Diário da Região
NOVOS PALEONTÓLOGOS

Pesquisadores da região de Rio Preto fazem 'aulão' inédito sobre fósseis

Pesquisadores da Unesp fazem workshop com professores da rede pública da região de Rio Preto sobre paleontologia. Primeira edição mostrará em campo como são encontrados os fósseis

por Rone Carvalho
Publicado em 15/11/2022 às 17:38Atualizado em 16/11/2022 às 08:20
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Falecido professor João Tadeu Arruda com o biólogo Kleber Varnier durante escavação em General Salgado (Arquivo Pessoal/Kleber Varnier)
Falecido professor João Tadeu Arruda com o biólogo Kleber Varnier durante escavação em General Salgado (Arquivo Pessoal/Kleber Varnier)
Ilustração de como era o Gondwanasuchus scabrosus, animal que viveu no Noroeste Paulista há 80 milhões de anos (Rodolfo Nogueira)
Ilustração de como era o Gondwanasuchus scabrosus, animal que viveu no Noroeste Paulista há 80 milhões de anos (Rodolfo Nogueira)
Escavações do Baurusuchus salgadoensis, espécie de crocodyliforme encontrado em General Salgado (Arquivo Pessoal/Kleber Varnier)
Escavações do Baurusuchus salgadoensis, espécie de crocodyliforme encontrado em General Salgado (Arquivo Pessoal/Kleber Varnier)
Pesquisadores em sítio paleontológico de General Salgado (Arquivo Pessoal/ Kleber Varnier)
Pesquisadores em sítio paleontológico de General Salgado (Arquivo Pessoal/ Kleber Varnier)
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Esqueça as plantações de cana-de-açúcar, os carros que percorrem as rodovias da região e o movimento de pessoas nas cidades da região de Rio Preto. Há mais de 80 milhões de anos, quem dominava o Noroeste Paulista eram criaturas gigantescas que, aos poucos, estão sendo encontradas, graças ao trabalho dos caçadores de dinossauros, sejam eles amadores ou profissionais.

Como forma de expandir esse conhecimento para alunos da rede pública de ensino e formar novos paleontólogos, pesquisadores da Unesp de Ilha Solteira promovem nesta quinta-feira, 17, uma orientação técnica com professores da rede pública de ensino de municípios da região sobre a herança geopaleontológica do Noroeste Paulista. Uma forma de mostrar na prática os motivos da região de Rio Preto ser referência mundial em pesquisas sobre o período cretáceo.

“Normalmente, quando falamos de dinossauros sempre vem à mente Jurassic Park, mas nossa região possui inúmeros exemplos. A ideia é que essa riqueza científica possa chegar na sala de aula para que os alunos da região possam saber mais sobre os dinossauros que viveram no interior de São Paulo”, ressaltou o biólogo e paleontólogo Kleber Varnier.

A aula será em um sítio da região rural de General Salgado. O local é conhecido por ser berço de grandes descobertas científicas mundiais e abrigar uma das principais concentrações de crocodyliformes - espécie de crocodilos que viveram com dinossauros durante o Cretáceo.

Felipe Chinaglia Montefeltro, professor e pesquisador da Unesp de Ilha Solteira, diz que o evento terá a participação de educadores de General Salgado, Pereira Barreto, Mirandópolis, Andradina e Ilha Solteira. “A ideia é trazer para esses professores de ciências da natureza uma experiência de campo sobre paleontologia para que eles possam replicar isso na sala de aula”.

O evento contará com palestras com informações sobre paleontologia, geologia e os procedimentos de coleta em campo. “Mostraremos na prática para os professores como é feita a coleta dos fósseis, que depois são estudados e permitem a descoberta de espécies que viveram na região”, explicou Felipe.

Pesquisadores já encontraram no Noroeste Paulista fósseis de dinossauros, crocodilos, lagartos, tartarugas e peixes pré-históricos. Em General Salgado, por exemplo, o crânio parcialmente completo e bem preservado de um crocodyliformes, em uma rocha, permitiu que pesquisadores descobrissem uma espécie inédita.

Batizado de Gondwanasuchus scabrosus, seu formato lembra o que hoje em dia são os crocodilos. Contudo, com hábitos terrestres. “A ideia é apresentar o local das escavações e revisitar os achados históricos, ou seja, mostrar que na região também há presença de dinossauros carnívoros e como era a vida dos crocodyliformes que habitavam a região”, completou Kleber.

Museu

Kleber ressalta que nos próximos meses a região de Rio Preto pode ganhar um segundo museu de paleontologia. “A ideia é que nos próximos meses possamos ter um museu para divulgar ainda mais essas descobertas para as pessoas. São João de Iracema já demostrou interesse de ser sede desse novo local de divulgação científica no interior de São Paulo”.

Atualmente, o único museu de paleontologia da região de Rio Preto fica em Uchoa. Inaugurado em 2016, o Museu de Paleontologia Pedro Candolo abriga a maior parte dos fósseis encontrados na região.

Berço mundial em pesquisa

Em General Salgado, as pesquisas sobre paleontologia começaram na década de 1990, quando o professor João Tadeu Arruda recebeu de um aluno um dente fóssil encontrado na área rural da cidade. Curioso pelo relato, o professor começou a fazer escavações na região do achado e atraiu os olhos do mundo.

O primeiro crocodyliforme descrito cientificamente na região foi o Baurusuchus salgadoensis. Em 2002, o professor João, em parceria com o paleontólogo Antonio Celso de Arruda Campos, de Monte Alto, conseguiu catalogar o fóssil.

A partir daí, General Salgado virou um centro de referência na paleontologia e outros pesquisadores passaram a se deslocar para o Noroeste Paulista em busca de novos achados. Um deles foi do professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) Thiago Marinho, responsável por catalogar cientificamente o Gondwanasuchus scabrosus.

Em seguida, outros crocodilos foram descritos como: Baurusuchus albertoi, Gondwanasuchus scabrosus, Aplestosuchus sordidus, Armadillosuchus arrudai e Caipirasuchus stenognathus.

Também no sítio paleontológico de General Salgado foi descoberto um dos únicos mamíferos brasileiros que viveram na mesma época dos dinossauros. A identificação do Brasilestes stardusti foi feita a partir de um pré-molar de 3,5 milímetros. (RC)