Arborização em Rio Preto corre perigo com a falta de diversidade
Estudo da Unirp aponta seis ameaças às árvores de Rio Preto - que hoje tem índice de arborização de 18%, número abaixo do ideal. Veja quais são elas

Rio Preto tem em torno de 18% de índice de arborização - bem abaixo do ideal, segundo especialistas, que é 50%. Para piorar a situação, a vegetação existente ainda sofre com ao menos seis ameaças: falta de diversidade de espécies, podas drásticas, manutenção errada, covas incorretas, distância irregular entre as árvores e presença de percevejos.
Os apontamentos são de um grupo de pesquisa dos cursos de agronomia e ciências biológicas do Centro Universitário de Rio Preto (Unirp), que está na reta final e deve ser publicado até o fim deste ano. A pesquisa analisou a arborização de 118 quarteirões na Boa Vista. Nestas quadras, 250 árvores adultas foram avaliadas.
A primeira preocupação constatada pela equipe foi a predominância da espécie Licania tomentosa, o oiti. Do total de árvores, 161 são oiti, ou seja, 64,4%, enquanto especialistas recomendam que essa porcentagem não passe dos 10%. "Passou de 10% de cobertura da mesma espécie, você corre o risco de praga. E no nosso caso existe a praga do oiti. Não existe em Rio Preto, mas se vier passa de uma para outra, vai matando, secando e detona a arborização da cidade", explicou a bióloga e professora Valéria Stranghetti.
Outro problema alertado pela pesquisa é a manutenção de galhos de forma irregular. Na rua Doutor Wenceslau Brás, na Boa Vista, há exemplos de árvores infectadas com fungo, que teve como porta de entrada feridas abertas por galhos retirados de forma drástica e sem acompanhamento de um profissional. "Tirar de qualquer jeito pode gerar um ferimento que, até cicatrizar, a árvore pode adoecer."
A prática de tosar as árvores e deixá-las com o mínimo de estrutura de copas, a chamada poda drástica, também foi para a lista de preocupações. Também na rua Doutor Wenceslau Brás há exemplo, em locais que não há cabeamento de fios. "Nesses casos só deveriam fazer um controle dos galhos secos. Essa poda drástica vai levando a espécie à morte", disse Valéria. Entre as consequências está a entrada excessiva de luz, o crescimento de brotos que no futuro formam galhos fracos que podem cair sobre pedestres e também desestabilizar o próprio arbusto. "A planta não foi feita para ser podada. Na floresta ela mesma se defende, já na cidade ela tem que ser cuidada, mas não desconfigurada", afirmou Valéria.
Outro ponto observado pela pesquisa foi a técnica utilizada no plantio das árvores. O pouco espaço das covas reservado para as mudas se revela insuficiente para a estrutura da árvore adulta. Este é o principal problema colocado pelos estudantes para evitar calçadas arrebentadas por raízes e também para garantir raízes estruturadas e assim evitar quedas.
Outras situações encontradas pelos pesquisadores são de covas com tubo de concreto em volta e mureta, que impedem a absorção de água pela árvore. "Antigamente aconselhava-se a muretinha porque as pessoas lavavam a calçada com sabão em pó e detergente. Mas hoje não se lava mais calçada e a mureta não deve existir", explicou a professora. O relatório ainda aponta a falta de distância ideal entre árvore, copa excessiva com sombra sobre o telhado, o que pode provocar fungos na residência e espécies, como palmeiras com espinho, plantadas nos canteiros dos passeios.
Um dos problemas que mais chamaram a atenção dos estudantes foi a quantidade de percevejos encontrados nas árvores. "Muito no oiti e, principalmente, na pata-de-vaca (espécie)", afirmou o estudante do 2º ano do curso de agronomia Dante Matheus de Souza Cruz. Segundo o aluno, o percevejo é uma praga urbana e se mantém com o alimento que sustenta a árvore. "Ele está comendo a área foliar da planta e dessa forma a planta vai fazer menos fotossíntese com prejuízo ao funcionamento e metabolismo."