Seu Carlinhos completa 63 anos como cartorário em Rio Preto
Com disposição invejável e o sorriso como cartão de visitas, Carlinhos, aos 80 anos, segue "autenticando sorrisos"

Fernando Sabino nos diz que “De tudo ficaram três coisas... A certeza de que estamos começando... A certeza de que é preciso continuar... A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar”. E pede, quase em forma de súplica: “Façamos da interrupção um caminho novo. Da queda, um passo de dança. Do medo, uma escada. Do sonho, uma ponte. Da procura, um encontro!”. O genial contista brasileiro, que fora cartorário no começo da vida profissional, parece falar ao piquerobiense de alma rio-pretense Carlos Staut Filho. Aos 80 anos de idade, dos quais mais de seis décadas dedicadas às atividades cartoriais, eis alguém com o vigor do primeiro passo, no primeiro degrau de uma longa caminhada a que chamamos de vida.
Os 63 anos no mesmo ofício – e no mesmo cartório! (o 2º Cartório de Notas de Rio Preto) – acabam de ser completados. Mais precisamente, a data de início é 14 de setembro de 1958, como consta na foto que seu Carlinhos, como gosta de ser chamado e é mais conhecido, guarda com carinho em sua mesa de trabalho, na mesma gaveta em que repousam seu carimbo de tabelião substituto e dezenas de cartões de visita.
A foto, para ele, tem um significado muito especial. Não apenas por registrar o começo de tudo – ele ali um jovem de cabelo bem aparado compenetrado a desafiar a solidez de uma Olivetti. Mas porque também ali aparecem dois colegas de início de jornada: Dirceu Giroldo e Carlos Leite, este uma das vítimas da tragédia do Turvo em que 59 estudantes morreram há 61 anos, em um acidente de ônibus.
Do princípio capturado por aquela foto originalmente quase em 3x4 transcorre um tempo que se confunde com a própria história de Rio Preto. Quando começou, como auxiliar, o prefeito ainda era Alberto Andaló. Para seu Carlinhos, um visionário que preparou Rio Preto para o futuro. “Andaló dizia que deixaria Rio Preto pronta para o ano 2000, e cumpriu a promessa”, diz seu Carlinhos, que atualmente convive com o sétimo tabelião responsável pelo cartório, que passou por alguns endereços antes de “chegar” à rua Voluntários. “Começamos na Bernardino de Campos, ali perto da Casa Rignani. E à medida que o tempo foi passando fui vendo o Centro se transformar e a própria cidade mudar suas feições. Hoje é lugar grande que eu amo, assim como eu amo o meu trabalho. O cartório é minha segunda casa.”

Sempre sorrindo
Para seu Carlinhos, o segredo para a longevidade na profissão é o mesmo que aplica para a vida em geral. “A todos que me procuram para algum conselho, uma orientação, eu digo: façam como eu faço todas as coisas, sempre sorrindo.”
E de sorriso em sorriso ele atravessou décadas, a concordar com mestre Sabino – fazendo da queda, um passo de dança; do medo, uma escada; do sonho, uma ponte; da procura, um encontro. “Aprendi a atender e a entender todas as pessoas que passam por aqui, que requerem nossos serviços. Dialogar com as partes é fundamental”, ensina.
Assim como na vida e toda a sua complexidade, não há uma receita pronta para a trajetória deste cartorário. Mas se assim fosse, ela traria ingredientes indispensáveis: amor ao que se faz regado com muitas doses de sorriso, além de um providencial distanciamento de tudo o que nos prende nesta chamada vida moderna. Carro no dia a dia? Nem pensar. Vai e volta de casa para o cartório, incluindo na hora do almoço, sempre à pé. WhatsApp? Iphone? Facebook? Esqueçam! Seu Carlinhos fez um pacto com as coisas que são tão simples quanto simples pode ser o essencial pra ser feliz: em cima da mesa apenas o telefone (fixo), caneta e carimbo. O eletrônico passa à margem, o digital não compra quem cultiva o que é essencial, as amizades e a família – a esposa, Natália, as três filhas e seis netos.
“As coisas precisam ser vividas no seu exato tempo. E uma lição que faço questão de compartilhar com os colegas: coisas do trabalho ficam no trabalho, coisas de casa ficam em casa.”