Diário da Região
CIBERATAQUE

Hackers invadem Instagram de influencer de Rio Preto e usam perfil para aplicar golpes

Criminosos pediram R$ 10 mil para devolver a conta; pesquisador em segurança digital diz que Brasil tem uma "central de trambiques"

por Núcleo Digital
Publicado em 24/11/2021 às 15:47Atualizado em 24/11/2021 às 18:40
Em publicação, criminosos usam a loja virtual da influencer para vender televisores (Reprodução/Arquivo Pessoal)
Em publicação, criminosos usam a loja virtual da influencer para vender televisores (Reprodução/Arquivo Pessoal)
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A influenciadora digital Paula Gerolim, 31 anos, de Rio Preto, teve o o perfil no Instagram hackeado e o WhatsApp usado por golpistas que tem usado seu nome para vender, de forma fraudulenta, eletrônicos e roupas, enganando pelo menos 18,8 mil seguidores que acompanham suas postagens diariamente.

Uma das vítimas foi a própria tia de Paula, que perdeu R$ 3,5 mil. A influenciadora disse que já tentou suspender a conta junto com a empresa responsável pelo Instagram no Brasil, mas não obteve resposta. "Os bandidos são muito profissionais", contou a influencer. Para devolver a conta, os invasores digitais pediram ao marido da empresária uma espécie de "resgate" no valor R$ 10 mil, que não foi pago. "Ainda estou vivendo um pesadelo, eles estavam vendendo iPhone, geladeira, televisão e agora estão vendendo as minhas próprias roupas", disse Gerolim. 

Ela é empresária no mercado de moda feminina e contou à reportagem do Diário que outras pessoas também estão caindo nessa modalidade de ataque cibernético. No início do mês, uma outra influenciadora foi vítima do mesmo golpe em Rio Preto.

Paula denunciou o caso à Polícia Civil. A situação perdura desde a última sexta-feira, 19. Ela pretende abrir um processo na Justiça contra a operadora de celular por conta da invasão. 

A influenciadora também contratou um especialista em segurança digital para tentar identificar os hackers e recuperar a conta roubada. Paula também perdeu o controle da conta de sua loja virtual e está criando um novo espaço de trabalho.

Maior exposição

Um dos fatores que podem explicar o crescimento desse tipo de apropriação de dados pessoais está no aumento no uso das plataformas digitais, conforme revela uma pesquisa global com 25 mil internautas, divulgada em abril do ano passado pela Consultoria Kantar. Durante a pandemia o WhatsApp teve aumento de 40% no uso. Já entre os usuários do Facebook e Instagram, na faixa etária dos 18 e 34 anos, houve um aumento de mais de 40% entre aqueles com menos de 35 anos.

Isso quer dizer que as pessoas que estão à margem de uma infraestrutura de segurança nas redes como nas grandes corporações, o que os especialistas chamam de "superfície de ataque”, aumentou consideravelmente.

Anúncio feito por golpistas tentando vender um Iphone usando a loja da vítima (Reprodução/Arquivo Pessoal)
Anúncio feito por golpistas tentando vender um Iphone usando a loja da vítima (Reprodução/Arquivo Pessoal)

'Clonaram meu chip'

No caso da rio-pretense Paula Gerolim, ela acredita que os dados de sua loja virtual foram subtraídos por meio do número do celular. "Eles clonaram o meu chip e pegaram todas as minhas informações", contou.

Após tomarem a conta do Whatsapp, os golpistas pediram dinheiro para a tia dela. Na mensagem, os criminosos diziam que precisavam pagar um fornecedor e, a mulher, acreditando que era sobrinha quem estava pedindo os valores, repassou os R$ 3.500. "Como ela [tia] confia em mim, a gente é bem família, então fez o PIX e descobriu o que aconteceu quando foi na loja. Já no sábado eu consegui pegar meu WhatsApp de volta. Estou com prejuízo porque já são vários dias sem vender pelo Instagram".

Em uma das publicações, golpistas criaram um anúncio falso que afirmava que a loja toda da empresária estava com até 50% de desconto em todos os itens.

Engenharia social

A forma como esse tipo de ataque acontece é variada exige certa relação de confiança, explica o professor Adriano Mauro Cansian, pesquisador em segurança digital da Unesp de Rio Preto. O método usado para identificar esses hackers é complexo. É preciso quebrar o sigilo do site hackeado, da própria aplicação, no caso em específico o Instagram da vítima, e até o acesso à própria rede mundial de computadores. "Como acontecem muitos desses crimes acaba não compensando", diz Mauro.

Outro fator é o risco de exposição de dados valiosos em redes sociais. Uma forma de se proteger nas redes sociais é fazer atualização constante de senhas e autenticação de login em duas etapas e não clicar em links que sejam duvidosos. "Computador só faz aquilo que a gente manda ele fazer, tem que fazer backup, usar um gerenciador de senhas. Não tem muita diferença do mundo virtual com o real", explica Mauro.

'Central de trambiques'

O professor salienta que ataques virtuais estão caindo ao longo do tempo, justamente por causa do aprimoramento tecnológico dos mecanismos de segurança das próprias plataformas. Além disso, vale lembrar que o ocorrido com a influencer Paula Gerolim tem a ver com engenharia social: a partir de uma conta já hackeada ou por mensagens enviadas para outras pessoas, o estelionatário se coloca como alguém da família ou amigo precisando de dinheiro. "O Brasil tem uma central de trambiques, a criatividade não para. Está no DNA do brasileiro. Muitas pessoas caem em golpes porque querem levar vantagem desde os tempos imemoriais", diz Adriano. 

A reportagem procurou a assessoria do Instagram no Brasil para comentar o caso, mas até fechamento não recebeu resposta.

(Colaborou: Guilherme Ramos)