Vacina Butanvac será testada em Rio Preto
Rio Preto vai ser uma das cidades com teste da Butanvac, vacina desenvolvida pelo Butantan que promete trazer facilidade de atualização contra variantes

Rio Preto será uma das sete cidades onde serão realizados os testes da fase 3 da vacina contra o coronavírus Butanvac, produzida pelo Instituto Butantan. A etapa será coordenada na cidade pela Famerp. Brasília, Porto Alegre, Ribeirão Preto, Salvador, São Paulo e Recife também vão participar da pesquisa. A expectativa é que o imunizante esteja disponível até 2023.
O diferencial da Butanvac, em comparação com outras vacinas já em uso, é que ela será produzida no Brasil, com baixo custo. Além disso, segundo o Butantan, tem facilidade de adaptação contra variantes, como a Ômicron, porque a construção viral permite atualizar a cepa de forma rápida, assim como ocorre com o imunizante contra a Influenza.
Com nome técnico de NDV-HXP-S, a Butanvac é desenvolvida com a mesma plataforma da vacina da gripe, aplicada anualmente em todo o País. Ela é produzida a partir da inoculação de um vírus modificado (da doença de Newcastle, inofensivo para humanos) que contém a proteína Spike do SARS-CoV-2 estabilizada em ovos embrionados de galinha.
A tecnologia do vírus foi criada pela Icahn School of Medicine no Hospital Mount Sinai, em Nova York, enquanto a proteína S estabilizada foi desenvolvida na Universidade do Texas em Austin. O Butantan possui a licença de uso e comercialização.
Os resultados dos ensaios clínicos, realizados na primeira fase de teste da Butanvac, foram apresentados na segunda-feira, 30 de maio, para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão federal responsável pela análise dos pedidos de registro de imunizantes.
Os resultados iniciais mostraram que a vacina é segura e induz produção de anticorpos, segundo o Butantan. Antes de chegar à fase três, a vacina passará pela segunda etapa, que vai acontecer em Valinhos e São Caetano, no estado de São Paulo, e na cidade do Rio de Janeiro. As duas próximas fases devem envolver 4,5 mil pessoas em todo o Brasil – não foram divulgadas datas.
Como a maior parte da população já está vacinada, a Butanvac será avaliada como dose de reforço. A fase 2 do ensaio clínico terá 400 participantes maiores de 18 anos, sendo 50% idosos, que irão receber uma dose de reforço da Butanvac ou da Pfizer – para poder ter a comparação de resultados.
Já na fase 3, serão avaliados três diferentes lotes da Butanvac em 4 mil voluntários adultos. Do total, 20% serão idosos, com as faixas etárias mais vulneráveis ao coronavírus. Todas as quatro mil pessoas serão vacinadas com um dos três lotes ou com a vacina da Pfizer.
Durante os testes, os pesquisadores vão avaliar a frequência e a intensidade das reações adversas, a produção de anticorpos antes e após a terceira dose de cada vacina e a consistência dos lotes.
O estudo vai aceitar como voluntários pessoas que completaram o esquema vacinal primário, com ou sem reforço em um intervalo de 120 dias, e que já tiveram Covid-19 ou não. Serão excluídas do estudo pessoas com qualquer doença ativa ou condição que aumente o risco de ter resultado adverso, por exemplo imunossuprimidos e gestantes.
Por ter baixo custo de produção, a nova vacina poderá ser indicada para países pobres, sem condições financeiras de comprar os imunizantes da Astrazeneca, Janssen e Pfizer.
Pesquisas em andamento
A eficácia da nova geração de vacinas vai depender do avanço das pesquisas sobre o comportamento da Covid-19 e suas mutações, prevê o virologista Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp).
“O que vai ser o futuro ao longo prazo depende de nós aprendermos coisas sobre o vírus que ainda não sabemos, como o correlato de proteção, que é um marcador que mostra a quantidade de anticorpos e células de defesa”, diz o pesquisador.
Maurício diz que, por enquanto, não dá para prever se a nova geração de vacinas será de aplicação única ou se irá repetir os atuais imunizantes - a maioria, exceto a Janssen, com necessidade de duas doses. “As vacinas contra as variantes mais recentes devem chegar no mercado no ano que vem”, diz o pesquisador.
Todos os fabricantes das vacinas aplicadas desde o começo da pandemia estão com pesquisas em andamento para desenvolvimento de novos imunizantes.
Enquanto não chega essa nova geração de vacinas, o virologista afirma que os atuais imunizantes têm eficácia contra as variantes já catalogadas. Portanto, a atitude mais prudente é comparecer nos postos de vacinação sempre que for recomendado para manter o esquema de proteção em dia para enfrentar os riscos de pegar essas mutações. (MAS)
Eficácia comprovada
Ulysses Strogoff de Matos, infectologista do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, afirma que a vacina da Pfizer tem mais eficácia como dose de reforço, mas diz que outros imunizantes não devem ser preteridos. “O ideal é fazer o reforço com a vacina da Pfizer, que gera uma resposta melhor, mas as outras também geram uma boa resposta. Então, deve se usar a vacina que estiver disponível”, diz o médico.
O infectologista diz que todos os imunizantes são eficazes, a partir das doses de reforço, contra a Ômicron, mutação que se mostrou altamente contagiosa. Com o passar dos meses, há queda dos anticorpos, por isso, é necessária a aplicação da 4ª dose em determinados públicos. “Existe uma pesquisa de desenvolvimento de vacina contra a Ômicron, mas é importante ter uma desenvolvida para proteção mais ampla,” diz.
Ulysses acredita que a nova onda é resultado da decisão política de fazer a retirada da obrigatoriedade das máscaras faciais. (MAS)
BUTANVAC
Butantan apresentou resultados da fase 1 do estudo, que mostraram que a vacina é segura e induz produção de anticorpos
Na fase 2, que será em Valinhos, São Caetano e Rio de Janeiro, 400 participantes maiores de 18 anos, sendo 50% idosos, receberão uma dose de reforço da Butanvac ou da Pfizer (para comparação de resultados)
Já na fase 3, serão avaliados três diferentes lotes da Butanvac em 4.000 voluntários adultos, sendo 20% idosos. Os indivíduos serão vacinados com um dos três lotes ou com a vacina da Pfizer
Na fase 3, os testes serão em Rio Preto, Brasília, Porto Alegre, Ribeirão Preto, Salvador, São Paulo e Recife
A Butanvac se apoia em três pilares: produção nacional, baixo custo e facilidade de atualização contra variantes - esse último fator seria um trunfo para combater inclusive a Ômicron
EFICÁCIA
Estudo da Fiocruz divulgado em abril analisou duas situações:
A - duas doses de Coronavac e reforço de Coronavac
- nesse caso, após seis meses, a dose de reforço levou a proteção contra Covid leve de 8,1% para 15%
- contra casos graves, a eficácia passou de 57% para 71,3%
B - duas doses de Coronavac e reforço de Pfizer
- nesse cenário, após seis meses, a proteção aumentou para 56,8% contra Covid leve e para 85,5% para casos graves
COMO ESTÁ A VACINAÇÃO
Crianças menores de 5 anos
- Não há ainda vacina aprovada
- Coronavac pediu aprovação para aplicar em crianças de 3 e 4 anos, mas a Anvisa ainda analisa o pedido
Crianças de 5 a 11 anos
- Devem tomar duas doses do imunizante infantil da Pfizer
- Quem tem a partir de 6 anos também pode tomar duas doses da Coronavac
Adolescentes de 12 a 17 anos
- Devem tomar duas doses da Coronavac ou da Pfizer
- Na última semana, foi iniciada a aplicação da terceira dose - há possibilidade de o reforço ser com imunizante diferente do esquema inicial
Adultos de 18 a 59 anos
- Devem tomar três doses da vacina - há possibilidade de os reforços serem com imunizantes diferentes do esquema inicial
- Os imunizantes disponíveis são AstraZeneca, Coronavac, Janssen e Pfizer
- O Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que a quarta dose vai ser disponibilizada a adultos de 50 a 59 anos
Idosos (60 anos ou mais) e pessoas imunossuprimidas
- Devem tomar quatro doses - há possibilidade de os reforços serem com imunizantes diferentes do esquema inicial
- Já se discute a aplicação de uma quinta dose - em algumas cidades, como São Paulo, já está sendo aplicada em idosos com alto grau de imunossupressão (que têm baixa resposta à ação das vacinas)