Cigarro eletrônico é vendido livremente e vira febre entre jovens de Rio Preto
Com venda proibida pela Anvisa devido aos riscos à saúde, cigarro eletrônico é encontrado facilmente em Rio Preto. Colégio emitiu alerta aos pais após encontrar alunos com dispositivos

Mesmo com venda proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os cigarros eletrônicos são vendidos livremente e viraram “febre” entre os jovens. Um colégio de Rio Preto chegou a até emitir um alerta aos pais com pedido para coibir o uso dos dispositivos, apontando diversos estudos com os riscos causados pelos dispositivos – a maior parte deles tem nicotina, substância que causa dependência.
A reportagem do Diário constatou a venda dos cigarros eletrônicos em bares, tabacarias, lojas na região central e pelas redes sociais. Eles possuem diferentes cores, aromas e sabores – com nicotina ou não. Com nomes modernos como vape e pod, possuem diferentes versões, sendo recarregáveis ou descartáveis – e os preços variam de R$ 30 a R$ 1,5 mil.
O Diário apurou que esse mercado ilegal é abastecido em Rio Preto por fornecedores de São Paulo e do Paraguai. Quem vende afirma que a procura está alta entre os jovens, com a argumentação de que não faz mal a saúde. O aviso em inglês nos produtos passa outra mensagem: “este produto contém nicotina sintética. A nicotina é uma substância química viciante”.
No colégio Intelectus, o uso foi proibido e o descumprimento poder resultar na suspensão e eventual transferência compulsória do aluno. “Aqui não tivemos casos de alunos utilizando, apenas posse. Mas temos escutado muito do uso em festinhas e encontros de amigos”, afirmou o professor e coordenador pedagógico da escola, Francis Augusto Alvaceta, 38 anos.
Estudo do Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta para os riscos de iniciar o consumo de cigarros comuns a partir do uso dos eletrônicos. De acordo com o levantamento, o uso de cigarro eletrônico aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação de cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco de uso do cigarro.
A motorista Andrea - nome fictício - disse que parou de fumar cigarros convencionais há 11 anos. “Eu voltei fumando o cigarro eletrônico, com a essência sem nicotina. Só para fazer uma graça”, afirmou a mulher. “Optei pelo cigarro eletrônico porque não fica cheiro, por causa do sabor, e não incomoda ninguém. Como não tem nicotina é menos viciante”, disse. Não há evidência de que o uso ajude a parar de fumar. Os valores das essências líquidas variam de R$ 20 a R$ 45.
A ambulante T.D. possui dois cigarros eletrônicos, um recarregável e outro descartável. Ela disse que há dois anos já utiliza os equipamentos. “Agora virou moda, mas já uso há dois anos. Nunca fumei o cigarro comum", afirmou. “Me acostumei. Não sei porque a venda é proibida e o cigarro comum não é proibido”, disse.
Proibição
A Anvisa afirma que a comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil, por meio da Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa - RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009. “Essa decisão se baseou no princípio da precaução, devido à inexistência de dados científicos que comprovassem as alegações atribuídas a esses produtos”, consta na nota.
Com base no posicionamento da Anvisa, a Secretaria de Saúde de Rio Preto reiterou que o comércio deste produto é proibido no país. “A orientação é que o produto não seja consumido. É um produto fumígeno, portanto os malefícios são os mesmos que qualquer outro tipo de fumo”, afirmou.
De acordo com a Prefeitura, a fiscalização sobre a importação é feita pelos órgãos federais. “As tabacarias que solicitam licença na Vigilância Sanitária são orientadas sobre a proibição. Se houver denúncias, procederemos a inspeção, eventual interdição e comunicação ao órgão federal responsável por fiscalizar a importação para a apreensão”, afirmou em nota.
Porta de entrada para tabagismo
O pneumologista Leandro Salviano considera que o cigarro eletrônico é mais uma estratégia para viciar as pessoas. “É porta de entrada para o tabagismo. Tem desculpa de que não é tão grave, que não provoca malefícios. Isso não é verdade. Tem vários estudos que demonstram que o cigarro eletrônico provoca dependência e pode causar doenças pulmonares do mesmo jeito que os outros cigarros. Risco de asma, de câncer e doenças cardíacas”, afirmou.
Salviano disse que, além da nicotina, há diversas substâncias que quando aquecidas podem provocar muito mal para o pulmão. Ele alerta para uma inflamação no pulmão, nas pessoas mais jovens, muito grave e semelhante à Covid-19. “Nos Estados Unidos tivemos uma pandemia de pacientes por causa disso que precisaram ir para a UTI”, afirmou.
Para o médico, a maioria dos cigarros eletrônicos possui nicotina que provoca dependência do mesmo jeito. “Não tem dose tolerável. Não existe indicação médica para uso do cigarro eletrônico. Não serve para o tratamento do tabagismo. Não se sabe os efeitos a longo prazo por conta das substâncias. Portanto, não deve ser usado”.
Segundo o médico urologista Júlio Martins, há estudos que mostram aumento de doenças cardíacas e o uso dos cigarros eletrônicos seria a causa. “Artigo no mês de dezembro em revista mostrou o risco da disfunção erétil em jovens e adultos. Mais um problema relacionado ao uso. Não é algo seguro e livre de risco. Temos problemas pulmonares, cardíacos e problemas de ereção”, afirmou. (RL)
O dispositivo

Cigarro eletrônico
Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), também conhecidos como cigarros eletrônicos,são constituídos, em sua maioria, por um equipamento com bateria recarregável e refis para utilização.
Há diversos tipos disponíveis no mercado, desde os recarregáveis aos descartáveis (uso único)
A comercialização, importação e propaganda de todosos tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil, por meio de resolução da Anvisa de 2009
A decisão se baseou no princípio da precaução, devido à inexistência de dados científicos de que os produtos não causam mal à saúde
Em 2019, a Anvisa divulgou alerta aos médicos sobre doenças pulmonares causadas por esses produtos nos Estados Unidos.
Atualmente, a Anvisa elabora uma Análise de Impacto Regulatório (AIR) - que pode manter a proibição ou fazer a liberação impondo regras
É alternativa para parar de fumar? Mito
Não há comprovação científica de que os cigarros eletrônicos sejam eficazes para isso. Os estudos científicos são limitados e de baixa certeza de evidência. O cigarro eletrônico pode, inclusive, levar as pessoas a fumarem mais, para compensar a falta do cigarro comum. Muitas das substâncias utilizadas nos dispositivos contêm nicotina, que causa dependência
O uso de cigarro eletrônico aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação de cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco de uso do cigarro, segundo pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (Inca)
Fonte: Anvisa e Ministério da Saúde