Rio Preto pode ganhar novo hospital e mira atendimento à terceira idade
Com aumento da expectativa de vida, hospitais miram melhora no atendimento a idosos. Até 2050, um em cada três rio-pretenses terá 60 anos ou mais

Conhecida como uma das melhores cidades do Brasil para envelhecer, principalmente por conta do setor de saúde, Rio Preto se prepara para acolher ainda mais idosos nos próximos anos. Estimativa da Fundação Seade, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima que até 2050 um em cada três rio-pretenses terá 60 anos ou mais.
De olho no aumento da expectativa de vida da população e na crescente procura de idosos pelo Noroeste Paulista para envelhecer, o setor hospitalar rio-pretense projeta investimentos para acolher esse público nos próximos anos. De construção de novos hospitais até a ampliação de alas especializadas em acolher idosos. Esse é o tema da quinta reportagem da série especial do Diário “A força da saúde”.
Atualmente, estimativa da Fundação Seade aponta que 18% da população rio-pretense tem 60 anos ou mais. Para se ter uma ideia, em 2000, essa faixa de moradores representava 10% do total. Contudo, com o aumento da expectativa de vida e a menor taxa de natalidade, ou seja, casais rio-pretenses cada vez mais tendo menos filhos, a expectativa é que em 2050 um terço dos rio-pretenses seja idoso.
“A velhice está ficando cada vez mais longa. Isso porque estamos aprendendo a cuidar melhor dos nossos idosos. No passado, mais pessoas morriam com 40 anos tendo infarto, hoje, conseguimos evitar”, apontou a médica geriatra e diretora científica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Christiane Machado.
Em alguns hospitais de Rio Preto, mais da metade dos atendimentos já são de idosos. É o caso do Hospital Santa Helena. Lá, dos 40 mil atendimentos realizados por ano, 60% são de idosos. Já no Complexo Funfarme, composto pelo Hospital de Base e pelo Hospital da Criança e Maternidade, dos 1,2 milhão de atendimentos realizados no ano passado, 12% foram de crianças e 31,6% de idosos. Em média, por dia, mil idosos passam pelo HB.
“Nós já temos uma área voltada para a geriatria, que ainda é acanhada, mas que desejamos ampliar. Voltada à geriatria especializada, com ortopedia geriátrica, por exemplo”, afirmou Jorge Fares, diretor executivo da Funfarme.
Outro hospital que também está de olho em ampliar sua área voltada a idosos é a Beneficência Portuguesa de Rio Preto. Em média, dos 72 mil atendimentos realizados por ano no hospital, 25% são de idosos.
“Os idosos são atendidos nas alas de adultos. Por ser um dos nossos principais públicos, toda a nossa assistência é também especializada no atendimento aos idosos. Agora o hospital tem no seu planejamento estratégico em exercício a adequação para reconhecimento do programa ‘Selo Hospital Amigo do Idoso’. Uma iniciativa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, que tem como objetivo incentivar e apoiar a qualificação geronto-geriátrica dos hospitais como referência assistencial”, disse Waldemar Brentan, presidente do Hospital Beneficência Portuguesa de Rio Preto.
Projetos de ampliação de atendimento a idosos também estão sendo pensados no Austa Hospital e no pronto atendimento da Unimed. “O envelhecimento da população é um tema que norteia nosso trabalho há muitos anos. O atendimento a esses beneficiários é realizado de forma primária nos consultórios dos médicos cooperados. E a Unimed Rio Preto tem como apoio um trabalho realizado por meio da medicina preventiva. O setor é composto por várias linhas de cuidados voltados a esse público: doenças crônicas (hipertenso, diabético, obesidade), linha idoso bem cuidado e Programa da Dor”, explicou José Luis Crivellin, presidente do Conselho de Administração da Unimed Rio Preto.
Importância da prevenção
Para a professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) Yeda Duarte, o aumento da expectativa de vida não pode ser visto como um problema para o setor de saúde. “Eu não posso dizer que envelhecimento é um problema, porque trabalhamos durante anos para as pessoas viverem mais. Hoje, mais de 75% da população idosa é independente. Diferente do que a maioria imagina, que todos os idosos precisam de assistência. O que temos que trabalhar é com a prevenção, possibilitando que esses idosos cheguem com condição de vida ainda melhor no futuro”.
Ainda segundo Yeda , desde os anos 50, a expectativa de vida do brasileiro vem aumentando. “Isso porque foram melhorando as condições de vida das pessoas, das tecnologias em saúde. Agora temos que trabalhar para um envelhecimento saudável”.
Referência em atendimento infantil
Com sete vezes mais pediatras do que geriatras, Rio Preto vive o desafio de mudar essa realidade nas próximas duas décadas. Isso porque a tendência é que, enquanto a população de idosos dobre até 2050, a taxa de natalidade diminua, com menos casais querendo ter filhos no Brasil.
Entretanto, isso não significa que Rio Preto terá que ter menos pediatras, já que a cidade já sofre com a escassez destes profissionais, principalmente, na rede pública. Em abril deste ano, por exemplo, o Diário mostrou que o Conselho Municipal de Saúde chegou a cobrar da Prefeitura de Rio Preto a contratação de novos profissionais para atuarem nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), pela falta de pediatras.
Na época, o secretário de Saúde de Rio Preto, Aldenis Borim, relatou dificuldades de contratação. Situação parecida foi relatada por gestores de hospitais da cidade, como a Beneficência Portuguesa, que confirmou à reportagem que também encontrou dificuldade na contratação deste tipo de profissional nos últimos meses.
Atualmente, de acordo com dados da Conjuntura Econômica de Rio Preto 2021, com base em levantamento do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Rio Preto possui 150 médicos pediatras e 21 geriatras.
Para contornar essa situação, especialistas dizem que o incentivo a essas duas especializações no âmbito médico é de suma importância para o futuro da saúde da cidade.
Apesar dos gargalos, Rio Preto continua sendo referência em atendimento infantil, principalmente, por conta das diversas clínicas especializadas em pediatria e do Hospital da Criança e Maternidade (HCM). De olho neste mercado, o médico cardiologista e um dos fundadores do Austa Hospital, Mário Jabur Filho, revelou que, além de ampliar sua ala infantil, a instituição estuda a possibilidade de implantação de um novo hospital infantil na cidade.
“Nós já temos uma ala para crianças, mas estamos pensando seriamente na implantação de um hospital infantil. Inclusive, já estamos realizando estudos com outros hospitais. Hoje, existe uma alta demanda na região por atendimento infantil”, disse Mário.
Atualmente, o HCM é responsável por 144 mil atendimentos de crianças por ano – uma média de 395 por dia. Um grande número que ainda não conta os diversos atendimentos que são realizados em clínicas, outros hospitais particulares e na rede municipal de saúde.
Mortalidade infantil
O bom acompanhamento da gravidez fez com que a região de Rio Preto registrasse a menor taxa da sua história de mortalidade infantil. Em 2020, a proporção foi de 7,7 óbitos de menores de um ano por mil nascidos vivos. Em 2019, a taxa foi de 8,3. A região tem também a menor taxa do Estado – a taxa estadual é de 9,7 óbitos. Os dados são Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade).
Estimativa populacional de Rio Preto
Ano: 2000
- 0 a 14 anos: 81.921
- 15 a 59 anos: 237.704
- 60 ou mais: 38.080
- Total: 357.705
Ano: 2010
- 0 a 14 anos: 73.707
- 15 a 59 anos: 277.834
- 60 ou mais: 56.275
- Total: 407.816
Ano: 2020
- 0 a 14 anos: 73.178
- 15 a 59 anos: 295.355
- 60 ou mais: 79.391
- Total: 447.924
Ano: 2030*
- 0 a 14 anos: 67.218
- 15 a 59 anos: 292.360
- 60 ou mais: 106.660
- Total: 466.238
Ano: 2040*
- 0 a 14 anos: 57.538
- 15 a 59 anos: 274.719
- 60 ou mais: 132.107
- Total: 464.364
Ano: 2050*
- 0 a 14 anos: 51.135
- 15 a 59 anos: 239.097
- 60 ou mais: 157.397
- Total: 447.629
*Projeções feitas pela Fundação Seade
Médicos em Rio Preto por especialidade
- Ginecologia e Obstetrícia: 198
- Cardiologia: 152
- Pediatria: 150
- Oftalmologia: 110
- Anestesiologia: 92
- Radiologia – Ultrassonografia: 92
- Ortopedia e Traumatologia: 90
- Psiquiatria e Psicanálise: 72
- Cir. Cardiovascular: 69
- Dermatologia e Alergia: 62
- Urologia: 60
- Cir. Plástica: 58
- Cir. Gastroenterológica: 51
- Neurologia: 50
- Endocrin. Metabólica: 40
- Hematologia/Hemoterapia: 40
- Nefrologia: 38
- Patologia: 38
- Neurocirurgia: 36
- Pneumologia: 35
- Gastroenterologia: 32
- Otorrinolaringologia: 32
- Oncologia: 30
- Reumatologia: 30
- Terapia Intensiva: 29
- Homeopatia: 28
- Anatomia Patológica: 25
- Eletroencefalografia: 25
- Medicina do Trabalho: 24
- Medicina Sanitária: 23
- Proctologia: 23
- Cir. Pediátrica: 22
- Geriatria: 21
- Medicina Nuclear: 18
- Neurologia Pediátrica: 18
- Medicina Legal: 15
- Fisiatria: 15
- Cir. Toráxica: 13
Fonte: Conjuntura Econômica de Rio Preto 2021