Mundo dos games cresce, conquista jovens e se torna profissão dos sonhos
Entre jogadores profissionais e streamers, rendimentos variam de R$ 3 mil a R$ 20 mil, podendo ultrapassar até os R$ 100 mil para os mais famosos



A profissão do futuro já está mais do que presente. Se perguntarmos a um grupo de jovens e adolescentes o que eles querem ser ‘quando crescer’, as respostas já estão muito diferentes de respostas como artista ou jogador de futebol. Em Rio Preto e região, o sonho de se tornar um gamer profissional desperta cada vez mais a atenção do público por ter o potencial de unir uma paixão, que são os jogos, com a possibilidade de ganhar dinheiro com isso.
Exemplo disso é o rio-pretense Felipe dos Santos, de 18 anos, que joga em um time amador de League of Legends (jogo de estratégia) da cidade. Ele, que terminou o ensino médio no ano passado, vem se dedicando integralmente na busca desse sonho. “Comecei a jogar com 14 anos e, ao perceber que tinha aptidão para a coisa, passei a levar mais a sério de um ano pra cá. Depois de terminar a escola, recebi o apoio dos meus pais para ir atrás desse objetivo durante esse ano, sem precisar pensar em faculdade”, explica Felipe.
A justificativa para tanta dedicação é a grande concorrência em meio à busca pela profissão dos sonhos. “Na rotina do meu time nós treinamos contra outras equipes três vezes por semana, além de jogar campeonatos todos os finais de semana. Quando não estamos treinando o coletivo, no centro de treinamento do time, cada um pratica de sua casa para melhorar as habilidades individuais”, conta o jovem, que tem suas metas muito bem definidas. “Quero melhorar no jogo para cumprir meu sonho de ser pro player (jogador profissional) e ganhar dinheiro com o que amo fazer”, finaliza.
Dentro deste mercado, que parece ter possibilidades infinitas de crescimento por ter sua base toda online, as opções de monetização são muitas. Desde os pro players (jogadores profissionais) que são contratados a salário por um time de eSports (esportes eletrônicos) para treinar e disputar campeonatos, até streamers, que fazem transmissões ao vivo dos seus jogos em plataformas específicas e ganham dinheiro conforme conquistam audiência.
Para se ter uma ideia, no último campeonato mundial de Valorant (jogo de tiro), realizado no ano passado em Istambul, na Turquia, a grande campeã da disputa foi uma equipe brasileira, a Loud, que recebeu uma premiação total de US$ 300 mil, o equivalente a R$ 1,5 milhão na cotação atual. O prêmio, na grande maioria das equipes, é dividido entre jogadores e organização.
No mundo das transmissões de jogos ao vivo, os ganhos de quem possui boa audiência também podem impressionar. Um caso famoso é o do streamer Alexandre Borba, conhecido no universo gamer como “Gaules”, que teve seus rendimentos divulgados após um vazamento de dados da plataforma Twitch.tv, onde ele realiza suas transmissões. Segundo os dados, Gaules teria recebido o valor de US$ 2,8 milhões em um período de 14 meses, entre 2019 e 2020, o que daria cerca de R$ 11 milhões na cotação da época.
Devido à enorme audiência alcançada por estes streamers e nos torneios profissionais, marcas globalmente conhecidas como BMW, Coca-Cola e Red Bull já investem pesado no cenário gamer. “É sobre se conectar com o público jovem. As marcas querem estar próximas deste público e este público está próximo dos games, então sempre trabalhamos para que as marcas enxerguem essas organizações como um mercado em potencial para elas” explica o empresário Luis Felipe, que começou sua jornada no mundo gamer em Rio Preto e hoje é chefe de operações de uma equipe internacional de eSports.
Ele conta que a estrutura de um time vencedor no universo gamer vai muito além de jogar o jogo. “Hoje, aqui na nossa organização, temos uma gaming house (casa de jogos) para o pessoal treinar que é completa, com computadores, centro de performance, psicólogo, cozinheiro, áreas de descanso e lazer, tudo para que o time possa entregar o máximo de desempenho”, explica Luis Felipe. (Colaborou Sergio Torqueti)
O caminho para se tornar um gamer profissional

Um dos técnicos mais consagrados do Brasil, o também ex-jogador de eSports, Thiago “Djoko” Maia, conversou com o Diário e explicou como é o processo para quem deseja entrar no universo competitivo dos games. Segundo ele, a descoberta do talento para se tornar profissional é feita pelos próprios jogadores durante as partidas, conforme vencem e somam altas pontuações nos ranqueamentos dos jogos.
"O caminho para começar no profissional, na maioria dos jogos, começa nas filas ranqueadas (partidas que são jogadas da própria casa). O jogador começa a se destacar nos níveis mais elevados de jogo das filas e passa a enfrentar os profissionais, que também usam a fila ranqueada para treino individual”, explica Djoko, que complementa: “dessa forma, começa a diariamente ganhar espaço e mostrar sua habilidade, o que leva a convites para equipes amadoras e depois profissionais”.
Seguindo exatamente este caminho, o morador de Bady Bassitt Rafael Vinicius, de 20 anos, vem batalhando por seu sonho de se tornar um pro player. Após atingir os ranques mais altos no Valorant (jogo de tiro), ele faz transmissões ao vivo de suas partidas buscando visibilidade.
"Eu sigo jogando nos ranques mais altos, pois lá é o melhor holofote para este cenário. Além de jogar, também faço lives na Twitch (plataforma de streaming gamer) para aumentar minhas chances de ser visto”, explica Rafael.
Ele conta que já passou por experiências competitivas e sentiu o “gostinho” da profissão. “Tínhamos um time semi-profissional, onde disputávamos campeonatos de segunda e terceira divisão. Tudo era levado muito a sério, como nos esportes tradicionais, os treinos, concentração”, diz.
Segundo ele, o time acabou se desfazendo por falta de tempo dos jogadores, que começaram a estudar e trabalhar. “Ainda não recebíamos um salário e era todo mundo muito novo, sendo eu, com 20 anos, o mais velho. Chegou um momento que um precisou ajudar em casa e começou a trabalhar, outros dois entraram para a faculdade e não conseguiam mais conciliar com a rotina de treinos e assim o time foi acabando”, conta Rafael.
Presente em toda a evolução do cenário gamer no Brasil, o técnico Thiago “Djoko” Maia afirma que a carreira de jogador profissional de eSports está no seu melhor momento, tanto em estabilidade quanto em segurança. “Os campeonatos repercutem bastante nacional e internacionalmente e a chegada de ligas franqueadas traz ainda mais estabilidade e longevidade para os envolvidos nesse meio”.
Ele destaca que, assim como nos esportes tradicionais, essa uma carreira atrelada à performance. “Boas atuações garantem renovações contratuais e condições saudáveis nas carreiras”, finaliza. (ST)
Rio Preto presente nos eSports


Atentos ao potencial do mercado de jogos online, empresários da cidade que também são amantes dos jogos vêm se movimentando em direção ao cenário gamer. É o caso do rio-pretense Hugo Higashiharaguti, que é proprietário de uma lan house no centro da cidade. Lá são organizadas competições frequentes dos jogos mais populares da internet, com premiações em dinheiro e equipamentos gamer.
“Antes de ser um empresário sempre fui gamer, desde criança, então incentivar o pessoal a jogar é um grande prazer para mim”, explica Hugo, que encontrou nos games uma forma de também desenvolver habilidades da vida real. “Eu vejo os games com uma visão mais ampla. Hoje, a maioria dos jogos exige uma tomada rápida de decisão, liderança, estratégia e trabalho em equipe, pontos importantíssimos em nossas vidas”, diz.
Com o objetivo de ser a ponte entre os jovens e o cenário competitivo dos jogos eletrônicos, o professor rio-pretense Guilherme Silva fundou uma equipe amadora de eSports para captar talentos e capacitá-los para a profissionalização no mercado gamer. Ele, que além de proprietário da equipe é também treinador, destaca as metas do projeto.
“Hoje nós queremos ser o canal, levar os jogadores até os seus objetivos. Para isso nós teremos aqui aulas (do jogo em que atuam), acompanhamento visando desenvolvimento, orientações e uma estrutura para que eles possam treinar e também ter as experiências competitivas”, conta Guilherme.
Segundo ele, o objetivo da organização é ter três times completos, sendo dois de Rio Preto e um nacional. “Queremos essa visibilidade não só aqui, mas no País todo, por isso iremos desenvolver o trabalho com essas três equipes”.
Em paralelo, o professor explica que organizar e participar de campeonatos na região também está entre os próximos passos do time. “Estamos sempre ligados no que acontece na região, queremos participar dos campeonatos e também organizá-los no futuro. Tudo isso para mostrar o potencial que esse meio tem e atrair investimentos para o setor”, afirma.
Além dos empresários, o Sesc Rio Preto frequentemente organiza competições de jogos eletrônicos e palestras voltadas ao universo gamer. (ST)
GAMERS
Jogador profissional
- É aquele que joga em alto nível e é contratado por um time profissional de eSports para treinar e disputar campeonatos
- Recebe salário mensal e também uma fatia das premiações das competições
- Tem rotina intensa de treinamentos, que costumam durar entre 8 e 12 horas por dia, onde busca desenvolver a parte estratégica da equipe, as habilidades individuais e também estudar os adversários
- Tem acompanhamento de treinadores, psicólogos e massagistas para garantir um exercício saudável da profissão e o melhor desempenho possível
Streamer
- Transmite ao vivo os seus jogos e a si mesmo em plataformas específicas de streaming para gamers, como a Twitch.tv e o Facebook Gaming
- Não necessariamente precisa ser bom ou focar em um só jogo, pois tem seus ganhos relacionados à quantidade de espectadores que consegue atrair para suas transmissões
- Monetiza de diferentes formas dentro da plataforma, entre elas o recebimento de uma parte dos valores de propagandas que são passadas pela plataforma durante as transmissões
- Pode receber também assinaturas de seus espectadores, onde, em troca de um valor mensal, concede benefícios para esses assinantes, como não assistir mais propagandas
TIPOS DE PLATAFORMAS E JOGOS
Os gamers podem exercer seu trabalho em três diferentes plataformas:
computador, celular ou console, dependendo da compatibilidade do jogo
Diferentes gêneros
Os jogos têm diferentes gêneros, sendo os mais populares os FPS, Moba e Battle Royale.
1 FPS - Sigla de “First Person Shooter”, que pode ser traduzido como “Atirador
em Primeira Pessoa” ou, simplesmente, jogo de tiro, que consiste em
eliminar a equipe adversária buscando vencer cada rodada. Ex: CS:GO
2 Moba - Sigla de “Multiplayer Online Battle Arena”, ou “Arena de Batalha Multijogadores Online”. Consiste em dois times formados por 5 pessoas
cada onde o objetivo é destruir a base do time inimigo. Para isso, são usadas diversas estratégias e muitas batalhas dentro do jogo. Ex: League of Legends
3 Battle Royale - Pode ser considerado um subgênero dos FPS. Consiste em
um jogo onde uma grande quantidade de jogadores (de 100 a 200) são
colocados paralelamente em um grande ‘mapa’ e precisam coletar armas e equipamentos e lutar uns com os outros até que reste somente um. Ex: Fortnite
PARA SER GAMER
- Computador, celular ou console que tenha as configurações mínimas necessárias para rodar o jogo escolhido ou fazer transmissões ao vivo sem travamentos
- Cadeira e mesa confortáveis para longos períodos de jogos
- Dividir o tempo entre jogar e estudar o jogo buscando se desenvolver
- Horas de dedicação
- Alimentação balanceada e prática de exercícios para se manter saudável física e mentalmente
VOCABULÁRIO GAMER
Line-up: elenco de jogadores
Call: ordem ou comando para executar ações coordenadas em grupo
Combo: usar de forma sequencial diversas habilidades
Counter: ação de contra-ataque para responder a uma jogada
Frag: pontuação conquistada ao abater um inimigo
Gank: realizar uma emboscada para o adversário
HP: pontos de vida do seu personagem dentro do jogo
Lag: lentidão causada por problemas de conexão que interfere no desempenho
do jogador
MVP: jogador de maior destaque dentro da partida
Noob: utilizada para se referir a jogadores novatos
Cuidados com a saúde física e mental
Para garantir sempre o melhor desempenho e uma carreira longeva, os gamers, profissionais e amadores, precisam tomar uma série de cuidados com a saúde, tanto física quanto mental. É o que explica a psicoterapeuta Karina de Oliveira Younan, que faz alguns alertas importantes para os jovens e também para os pais.
“É uma atividade que tem que andar paralelamente a exercícios físicos para compensar todo esse tempo de cadeira, já que é um trabalho sentado. Além disso, os gamers começam nesse meio muito novos, tornando ainda mais importante criar bons costumes”, diz Karina.
Justamente por conta do início tão precoce, a psicoterapeuta explica que o sistema límbico desses jovens não está totalmente formado e, pela alta competitividade dos jogos, isso pode trazer riscos. “As vezes eles podem recorrer a medicamentos para se manter em alerta, o que é muito perigoso. Por isso, os pais precisam amparar e supervisionar esse tempo de tela e não deixar que isso afete o desenvolvimento neurológico e psicológico desses jovens”, afirma.
Especialistas orientam algumas outras condutas para evitar problemas relacionados às longas horas jogando. Entre elas estão o cuidado com a visão, em que recomenda-se, no mínimo, uma consulta ao ano com um oftalmologista para verificar possíveis alterações.
Também é de extrema importância criar o hábito de fazer alongamentos antes de jogar, esticando dedos e punhos em diferentes posições para que se evite dores futuras causadas por movimento repetitivo, como a tendinite.
Por fim, fazer pequenas pausas a cada uma hora de jogatina e se alimentar bem estão entre as maiores recomendações dos especialistas. (ST)