Diário da Região
A PROFISSÃO DA VIDA

Dia do Médico: profissão ultrapassa gerações e une pais e filhos em Rio Preto

No Dia do Médico, comemorado nesta terça-feira, 18, Diário inicia série sobre a profissão que cuida das pessoas; em Rio Preto, número de profissionais em relação ao total de habitantes é o dobro da média estadual

por Rone Carvalho
Publicado em 18/10/2022 às 01:15Atualizado em 18/10/2022 às 09:24
Arthur Soares Souza Junior medindo a frequência cardíaca da filha Luciana Volpon Soares Souza: ambos são radiologistas (Marcelo Schaffauser/Divulgação)
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Arthur Soares Souza Junior medindo a frequência cardíaca da filha Luciana Volpon Soares Souza: ambos são radiologistas (Marcelo Schaffauser/Divulgação)
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Quando criança, Geovanne Furtado Souza sempre pensou no que faria de faculdade. Foi um vizinho médico e o tio especializado em oftalmologia que pesaram na decisão do jovem em cursar a profissão da vida. “Aprendi com eles como poderia ajudar as pessoas. Foi quando decidi fazer medicina. E não me arrependo.”

Paixão pela medicina que ultrapassa gerações e que, hoje, também é exercida pelos filhos do urologista. “Meus dois filhos são médicos. Acredito que por acompanharem a rotina acabaram por também se apaixonarem pela profissão”, diz Geovanne.

O sonho pela medicina ultrapassa gerações e faz Rio Preto concentrar um grande número de médicos. A cidade tem 5,36 profissionais da área a cada mil habitantes, quase o dobro da média do estado de São Paulo, que é de 2,78. Dados da Fundação Seade mostram que Rio Preto contabiliza 2.516 médicos em um universo de 469.173 habitantes – número que deixa o município no quarto lugar entre as maiores cidades paulistas, atrás apenas de Santos, Campinas e Ribeirão Preto.

Neste 18 de outubro, em que é comemorado o Dia do Médico, o Diário da Região inicia a série de reportagens “Médico: a vida em primeiro lugar”, que irá abordar a profissão que, mais do que em qualquer momento da história do mundo, mostrou-se necessária ao salvar milhões de pessoas na pior pandemia dos últimos 100 anos. Na primeira reportagem, a história da profissão e depoimentos de gerações de médicos rio-pretenses.

História

A profissão de médico é uma das mais antigas da história da humanidade. Historiadores apontam que os primeiros registros de práticas da medicina já aconteciam no Egito Antigo (2.635 a 2.155 a.C), através do primeiro médico da história: Imhotep.

Contudo, foi a partir da identificação dos primeiros sintomas de doenças na Grécia Antiga (1.100 a 146 a.C.) que a medicina se desenvolveu. Foi lá, por exemplo, que nasceu Hipócrates, considerado o Pai de Medicina. Ele consolidou a ideia de que a observação dos sintomas do paciente era extremamente importante para curar as doenças.

Do surgimento aos dias de hoje, a medicina passou por severas modificações. Para o presidente da Associação Paulista de Medicina (APM) - Regional de Rio Preto, Leandro Freitas Colturato, a tecnologia veio para somar à prática da medicina, mas ainda há inúmeros desafios que precisam ser superados.

“Tivemos dois grandes efeitos da tecnologia na prática médica. O primeiro foi a melhora na capacidade diagnóstica de intervenção terapêutica. O segundo foi a forma que ela foi introduzida e isso impactou profundamente o médico, principalmente na relação dele com o paciente”, apontou Leandro.

Para Geovanne Furtado, médico que há 30 anos explora o universo das consultas presenciais e, hoje, inova com as cirurgias robóticas em Rio Preto, a figura do médico nunca será substituída. “A tecnologia vem para nos auxiliar e não para distanciar o médico do paciente. A própria pandemia escancarou isso, do como é necessário o médico para uma diagnóstico correto. O que precisamos analisar é como estamos fazendo essa transição tecnológica da medicina”.

Clique aqui para ver números de habitantes nas cidades e quantidade de médicos

DE PAI PARA FILHA

Arthur Soares Souza Junior medindo a frequência cardíaca da filha Luciana Volpon Soares Souza: ambos são radiologistas (Divulgação/ Marcelo Schaffauser)
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Arthur Soares Souza Junior medindo a frequência cardíaca da filha Luciana Volpon Soares Souza: ambos são radiologistas (Divulgação/ Marcelo Schaffauser)

Escolher a mesma profissão que o pai, exercer a mesma especialidade que ele e trabalhar junto de quem a mostrou o primeiro estetoscópio – instrumento de saúde que ajuda o médico a ouvir os batimentos do coração do paciente. Essa foi a escolha de Luciana Volpon Soares Souza, médica radiologista no Ultra-X Medicina Diagnóstica.

Mas se engana quem pensa que Luciana decidiu cursar medicina por conselho do pai. Foi a paixão pelas ciências biológicas e de entender os porquês da ciência que as levaram a cursar medicina. “Meu pai sempre me disse para escolher o que realmente aquecia meu coração. Quando eu realmente comecei a entender mais da profissão, não pensei duas vezes e escolhi a medicina”.

Ao contrário dela, o irmão optou pelas artes plásticas e seguiu carreira como arquiteto. “Minha felicidade é ver meus filhos fazendo o que realmente gostam. Isso não tem preço”, diz Arthur Soares Souza Junior, professor e médico radiologista. “Sempre digo que ser médico é vocação. Tudo que a gente faz tem que ser feito em prol do paciente”, completou.

A história de doutor Arthur com a medicina começou na infância. Foi a partir do contato com o hospital, por conta de uma doença, que ainda criança ele decidiu pela profissão. “Desde pequeno tive vontade de ser médico. Enquanto para muitas pessoas o hospital não é bem-visto, como convivi muito na infância, o hospital sempre foi um lugar natural para mim”.

As poucas faculdades de medicina no Brasil, na segunda metade do século 20, e o alto custo não o desanimaram de realizar o sonho. “Tinha uma obstinação curiosa ainda adolescente, que era de querer publicar artigo. E consegui fazer isso durante minha graduação em medicina, depois não parei mais. Hoje, tenho mais de duzentos artigos publicados com muito amor e prazer”, conta, sorridente.

Felicidade no trabalho que influenciou a filha a seguir a profissão. Apaixonada por ciências biológicas na adolescência, Luciana tinha dúvidas do que iria chamar de sua profissão. “Como meu pai publicava muitos artigos científicos e gostava de entender mais sobre a área, optei pela medicina”.

E ela foi além e se especializou na mesma área que o pai. “Sou muito feliz de poder aprender com ele. Nós não apenas trabalhamos no mesmo lugar, como também vamos para congressos juntos. Digo que ele é meu eterno professor”.

Para Arthur, a medicina não está no sangue, mas na paixão por ajudar as pessoas. “Meu pai sempre foi muito enfático: no que fizer, seja competente e faça por amor e nunca perca a humildade. É uma dica muito sábia dele que procurei repassar para os meus filhos. Mesmo ausente da família como médico, eles sempre souberam que estava feliz”.

A FAMÍLIA DE MÉDICOS DO CORAÇÃO

Da direita para esquerda: Rafael Braile, diretor da Braile Biomédica, Luiza Braile Verdi, estudante de medicina, Sofia Braile e Giovanni Braile Sternieri, formados em medicina, com o avô Domingo Marcolino Braile, que faleceu em 2020 (Divulgação)
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Da direita para esquerda: Rafael Braile, diretor da Braile Biomédica, Luiza Braile Verdi, estudante de medicina, Sofia Braile e Giovanni Braile Sternieri, formados em medicina, com o avô Domingo Marcolino Braile, que faleceu em 2020 (Divulgação)

“O verdadeiro médico já nasce médico. A escola apenas organiza os seus pensamentos. Acredito numa medicina humanista, cheia de fé e de esperança, que busca desenvolver ao nosso irmão doente aquilo que ele mais deseja: a sua própria saúde. Saúde não apenas física, mas também psíquica e social, conceito moderno deste bem insuperável. Ao médico cabe a função de guardião de bem-estar da sociedade, mantendo-a livre do sofrimento e dando-lhe cada vez melhores condições de vida. Os maus médicos, estes eu os abomino. O médico tem que empregar todo o esforço e conhecimento disponíveis para desenvolver àquela pessoa a saúde perdida, sem pensar nos ganhos, gastos ou nas dificuldades”.

As palavras escritas pelo cardiologista Domingo Marcolino Braile, em 2008, expressam de forma profunda o que foi a medicina para ele. Falecido em 2020, Braile foi pioneiro em realizar cirurgia cardíaca no interior do Brasil, não a toa foi homenageado e hoje dá nome ao Hospital Municipal de Rio Preto, localizado na Região Norte.

Inventor e apaixonado pelo jaleco, Braile era especializado em cuidar de corações e deixou um legado que continua fazendo história. Sua especialidade, a cardiologia, é seguida pelos netos. “Me sinto muito orgulhoso, honrado, presenteado por Deus, por fazer parte dessa história de família. Pretendo passar para os meus filhos qual o real valor que meu avô deixou no mundo. Acredito que temos de continuar essa busca incessante pela melhoria da cardiologia. As doenças do coração são as que mais matam hoje em dia, por isso não podemos parar de desenvolver essa especialidade tão linda”, diz Giovanni Braile Sternieri, médico que pretende seguir os passos do avô se especializando em cirurgia cardiovascular.

Quem também não esquece da paixão do avô pela profissão é Sofia Braile Sabino. Amor que inspirou a neta a também fazer medicina. “Acredito que a centelha do cuidado começou lá atrás. Meu avô sempre me inseriu no cotidiano médico dele, inclusive nas viagens. Minha primeira experiência dentro de um centro cirúrgico foi aos dez anos, acredito que tudo isso tenha plantando a semente do cuidado com a saúde e a vida das pessoas que me levou à medicina”, contou.

Já Luiza Braile Verdi, que está prestes a concluir o curso de medicina ressalta que o ato de cuidar das pessoas está enraizado na família. “A escolha da medicina foi para manter esse legado de cuidar do coração. Eu estou no quinto ano de medicina e a cardiologia é uma área que me encanta muito. Estou ansiosa para trilhar essa encantadora fase de me tornar médica”.