Diário da Região
ALIMENTAÇÃO

Hospitais de Rio Preto apostam na humanização e individualização de cardápios

Ideia é oferecer refeições mais atrativas, deixando aquela fama de que comida de hospital é ruim e sem gosto para trás

por Simone Machado
Publicado em 14/09/2021 às 21:31Atualizado em 15/09/2021 às 08:49
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Exemplo de prato servido no hospital Austa: equipe de nutrição visita cada paciente (Divulgação)
Exemplo de prato servido no hospital Austa: equipe de nutrição visita cada paciente (Divulgação)
Cozinha do Hospital de Base de Rio Preto: unidade produz cerca de 4 mil refeições por dia para atender os pacientes. HB tem também padaria própria, onde são produzidos
bolos, tortas e pães de queijo (Divulgação)
Cozinha do Hospital de Base de Rio Preto: unidade produz cerca de 4 mil refeições por dia para atender os pacientes. HB tem também padaria própria, onde são produzidos bolos, tortas e pães de queijo (Divulgação)
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Convencer as pessoas sobre a importância de comer alimentos saudáveis como frutas, legumes e verduras nem sempre é tarefa fácil. A empreitada fica ainda mais difícil quando se trata de um paciente que está doente e hospitalizado, momento em que, além da renúncia normal aos alimentos, há ainda o desconforto da doença.

Muitas vezes, a falta de atratividade nas refeições servidas no ambiente hospitalar não contribui para a melhora do apetite do paciente. Este fato, associado ao próprio tratamento, que em muitos casos afeta o paladar, e aos longos períodos de jejum aos quais eles são submetidos para a realização de exames, contribuem para que o paciente fique desnutrido – principalmente se esse paciente for idoso ou criança.

De olho nesse problema, os hospitais passaram a oferecer refeições mais saborosas e atrativas, deixando aquela fama de que comida de hospital é ruim e sem gosto para trás. E uma das ferramentas para mudar esse conceito está sendo a aposta na humanização e individualização do cardápio em alguns casos.

“Temos um manual de dietas pré-definidos que são prescritos pelos médicos para cada tipo de paciente, mas dentro desses cardápios é possível que o paciente escolha aquele que mais lhe agrada. Além disso, a equipe de nutrição visita cada paciente que está internado para entender os hábitos alimentares dele e assim deixar o serviço mais humanizado”, explica a nutricionista Ana Luiza Godinho, coordenadora do Serviço de Nutrição do Austa Hospital.

Produzindo cerca de 4 mil refeições por dia, o Hospital de Base (HB) de Rio Preto, que atende pacientes de 102 cidades da região, também aposta na humanização na hora de preparar e servir as refeições como estratégia para ajudar na recuperação dos pacientes.

A cada semana, um novo cardápio é elaborado. Todos são compostos por arroz, feijão, legumes, verduras e um tipo de carne, que pode ser assada ou frita, além de uma fruta que, normalmente, é servida na hora do lanche. Sempre seguindo uma dieta equilibrada em nutrientes e tentando agradar o maior número de pacientes.

“Para deixar as refeições mais saborosas, utilizamos temperos naturais que têm seu sabor realçado, facilitando na aceitação alimentar durante a internação. Além disso, temos uma padaria interna própria que produz pães e outros alimentos como bolos, tortas e pães de queijo que são enviados aos pacientes. Com esta produção, temos a autonomia de criar variedades de produtos e manter a qualidade deles”, explica a nutricionista do HB Ludmila Buzello.

A humanização no setor de alimentação passa também pelas “exceções”. Mesmo não tendo valor nutricional adequado, alguns alimentos são adicionados ao cardápio devido aos pedidos feitos pelos pacientes. Mas essa regra não vale para aqueles pacientes que apresentam alguma restrição, nesses casos a alimentação segue à risca a recomendação médica.

“Já tivemos pacientes que pediram cuscuz com ovo mexido, tapioca, panqueca de queijo, omelete com queijo, macarrão alho e óleo e lanches. A gente faz o possível para atender as vontades dos pacientes, mas dentro do que ele está autorizado a comer”, acrescenta Ludmila.

Benefícios médicos

O geriatra Lucas Motta Fernandes, do Austa Hospital, destaca que a alimentação é parte do tratamento de qualquer paciente, por isso ações que os incentivam a comerem melhor contribuem para fortalecer o sistema imunológico.

“Em idosos, é muito comum a gente perceber que eles saem muito mais fraco da internação e esse fato está diretamente relacionado com a alimentação. Por isso é muito importante investir nesse setor, já que não é só oferecer uma comida nutritiva, essa refeição precisa estar palatável e bem apresentada para estimulá-los a se alimentarem mais e melhor”, explica o geriatra.

Manter uma alimentação balanceada com nutrientes adequados e atrativa ao paladar, ajuda diretamente na recuperação do paciente. A alimentação faz parte do tratamento médico e ajuda a melhorar quadros de infecção e na cicatrização em casos de acidentes ou cirurgias.

“A importância da terapia nutricional durante a internação é de prevenir ou recuperar o estado nutricional, evitando a progressão para um quadro de desnutrição grave, auxiliando nos sintomas e diminuindo o tempo de permanência intrahospitalar para melhora da qualidade de vida do paciente”, explica Ludmila Buzello, nutricionista do Hospital de Base.

A individualização do cardápio seguindo as necessidades de cada paciente aliada à estética com que o alimento é servido traz benefícios que vão além dos clínicos. Essa humanização no tratamento proporciona acolhimento para que o paciente junto com a família consiga enfrentar as adversidades do tratamento.

“A alimentação está diretamente ligada à alegria, por isso é muito importante investir nela. E isso está diretamente ligado à melhora clínica do paciente já que quando ele se sente acolhido, o tratamento também flui melhor”, acrescenta Ana Luiza. (SM)

Hora da refeição se torna mais leve

Por causa de um câncer na perna, a estudante Lígia Fernandes, de 12 anos, está internada no Hospital da Criança e Maternidade (HCM), em Rio Preto. Entre idas e vindas para o tratamento já são oito meses de hospitalização.

Na tentativa de deixar o ambiente mais leve e humanizar o atendimento, a equipe hospitalar vem atendendo alguns pedidos da menina. Moradora de Cajazeiras, na Paraíba, ela está habituada com alimentos que não fazem parte do dia a dia do rio-pretense, mas teve suas refeições adaptadas e personalizadas.

“Os médicos incluíram no cardápio dela o cuscuz e a tapioca, que são coisas que a gente come todos os dias lá em casa e aqui quase não se vê. Isso ajuda com que ela coma um pouquinho, já que o tratamento da quimioterapia é bastante complicado e deixa o paciente bem debilitado”, explica Vanusa Fernandes Ferreira, mãe da garota.

Ainda segundo a mãe, que é técnica em enfermagem, a qualidade da alimentação oferecida no HCM vai além da encontrada em outros hospitais do país, que em muitos casos sofrem até com a falta de itens básicos.

“É uma alimentação saborosa e o cardápio é bem diversificado. Se 2% dos hospitais do país tivessem algo parecido nosso SUS (Sistema Único de Saúde) seria de primeiro mundo”, diz. “Essa adaptação nas comidas da Lígia é uma forma de demonstrar o quanto toda a equipe se importa com o paciente. É uma forma de carinho e faz muito bem para a gente”, acrescenta Vanusa. (SM)