Estudantes mobilizam Unesp, Famerp e escolas de Rio Preto e região
Cerca de 2 mil estudantes da Famerp, da Unesp e da rede estadual de Rio Preto foram às ruas protestar contra cortes do governo federal na Educação. Ao menos 20 alunos ficaram sem bolsas de estudos

Cerca de dois mil estudantes, segundo estimativa da Guarda Civil Municipal (GCM), de escolas estaduais e universidades públicas de Rio Preto, se uniram nesta quarta-feira, 15, na greve nacional da Educação contra os cortes de verba da área, que atinge R$ 7,4 bilhões neste ano. A redução de custos decretada em março atingiu 20 bolsas de pesquisas no município. Manifestantes também protestaram contra a Reforma da Previdência.
No município, o movimento começou com mobilizações do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) no início da manhã. Na rede estadual de Rio Preto, 15 escolas não tiveram aula. Segundo a GCM, 50 manifestantes passaram pela Praça Dom José Marcondes com cartazes e reivindicações pela manhã.
Alunos da Famerp e do Ibilce também suspenderam as aulas e aderiram ao movimento. Com cartazes com dizeres "Educação não está à venda" e "A pesquisa destrói mitos", os alunos protestaram, no final do dia, no Centro, e em frente à Câmara Municipal.
Para a estudante de medicina Caroline Ferreira de Lima Silva, 21 anos, a manifestação da faculdade vai além dos cortes. "A mobilização coloca os estudantes contra o desmonte do ensino público, pregado pelo atual governo", afirmou. "É uma oportunidade para reivindicar os 22% que estão congelados pelo governo estadual", disse.
Aluno de psicologia, Lucas da Costa Gazzola, 27 anos, também protestou. "Um movimento que conseguiu unir os três cursos responsáveis por levar pesquisas e resultados para a comunidade".
A estudante do curso de enfermagem, Ana Clara Teixeira, 21 anos, lembrou da participação dos estudantes nos atendimentos do SUS para cobrar apoio da sociedade. "Os efeitos dos cortes nos investimentos vão ser sentidos na própria saúde pública. Durante os atendimentos, 95% dos pacientes consideram nosso atendimento como bom", disse. "Aqui não tem balbúrdia, o investimento não é gasto, é de fato para ter retorno", complementou Caroline.
Alunos da Unesp levaram panfletos para informar a população sobre as pesquisas e trabalhos para a comunidade. "Para mostrar que a Unesp oferece curso de línguas, atividades para idosos, cursinhos preparatórios para vestibular, ações para doação de sangue, além das pesquisas", afirmou a aluna do curso de tradução Maria Rita, 19 anos.
Para Jéssica Cristina de Moraes, de 27 anos, do curso de pedagogia, o fato de o campus ficar distante leva a população ao desconhecimento. "Cria uma lacuna, então a intenção é mostrar que a Unesp faz parte do dia a dia da população", ressaltou. "Existe uma barreira e quem precisa estar dentro da universidade não tem conhecimento que poderia estar lá", complementou Ana Elisa, 24 anos.
CortesPelo decreto presidencial, o Ministério da Educação bloqueou 24,8% da verba destinada às instituições federais para pagar as chamadas contas discricionárias. Nesta redução, entram recursos destinados a pagamento de despesas, materiais e investimentos em pesquisas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações também sofreu cortes. As decisões cortaram 18 bolsas (dez de doutorado e oito de mestrado) da Unesp e outras duas bolsas da Famerp.
Na Unesp, duas bolsas do doutorado do grupo de excelência foram devolvidas. Do restante bloqueado, cinco são do departamento do curso de engenharia de alimentos. "Esses alunos tinham acabado de fazer a seleção para o mestrado e, quando fomos informados, as bolsas não estavam disponíveis mais", afirmou o professor João Claudio Thomeo. "Tinha aluno que tinha deixado emprego, outros tinham deixado outras bolsas", reforçou.
O professor criticou os cortes na Educação. "De imediato nós estamos vendo os cortes dos investimentos em pesquisas. Ao longo prazo, essa redução de recursos da área vai levar a uma piora na formação dos alunos da educação básica. Eles vão chegar com uma qualidade pior na faculdade e daqui também sair como um profissional pior", disse.
A Famerp enviou nota afirmando que "o corte de verbas, tanto federais, estaduais ou municipais, prejudica toda a cadeia do ensino".
RespostasSobre a paralisação, a Secretaria Estadual de Educação do Estado informou que a mobilização não foi direcionada à pasta. O MEC não respondeu aos questionamentos. A nota oficial, publicada no último dia 8, informa que "o bloqueio preventivo realizado nos últimos dias atingiu apenas 3,4% do orçamento total das universidades federais".
Protestos na região

Os protestos de alunos e professores também foram registrados em outras cidades da região. Alunos e professores manifestaram contra o bloqueio de recursos na educação anunciado pelo Ministério da Educação. Foram registrados protestos em Votuporanga, Catanduva, Fernandópolis e Ilha Solteira.
Em Votuporanga, um grupo de manifestantes se reuniu na Praça São Bento. Eles percorreram algumas ruas da cidade com cartazes. Alunos do Instituto Federal de Votuporanga e estudantes de algumas escolas da cidade participaram do ato que ainda reuniu manifestantes na Concha Acústica. A Polícia Militar disse que aproximadamente 250 pessoas participaram da manifestação.
Em Catanduva, alunos e professores do Instituto Federal da cidade também se reuniram na Praça da Matriz, com faixas e cartazes. A polícia não informou o número de manifestantes. Em Fernandópolis, segundo a Polícia Militar, 50 pessoas participaram dos protestos no centro da cidade.
Alunos da Unesp de Ilha Solteira também participaram da Greve Nacional da Educação. Por lá, os alunos também não participaram das aulas. A universidade informou que a data já tinha sido escolhida para um evento que discutiu sobre a graduação. Os alunos da Unesp de Ilha se uniram aos estudantes da unidade do Instituto Federal na cidade.
Como reflexo dos cortes do governo federal, o Instituto Federal alertou que a unidade de Rio Preto pode ter a inauguração adiada. O IFSP investe R$ 7 milhões para a construção do campus em Rio Preto.
Em resposta, a assessoria de imprensa da instituição informou que com base no Decreto n° 9741/2019, de 29 de março de 2019, o Ministério da Educação (MEC) realizou, no dia 30 de abril, o bloqueio de dotação orçamentária em torno de 30% para as universidades e institutos.
Segundo o instituto, o bloqueio gera um impacto de correspondente a R$ 35 milhões no orçamento. "Esta ação poderá comprometer a execução das atividades planejadas de ensino, pesquisa e extensão dos nossos 36 campus, para o segundo semestre", diz a nota.
A reitoria informou ainda que participa das ações programadas junto ao MEC e ao Congresso Nacional, "com o objetivo de reverter a decisão do bloqueio".
Em todo o País, ao menos 192 cidades tiveram atos contra os cortes durante esta quarta-feira, 15. (Colaboraram Francela Pinheiro e Rone Carvalho)