‘Provão’ cobra inglês de alunos que não têm aulas do idioma em Rio Preto
Estudantes reclamam que foram prejudicados no Provão Paulista

Alunos do período noturno de pelo menos três escolas estaduais de Rio Preto estão sem aula de inglês. Mesmo assim, a Secretaria Estadual de Educação colocou questões da língua estrangeira no Provão Paulista, exame criado pelo governo do Estado que vai permitir o acesso de alunos da rede pública a universidades conceituadas, como USP, Unesp e Unicamp. Estudantes disseram ao Diário que chutaram a resposta ou deixaram a pergunta em branco.
“Eu não tenho aula de inglês na minha escola, Alzira do Valle Rollemberg. Como eu iria responder as duas questões da prova? Sorte que entendo um pouco, porque fiz um cursinho de inglês por conta própria”, diz uma estudante de 16 anos. Além da escola Alzira, no bairro Dom Lafayete, também estão sem as aulas inglês as escolas Antônio de Barros Serra (Boa Vista) e Celso Abbade Mourão (Solo Sagrado). Os alunos reclamam que foram prejudicados, afinal o Provão Paulista, lançado neste ano, será porta de entrada a faculdades públicas.
“Não tenho aula de inglês, mas meus amigos que estudam durante o dia têm. Não entendo essa diferença na mesma escola”, diz uma estudante de 15 anos, do bairro Solo Sagrado, zona Norte de Rio Preto.
Outra estudante, de 16 anos, da escola estadual Prof. Antônio de Barros Serra, afirma que o problema não se restringe apenas a periferia de Rio Preto. “Aqui na Boa Vista também não temos aulas de inglês. Estranho é que minha mãe tinha aula de inglês. Não sei porque mudaram”, afirma.
Fundamental
A professora de inglês Nelise Nolli Sasso acha fundamental o ensino da língua estrangeira desde a pré-escola até o ensino médio. “Os pais já colocam os filhos de três a quatro anos em escolas bilíngues, porque sabem que futuramente vão precisar. O aluno vai precisar para um vestibular ou até para uma vaga de emprego. Tem que ter na grade curricular da escola pública”, diz a tradutora e revisora.
Formada em letras pelo Ibilce, campus rio-pretense da Unesp, com doutorado em tecnologia da informação, Arlete Aparecida Mathias também critica a falta de inglês para estudantes do período noturno. “A economia é globalizada e a língua comercial entre os países é o inglês. Os alunos sem aprendizado desta língua estrangeira ficam com desenvolvimento restringido”, critica a educadora.
Arlete lembra que o inglês é necessário até para quem usa celulares, porque nem todos os aplicativos são traduzidos para o português, o que torna o ensino da língua estrangeira necessária.
Para o diretor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Roberto Guido, a falta de aula de inglês para o período noturno é resultado da falta de investimento do governo estadual na contratação de professores. “Não faltam só professores de inglês, mas também de matemática, geografia e física, porque todo mundo está desanimado com os salários e as condições de trabalho da rede estadual”, afirma o sindicalista.
Para exemplificar, Roberto afirma que, dos 200 mil professores da rede, 50% têm contratos temporários, que ocupam vagas de concursados que deixaram a carreira, por desistência ou aposentadoria. Um concurso que prevê a contratação de 15 mil educadores está em andamento.
Resposta
Mesmo com os depoimentos dos alunos afirmando a falta de aulas de inglês, a Secretaria Estadual de Educação disse em nota que as aulas da disciplina nas escolas Alzira Valle Rollemberg, Prof. Antônio de Barros Serra e Celso Abade Mourão foram atribuídas normalmente. "Quando há a ausência pontual de algum professor, as aulas são ministradas por um docente eventual, de modo que não haja prejuízo pedagógico a nenhum estudante", disse a nota.
A pasta afirmou ainda que em agosto realizou um concurso público para a contratação de 15 mil professores dos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. "Na região de São José do Rio Preto são 503 oportunidades. A expectativa é que os aprovados comecem a lecionar já no próximo ano letivo".
A nota finaliza informando que o Provão Paulista Seriado tem questões elaboradas pela Fundação Vunesp "de acordo com o Currículo Paulista. O exame busca avaliar as diferentes habilidades que os estudantes desenvolveram ao longo de todo o Ensino Médio, exigindo do candidato interpretação de texto e questões contextualizadas".
Provão Paulista
O que é
Avaliação da Secretaria da Educação do Estado que oferece mais uma chance de alunos da rede pública ingressarem nas instituições estaduais paulistas de ensino superior em 2024
Vagas
Serão oferecidas 15.369 vagas em instituições como USP, Unesp, Unicamp, Univesp e Fatec
Cumulativo
Os resultados das provas são cumulativos. Ou seja, quem está em 2023 na 1ª série do Ensino Médio fará provas em 2024 e 2025 e todos os resultados serão contabilizados para que esse estudante seja aprovado, ou não, em uma das universidades do Estado
Provas
Exames ocorreram na semana passada e nesta. Apesar de facilitar o ingresso em um curso superior gratuito, o Provão Paulista Seriado não exclui a possibilidade de os estudantes interessados também participarem do Vestibular das Fatecs ou das universidades, aumentando as chances de conseguir uma vaga no Ensino Superior.