Em quatro meses, número de casos de violência contra idosos dobrou em Rio Preto
Dados da Secretaria de Saúde de Rio Preto revelam que os casos de violência contra idosos subiram de 54 para 107 na comparação entre os quatro primeiros meses de 2021 e 2022

O número de casos de violência contra pessoas da terceira idade aumentou 98% no primeiro quadrimestre de 2022 em Rio Preto. Foram 107 registros, 53 a mais do que ocorreram nos primeiros quatro meses no ano passado, segundo dados da Vigilância de Violência Interpessoal, da Secretaria Municipal de Saúde.
Os dados são coletados na rede municipal por meio de relatórios feitos pelos funcionários da Saúde. Por lei, os servidores são obrigados a relatar todos os casos, mesmo suspeitos, de violência – seja contra crianças, adultos ou idosos.
A maior parte dos casos envolve violência física. Na sequência, vêm casos de abandono/negligência, agressão moral/psicológica e financeira. Há também vítimas de violência sexual e tortura, mas a quantidade de casos é menor. As mulheres são 71% das vítimas de violência entre os idosos, sendo que a faixa etária mais agredida está entre os 60 e 69 anos.
De acordo com o levantamento, a região de maior registro de agressões contra idosos é a do Parque Industrial, seguida pela do Solo Sagrado e do Jardim Estoril.
Os maiores agressores são os filhos – que representam metade das agressões. Em segundo lugar, aparecem maridos e namorados, seguidos por irmãos.
Para Maria do Carmo Liria Andreu Gardin, presidente do Conselho Municipal do Idoso, a quantidade de casos deveria ser até maior, porque o órgão recebe três denúncias por dia. “A violência contra o idoso tem aumentado muito desde o começo da pandemia. Infelizmente, os maiores agressores são os parentes mais próximos, que deveriam cuidar de quem cuidou deles, mas não há essa retribuição”, diz a presidente.
Maria do Carmo afirma que, em geral, os idosos são vítimas de mais de um tipo de violência ao mesmo tempo. Começa com as agressões morais e psicológicas, passa por ameaça de agressões para forçá-los a fornecerem cartões bancários ou assinarem empréstimos consignados. “Antes da violência financeira, o idoso é vitima de todo tipo de agressão. O pior é que eles ficam com pouco dinheiro, insuficiente para pagar seus alimentos e medicamentos”, afirma a presidente.
Quem investiga os crimes contra pessoa da terceira idade é a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). Com experiência no atendimento das vítimas, a delegada Dalice Ceron lamenta não ser possível punir os agressores em muitos casos, porque as próprias vítimas retiram as queixas.
“Como as vítimas são mães ou avós dos agressores, elas ficam com receio de ter punição contra os filhos. É uma pena, porque esse comportamento só ajuda na impunidade e a perpetuar a violência”, diz a delegada.
Em um dos poucos casos em que a vítima permitiu que a investigação fosse até o fim, a DDM conseguiu concluir que o filho agredia a mãe idosa. Por determinação da Justiça, a vítima foi transferida para a casa de outra filha e o rapaz é alvo de medida protetiva.
“O filho era responsável por cuidar da mãe, que necessitava de ajuda médica, mas ele era o agressor. Ele vai responder pelos seus atos perante a Justiça”, diz a delegada.
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Junho violeta
A Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp) possui uma Liga Acadêmica especializada em Geriatria e Gerontologia, que discute diversos temas relacionados à saúde do idoso, inclusive os casos de violência. Em junho, eles têm desenvolvido atividades de conscientização sobre a violência contra os idosos, por meio da campanha Junho Violeta.
“É muito importante termos um mês de conscientização sobre o tema. A gente precisa conversar mais sobre o processo de envelhecimento e fortalecer as redes de apoio desse idoso”, conta Rita de Cássia Helú, coordenadora geral da Liga de Geriatria e Gerontologia da Famerp.
A preocupação com o assunto se tornou ainda maior por conta da pandemia. No primeiro semestre de 2021, o número de denúncias registradas ultrapassou 30 mil. De janeiro a abril de 2022, já houve um registro de 27 mil denúncias de violência contra a pessoa idosa, segundo a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.
“O principal fator que contribuiu para esse cenário foi a quarentena. Grande parte dos suspeitos de cometer a violência são os filhos ou netos das vítimas. Com a maior convivência entre os familiares em casa, episódios de tensões e violência se tornaram mais frequentes”, finaliza a coordenadora.
As denúncias de violência contra a pessoa idosa podem ser feitas pelo Disque 100 (Disque Direitos Humanos). O atendimento é realizado diariamente, inclusive aos fins de semana. Em Rio Preto, a Delegacia do Idoso fica na rua Floriano Peixoto, 2.880. O telefone é o (17) 3233-2910. (MAS)