Dados revelam que mulheres são mais prudentes no trânsito
Estatísticas de acidentes e de cassação do direito de dirigir mostram que elas são mais cuidadosas no trânsito do que os homens – mas ainda enfrentam piadas e preconceito

Toda mulher que já esteve à frente de um volante pelo menos uma vez, com certeza, já ouviu algum tipo de “brincadeira” desagradável ou até mesmo falas preconceituosas sobre o seu desempenho nas ruas, ligados a uma suposta falta de habilidade atrás do volante.
Apesar de as mulheres dirigirem carros há décadas, ainda é comum ouvir que mulher e direção não combinam e que os homens são melhores motoristas. Mas não é isso o que as estatísticas apontam.
Segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), em Rio Preto, há 302 mil motoristas. Destes, 703 tiveram a habilitação cassada e perderam o direito de dirigir no ano passado, sendo que 66% são homens contra apenas 34% de mulheres. No ano anterior, as mulheres também foram minoria em cassação de CNH, foram 2.178 documentos cassados contra 3.336 homens que perderam o direito de dirigir devido às infrações. Números que desmentem a má fama que as mulheres têm ao volante.
"Verificando estimativas e boletins de ocorrência semelhantes para as cidades de Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos, Araraquara e Rio Claro e somando os dados de São José do Rio Preto, verificamos que, em 58.312 acidentes de trânsito, quase 70% foram provocados por homens. Em 73.894 CNHs cassadas por infrações às leis de trânsito, 71% pertenciam a motoristas homens”, analisa o especialista em trânsito José Bernardes Felex.
Pesquisa realizada pelo Infosiga SP (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo) no fim do ano passado revela que apenas 6,3% dos acidentes registrados no Estado envolveram motoristas do sexo feminino. Percentual que é 16 vezes menor do que o número de acidentes registrados com homens ao volante.
A mesma pesquisa apontou ainda que, assim como em Rio Preto, no Estado as mulheres são minoria no número de CNH suspensas. Dos 91.500 documentos invalidados, apenas 23.790 (26%) eram de mulheres.
Segundo o Infosiga, a região de Rio Preto teve 2.021 mortes em acidentes de trânsito desde 2015. Cerca de 80% das vítimas eram homens e 20%, mulheres.
"No trânsito do Estado, números de acidentes e infrações nos fazem ver que a afirmativa de que as mulheres são piores motoristas que os homens é uma mentira”, finaliza o especialista.
Seguro veicular delas é mais barato
As estatísticas mostram que as mulheres são mais cuidadosas ao volante e isso pode ser sentido diretamente no bolso: as seguradoras cobram mais barato o seguro de veículos pertencentes e dirigidos apenas por mulheres.
Segundo empresas do ramo ouvidas pelo Diário, em Rio Preto, essa diferença pode chegar a até 25%, dependendo do modelo do veículo, da idade e do histórico da motorista.
Entre os motivos que fazem elas pagarem menos na hora de contratar o serviço está o índice de sinistralidade das mulheres que é relativamente menor quando comparado aos índices medidos para os condutores do sexo masculino. Além disso, segundo as seguradoras, quando há uma batida ou um acidente, a gravidade é, na maioria das vezes, menor quando envolve motoristas mulheres, já que elas costuma dirigir em velocidade menor.
“A precificação do seguro automóvel é resultado da combinação de diversos fatores e necessidades de contratação. Deve-se levar em consideração variáveis externas como índice de sinistralidade, roubo, furto da região em que o condutor reside. E fatores internos como análise de perfil do segurado, histórico de sinistro do condutor e idade, por exemplo. Tanto o perfil do condutor quanto as características do carro são relevantes para a composição do preço final”, explica Marcos Mendes, gerente da sucursal da Porto Seguro em Rio Preto. (SM)
Mulheres representam 40% do total de motoristas

Seja a trabalho ou para as necessidades do dia a dia, é comum encontrar mulheres à frente de um volante ou pilotando uma moto. Atualmente elas representam 40% dos motoristas habilitados no estado de São Paulo. Isso representa aproximadamente 26 milhões de condutoras.
Motorista de aplicativo há três anos, Janaína Monteiro Pereira, de 34 anos, adora dirigir. Desde que revolveu investir na profissão ela passa ao menos oito horas do dia ou da noite à frente do volante. Com um faturamento que segundo ela paga as contas e sobra para o sustento da casa, ela diz que não troca o volante por nada, mesmo estando sujeita aos perigos do trânsito rio-pretense e às brincadeiras de mau gosto.
“Eu sempre digo que quem aprende a dirigir em Rio Preto dirige em qualquer lugar, porque os motoristas aqui, na maioria das vezes, não respeitam o trânsito, não dão seta e não andam no limite de velocidade das vias. E as brincadeiras eu prefiro não levar a sério e nem levo como machismo. Já teve gente de fazer comentários do tipo: nossa, você dirige bem. E fica aquele machismo velado, principalmente de outras mulheres”, relata.
E é justamente pela loucura do trânsito na cidade durante o dia, principalmente em horários de pico, que Janaína prefere trabalhar à noite. “Porque o trânsito é mais tranquilo e os motoristas dirigem melhor. Muita gente me pergunta se não tenho medo e minha resposta é sempre a mesma: não. Se uma pessoa mal-intencionada for roubar, ela vai fazer sendo homem ou mulher. Tem essa crendice que por ser mulher é muito mais fácil e suscetível e eu não vejo dessa forma”, diz. (SM)