Diário da Região
SETEMBRO DO CORAÇÃO

Cardiopatia é fator de risco para Covid, alertam especialistas

Seis em cada dez pacientes que morreram pela Covid em Rio Preto tinham cardiopatia

por Millena Grigoleti
Publicado em 17/09/2021 às 21:04Atualizado em 18/09/2021 às 01:43
Leyla de Castro, de 55 anos, sofreu infarto no início do ano: “Todo mundo tem que ficar de olho, prestar atenção. Eu levava uma vida saudável e infartei”, aconselha (Johnny Torres 16/9/2021)
Leyla de Castro, de 55 anos, sofreu infarto no início do ano: “Todo mundo tem que ficar de olho, prestar atenção. Eu levava uma vida saudável e infartei”, aconselha (Johnny Torres 16/9/2021)
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As cardiopatias são o principal fator de risco para Covid entre os 7.774 pacientes que morreram pela doença no Departamento Regional de Saúde (DRS) de Rio Preto. Na cidade, 65% das vítimas tinham alguma doença no coração. O Setembro Coração, ou Setembro Vermelho, é o mês dedicado à conscientização sobre esse problema, que sozinho mata mais de mil pessoas todos os dias no Brasil. As doenças cardiovasculares não dizem respeito só ao coração, com infartos e arritmias, mas também ao cérebro, como os acidentes vasculares cerebrais (AVC).

“Quem tem doenças cardiovasculares tem uma tendência a ter mais complicações de Covid. Depois que passa o estágio infeccioso, ela se torna uma doença vascular. Quem já tem predisposição, isso faz botar fogo na fogueira”, afirma a professora doutora Valéria Braile, cardiologista da Braile Cardio e diretora clínica da Beneficência Portuguesa.

Augusto Sardilli, cardiologista do Incor, pontua que é preciso que todos que tiveram Covid-19 passem por um checape para que possam retornar às atividades com segurança. A Covid pode provocar também doenças cardiovasculares em quem não tinha, como a miocardite, que é a inflamação do músculo do coração.

O médico diz que a informação é essencial, bem como o autocuidado. “A prevenção é o melhor remédio. A gente conhece todos os fatores de risco das doenças cardiovasculares. Uma vez que a gente consegue controlá-los, consegue diminuir significativamente o número de óbitos.”

Ambos os médicos alertam que arritmia, obstrução de artérias e insuficiência cardíaca são doenças “silenciosas”, que muitas vezes manifestam sintomas somente depois de muito tempo. Assim, o checape regular se torna obrigatório. “Se a gente não procurar regularmente o cardiologista, a gente vai perder a oportunidade de diagnosticar essas doenças e começar a tratar”, alerta Sardilli.

Quem sabe bem disso é Leyla de Castro, de 55 anos. Sem nenhum histórico de problemas cardiovasculares e levando uma vida saudável, ela fazia acompanhamento todos os anos. Acabou pulando 2019 e em 2020 chegou a pandemia, que a deixou com receio de procurar o médico. Em 26 de fevereiro de 2021, ela sofreu um infarto enquanto dormia. Só foi salva porque, mesmo sem entender o que estava acontecendo, o marido correu com ela para a Beneficência Portuguesa, onde foi feito um cateterismo para liberar a passagem do sangue.

“Fiquei dois dias na UTI e dois no quarto, graças a Deus estou em casa, estou bem, faço acompanhamento, tomo dez remédios, faço controle de alimentação e exercícios físicos, caminhada todo dia. Todo mundo tem que ficar de olho, prestar atenção. Eu levava uma vida saudável e infartei”, afirma.

Segundo Edmo Atique Gabriel, cirurgião cardiovascular e professor, o tratamento começa com uma mudança de vida e de hábitos alimentares e orientação especializada para prática de atividades físicas. Também podem ser utilizados medicamentos para controlar hipertensão e diabetes, por exemplo. “A partir desse momento, o processo de depósito de gordura nas artérias pode ser melhor controlado, e daí muitas vezes outros tratamentos mais invasivos não são necessários”, explica. Em alguns casos, pode ser preciso, por exemplo, realizar cirurgia de implantação de stent e de troca de válvula.

DADOS

Cinco doenças cardiovasculares comuns

    Hipertensão arterial sistêmica
    Cardiopatia isquêmica
    Insuficiência cardíaca
    Fibrilação atrial
    Morte súbita cardíaca

Fatores de risco para doenças cardiovasculares

    História familiar
    Álcool
    Colesterol Elevado
    Diabetes
    Estresse
    Hipertensão
    Sedentarismo
    Obesidade
    Tabagismo

Ficar atento:

É preciso ficar atento ao comportamento do sistema digestivo. Se o intestino funciona bem e de forma saudável, se há uma boa digestão depois das refeições, se há intolerância a algum alimento (o que pode provocar inflamações que impactam em todo o organismo)

O sono deve ser reparador. Se você acorda cansado, pode ser um sinal de apneia do sono ou outros problemas que desestabilizam toda a saúde. Alguns dos passos para dormir bem são se afastar das telas antes de deitar e repousar em um local completamente escuro – isso favorece a produção de melatonina, o hormônio ligado ao descanso.


Fonte: Coração.org.br/Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Federação Médica Brasileira (FMB) e Valéria Braile, cardiologista da Braile Cardio