Diário da Região
PERIGO

Uso de celular ao volante lidera multas no 1º semestre em Rio Preto

Um dos principais causadores de acidentes de trânsito, os celulares não saem das mãos de muitos motoristas. Mas há punição: em Rio Preto, no primeiro semestre, 6.005 motoristas foram multados

por Millena Grigoleti
Publicado em 16/07/2021 às 20:01Atualizado em 17/07/2021 às 06:35
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Motoristas usam celular enquanto dirigem em ruas de Rio Preto: são três tipos de infrações previstas pelo Código de Trânsito Brasileiro (Guilherme Baffi 16/7/2021)
Motoristas usam celular enquanto dirigem em ruas de Rio Preto: são três tipos de infrações previstas pelo Código de Trânsito Brasileiro (Guilherme Baffi 16/7/2021)
Guilherme Baffi 16/7/2021 (Guilherme Baffi 16/7/2021)
Guilherme Baffi 16/7/2021 (Guilherme Baffi 16/7/2021)
Guilherme Baffi 16/7/2021 (Guilherme Baffi 16/7/2021)
Guilherme Baffi 16/7/2021 (Guilherme Baffi 16/7/2021)
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De janeiro a junho deste ano, os agentes de trânsito emitiram 6.005 multas para motoristas que estavam dirigindo e utilizando o celular, seja falando, digitando ou mesmo segurando a tela em Rio Preto. É uma média de 33 multas por dia, mais que uma por hora.

O número representa uma redução em relação ao ano passado, quando foram registradas 17.429 multas por utilização do celular ao volante, uma média de 1.452 por mês, duas por hora. Ainda assim, é uma quantidade alta de infrações, principalmente se for levado em conta que a Guarda Civil Municipal (GCM) está com boa parte de seu efetivo concentrado em fiscalizar o cumprimento das medidas sanitárias para evitar a disseminação do coronavírus, como festas clandestinas.

De acordo com o Secretário de Trânsito de Rio Preto, Amaury Hernandes, o número de multas seria maior se não fosse a necessidade, mais urgente agora, de combater a pandemia. Ele pontua que não existe um local específico da cidade em que os motoristas estejam utilizando mais seus telefones. “Hoje o índice de acidente por uso do celular é o maior do Brasil. O problema é a distração ao volante”, afirma.

De acordo com a legislação de trânsito, dirigir falando ao celular, com o aparelho no ouvido, é uma infração média; o condutor perde quatro pontos da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e leva multa de R$ 130,16. Já conduzir enquanto segura o aparelho com uma mão, seja para falar no viva-voz ou gravar áudio, ou manusear o celular (digitar mensagem, por exemplo) são atos considerados gravíssimos. A punição é a perda de sete pontos na CNH e multa de R$ 293,47.

O bluetooth, tecnologia que permite que a pessoa fale ao telefone sem manuseá-lo, também tira a atenção do condutor da via, podendo provocar acidentes. O fone de ouvido também não pode ser utilizado, já que o aparato, por exemplo, deixa o motorista alheio aos sons do entorno, como buzinas e sirenes.

Quando se trata de trânsito, qualquer segundo de distração é o suficiente para provocar um acidente grave. Ler uma simples mensagem, por exemplo, leva quatro segundos. Tempo suficiente para percorrer 60 metros “às cegas”.

De acordo com Roger Assis, porta-voz da GCM, tanto falar ao telefone como teclar são atitudes prejudiciais. “De uma forma ou de outra tira a atenção do motorista da via. A gente vê motociclista utilizando celular na moto, o que é muito pior se ele sofrer um acidente do que se ele estivesse dentro de um veículo. A ‘proteção’ é o próprio corpo do motociclista.”

O capitão Noé Cavalari, da Polícia Rodoviária Federal (PRE), elenca alguns tipos de acidentes que podem estar relacionados ao celular no trecho da rodovia Washington Luís (SP-310) entre Cedral e Mirassol, segundo ele o mais movimentado da região e com maior número de colisões. “Os tipos mais comuns de acidente são o choque, a colisão traseira e o engavetamento. O choque é quando o veículo acaba colidindo com um objeto que esteja parado, como uma placa ou veículo no acostamento; a colisão traseira já tem um veículo à frente e ele não consegue frear; e o engavetamento é quando são três ou mais veículos”, explica. “Esse tipo de acidente está intimamente ligado com a distância de segurança, com a atenção que o condutor dispensa no trânsito, e é aí que o celular pode ser o vilão.”

Na BR-153, de acordo com o inspetor Flávio Catarucci, porta-voz da Polícia Rodoviária Federal (PRF), a colisão traseira é o acidente mais comum em decorrência do uso do celular. “Reduz a atenção que o motorista deveria ter no ato de dirigir. Com a atenção reduzida, ele deixa de perceber os perigos que podem surgir, principalmente nos trechos de perímetro urbano da BR”, afirma. “Agora que nós temos obras, em que o trânsito flui e para, flui e para ele acaba se envolvendo em colisão traseira.”

Resolução suspende prazos

A Resolução 828/2021, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), continua valendo no Estado de São Paulo, apesar de todos os pedidos para que ela fosse revogada. Segundo Renato Campestrini, advogado especialista em trânsito, esse ordenamento suspende os prazos por tempo indeterminado para apresentação de defesa, recursos e outros serviços por parte do Detran.

O especialista, no entanto, garante que esse é apenas um adiamento, então não dá para sair usando celular por aí sem esperar nenhuma consequência oriunda das leis. “Só suspende os prazos para apresentação de defesa, recurso, mas as penalidades serão aplicadas quando a Resolução vier a ser revogada.”

Segundo Campestrini, estudos realizados na Inglaterra apontam que dirigir manuseando o celular é tão arriscado quanto conduzir um veículo estando embriagado. “Quando o condutor fala ao celular, e ultimamente o mais comum, manuseia o aparato enquanto conduz, transita, a depender da velocidade, distâncias similares a uma fila de doze veículos estacionados ou um campo de futebol sem estar atento ao trânsito”, explica. “Isso pode resultar em colisões, atropelamentos e coloca a vida do condutor, dos ocupantes do seu veículo e a vida dos demais usuários das vias em risco.”

O especialista lembra ainda que veículo parado no sinal vermelho do semáforo ainda está vermelho, portanto o motorista não deve aproveitar para dar uma “olhadinha” no aparelho. “Quase sempre o semáforo abre, e os veículos demoram a entrar em marcha, ou quando não, temos as pequenas colisões sem danos pelo fato do condutor achar que o semáforo abriu, que o veículo da frente andou e a colisão ocorre.” (MG)

Celular e volante não combinam

Autuações em Rio Preto

    Janeiro: 437
    Fevereiro: 622
    Março: 984
    Abril: 1.359
    Maio: 1.235
    Junho: 1.368
    Total: 6.005

Tipos de multa e punições

Dirigir segurando o celular: segurar o aparelho com uma mão, seja para falar no viva-voz ou gravar áudio - Infração gravíssima, com perda de sete pontos na carteira e multa de R$ 293,47

Dirigir manuseando o celular: digitar mensagem de texto, por exemplo - Infração gravíssima, com perda de sete pontos na carteira e multa de R$ 293,47

Dirigir utilizando-se do celular: o tradicional falar ao telefone enquanto dirige, com o aparelho no ouvido - Infração média, com perda de quatro pontos na carteira e multa de R$ 130,16

Riscos do celular ao volante

Na cidade, em uma avenida a 50 km/h

    Atender ligação: dois segundos de distração
    Deslocamento “às cegas”: 30 metros
    Fazer ligação: três segundos de distração
    Deslocamento “às cegas”: 45 metros
    Ler mensagem curta: quatro segundos de distração
    Deslocamento “às cegas”: 60 metros
    Enviar mensagem curta: seis segundos de distração
    Deslocamento “às cegas”: 90 metros

Na rodovia, a 100 km/h

    Atender ligação: dois segundos de distração
    Deslocamento “às cegas”: 60 metros
    Fazer ligação: três segundos de distração
    Deslocamento “às cegas”: 90 metros
    Ler mensagem curta: quatro segundos de distração
    Deslocamento “às cegas”: 120 metros
    Enviar mensagem curta: seis segundos de distração
    Deslocamento “às cegas”: 180 metros