivos em concentração maior que nos cigarros tradicionais, como sódio, cálcio, ferro, alumínio, enxofre e cobre. Dentre outros problemas, elas podem levar a irritação pulmonar, bronquite e câncer. Outros componentes podem provocar danos ao sistema nervoso central e nos rins, dentre outros malefícios.
O engenheiro de produção José (nome fictício), de 31 anos, conta que usa o dispositivo há cerca de seis meses. “Prefiro cigarro eletrônico pois não fica com cheiro desagradável. Eu não acho que ele seja menos prejudicial à saúde, mas são mais práticos, estão acessíveis a qualquer momento.” Há seis anos, ele largou o cigarro convencional, mas continua se preocupando com o hábito. “Fico preocupado, ainda mais depois das declarações do Zé Neto.”
‘Acessibilidade’
Essa “acessibilidade” praticamente irrestrita do cigarro eletrônico é o que acaba atraindo os adolescentes para o uso. "Eles são mais propensos a utilizar porque tem um formato legal, cheiro, parte social. Acaba sendo um público interessante de venda”, diz Salviano. Só que as essências são caras e é comum não dar mais conta de “bancar” o vício. Daí, os jovens migram para os cigarros tradicionais. “No Brasil, tem uma política de restrição ao fumo boa e que vem se fortalecendo, mas os cigarros eletrônicos estão contornando isso”, diz Salviano.
Cigarro eletrônico
Cigarro eletrônico
- Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), também conhecidos como cigarros eletrônicos,são constituídos, em sua maioria, por um equipamento com bateria recarregável e refis para utilização.
- Há diversos tipos disponíveis no mercado, desde os recarregáveis aos descartáveis (uso único)
- A comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil, por meio de resolução da Anvisa de 2009
- A decisão se baseou no princípio da precaução, devido à inexistência de dados científicos de que os produtos não causam mal à saúde
- Em 2019, a Anvisa divulgou alerta aos médicos sobre doenças pulmonares causadas por esses produtos nos Estados Unidos.
- Atualmente, a Anvisa elabora uma Análise de Impacto Regulatório (AIR) - que pode manter a proibição ou fazer a liberação impondo regras
Tipos
Há dois tipos principais de vaporizadores: para ervas e para líquidos (que são os mais populares)
Vaporizador líquido
São dispositivos que utilizam essência (chamadas de juice).
Ao ser aquecido pelo vaporizador, o juice é transformado em vapor, que é inalado e exalado
São compostos por propilenoglicol, glicerina vegetal e saborizante (de frutas, por exemplo), com ou sem nicotina.
Principais categoria dos vaporizadores líquidos
Vape Pen
- É um cigarro eletrônico que lembra uma caneta.
- São produzidos para proporcionar alta produção de vapor, com nuvens densas e muito sabor.
- Normalmente são utilizados por hobby e utilizam juices com pouca ou nenhuma nicotina.
Pod System
- É um cigarro eletrônico que parece com um pen drive
- São projetados com o intuito de simular ao máximo o hábito do fumante, com uma puxada mais “restrita” e pouca produção de vapor (Como um cigarro)
Fonte: Anvisa, Ministério da Saúde, site Clube do Vapor e reportagem
Porta de entrada
A psicóloga Mara Madureira, que atua no grupo Amor Exigente, de orientação e apoio a dependentes químicos e seus familiares, diz que o cigarro eletrônico é um facilitador para a dependência do cigarro convencional. “Por ser fumado, se torna mais fácil você se permitir fumar outras drogas como maconha ou narguile”, afirma. “São substâncias tóxicas e que prejudicam a saúde.”
Ela diz que os adolescentes são vulneráveis à influência externa, como a de artistas, influenciadores digitais e amigos. “As amizades se estabelecem por afinidade. Se você está em um grupo e tem pessoas fazendo uso de vapers, provavelmente você vai fazer também para se sentir incluído, participante”, diz. (MG)
Zé Neto faz tratamento

O cantor Zé Neto gravou uma série de stories na madrugada desta quarta-feira, 22, para falar sobre seu estado de saúde, depois de ser diagnosticado com “vidro fosco”, um problema que acomete os pulmões e que pode estar relacionado ao uso de cigarro eletrônico. O músico aproveitou para fazer um alerta aos seguidores.
Sem dar detalhes do diagnóstico, o artista confirmou que o problema ocorreu por causa do consumo de cigarro eletrônico. Na terça-feira, 21, sua assessoria divulgou que o “vidro fosco” também poderia ser uma sequela da Covid-19.
“Estou voltando aqui para esclarecer que está tudo bem. Realmente passei por um problema sério do pulmão devido a cigarro, esses 'vapes' (cigarro eletrônico). Inclusive, dou um alerta para quem mexe com essa bosta... para com isso porque é um cigarro como qualquer outro e faz mal do mesmo jeito ou até mais”, afirmou.
O músico disse que está bem e agradeceu o apoio dos fãs. “Obrigado pra quem rezou por mim, porque tá cheio de gente divulgando só desgraça. O que a gente faz de bom é difícil de divulgarem, né? Estou terminando o tratamento já. Mais alguns dias e já estarei 100%, mas já estou 99%”, concluiu.