Diário da Região
PEQUENAS GRANDES AMEAÇAS

Em cinco anos, 2,2 mil crianças da região de Rio Preto foram parar no hospital por causa de engasgos

De acordo com o HCM, no período de cinco anos nenhuma criança atendida na unidade morreu devido ao engasgamento

por Millena Grigoleti
Publicado em 16/12/2023 às 17:34Atualizado em 17/12/2023 às 07:11
Objeto arredondado no raio-x é uma moeda engolida por criança em Rio Preto: após o exame, objeto foi retirado (Reprodução)
Objeto arredondado no raio-x é uma moeda engolida por criança em Rio Preto: após o exame, objeto foi retirado (Reprodução)
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O caso de Ayla, filha da modelo e atriz Barbara Evans, que precisou passar por cirurgia no Hospital da Criança e Maternidade (HCM) de Rio Preto após engasgar com um amendoim, não é isolado. De acordo com dados da instituição, desde 2019, nos últimos cinco anos, foram 2,2 mil atendimentos a pequenos de até 12 anos que se engasgaram com corpos estranhos.

“Corpo estranho” é aquilo que está em uma via onde não deveria – caso de crianças que broncoaspiram alimentos e objetos como moedas e peças de brinquedos. De acordo com o HCM, no período de cinco anos nenhuma criança atendida na unidade foi a óbito devido ao engasgamento.

Os cuidados para evitar sustos ou pelo menos diminuir sua gravidade devem começar desde o nascimento. “Recém-nascidos podem apresentar refluxo, é comum voltar um pouco de leite e a criança pode engasgar”, explica Jorge Haddad, pediatra da Beneficência Portuguesa de Rio Preto e presidente regional da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). Um dos cuidados necessários, segundo ele, é sempre fazer o lactente arrotar e mantê-lo na posição de arroto por 15 minutos pelo menos.

Para os pequenos que vão começar a introdução alimentar, existem dois métodos: oferecer os alimentos amassados com o garfo, bem molinhos, e o BLW, em que a comida é ofertada bem cozida à criança, de modo a estimulá-la a ter contato com as texturas. Neste caso, os pedaços não podem ser muito grandes.

Bianca Seixas Soares Sgambatti, pediatra, membro do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), diz que as características de corpos estranhos mais perigosas são redondos ou com partes redondas, cilíndricos e difíceis de serem separados e escorregadios.

“Os engasgos são mais prevalentes em crianças menores de 3 anos e os alimentos são os achados mais frequentes, sendo responsáveis por 59,5% dos eventos. Alimentos pequenos, duros e arredondados não devem ser dados a crianças com menos de 4 anos”, alerta. “Isso inclui balas duras, pipoca, salsicha, amendoim, nozes, nuts, pistaches, sementes, cenoura crua, uvas inteiras, tomates cerejas inteiros, ovos de codorna e uvas-passas”, exemplifica.

“Para evitar aspiração de alimentos por uma criança, devemos prestar muita atenção no alimento ofertado, bem como a forma que estamos ofertando esse alimento”, alerta a especialista.

Além dos alimentos

A pediatra Bianca lista alguns dos objetos que acabam sendo engolidos por crianças e causando obstrução das vias respiratórias: brinquedos, bexigas, moedas clipes e joias.

“A grande maioria das crianças que aspiram algum objeto apresenta uma história de engasgo no primeiro momento. Se o objeto não for expelido, pode obstruir parcial ou completamente a via aérea, dificultando a passagem de ar”, explica.

Orientações de como ofertar alimentos, de acordo com a pediatra Bianca:

  • Alimentos pequenos, duros e arredondados não devem ser dados a crianças com menos de 4 anos. Isso inclui: balas duras, pipoca, salsicha, amendoim, nozes, nuts, pistaches, sementes, cenoura crua, ovos de codorna, tomate cereja, uva, uva-passa
  • Bebês devem começar a comer alimentos sólidos apenas quando estiverem aptos a sentar. Devem sentar na posição vertical e nunca inclinados. Todas as refeições devem ser supervisionadas por um adulto
  • As crianças devem ser ensinadas e incentivadas a mastigar corretamente os alimentos. Atividades como brincar, correr, rir, chorar e gritar enquanto comem devem ser desencorajados
  • As crianças não devem comer enquanto andam de carro, porque o cuidador pode não ser capaz de intervir se a criança engasgar
  • Medicamentos mastigáveis devem ser dados a crianças com mais de 3 anos

Em relação a objetos não orgânicos:

  • Moedas não devem ser dadas a crianças como recompensas
  • Deve-se desencorajar a prática de segurar objetos escolares com a boca
  • Evitar brinquedos com partes pequenas. Manter objetos pequenos de decoração fora do alcance das crianças
  • Seguir as recomendações nas embalagens dos brinquedos
  • Ficar atento ao comportamento das crianças mais velhas, pois elas podem oferecer brinquedos/comidas que apresentam risco de aspiração para as menores
  • Pais, professores e cuidadores devem ser incentivados a fazer cursos de primeiros socorros e aprender noções básicas de suporte à vida em casos de engasgo

O que fazer em caso de engasgos?

  • Durante o episódio, sempre observar a criança - se ela está respirando e se a cor da pele mudou (se ficou mais pálida ou roxa)

Se realmente ocorrer uma obstrução completa da via aérea e a criança não conseguir tossir ou falar, há formas diferentes de desobstruir

LACTENTES (bebês que só mamam) com a criança levemente inclinada, aplicar cinco golpes nas costas com firmeza e cuidado para não machucar, seguidos por cinco compressões torácicas

CRIANÇAS Manobra de Heimlich, ou seja, abraçar o pequeno pelas costas e comprimir na altura do estômago até o alimento ou objeto ser expelido.

Em qualquer dos casos, as manobras devem ser realizadas ENQUANTO se busca socorro por meio dos telefones de emergência 192 (SAMU) ou 193 (Bombeiros)

Referências: Bianca Seixas Soares Sgambatti, pediatra, membro do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) e Jorge Haddad, pediatra da Beneficência Portuguesa de Rio Preto e presidente regional da SPSP