Por que minha mãe morreu na UPA?, questiona filho de mulher de 54 anos em Rio Preto
Noeli Moreira dos Santos, de 54 anos, sofreu um infarto e morreu na UPA Jaguaré à espera de vaga em um hospital para realização de um cateterismo; ela deixa um filho de 18 anos, que questiona a demora

A Polícia Civil vai investigar a morte da dona de casa Noeli Moreira dos Santos, de 54 anos, após um infarto durante atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Jaguaré, no dia 23 de junho deste ano. O filho único dela, Victor Leonardo dos Santos, de 18 anos, questiona por que ela não foi transferida para a Santa Casa para ser submetida a um cateterismo, procedimento que, para ele, poderia ter salvado a vida da mãe.
Noeli começou a ser atendida na UPA Norte no dia 7 de junho, após uma fratura em uma das pernas. Durante esse período, entre idas e vindas ao médico, inclusive com o engessamento da perna, o atendimento foi transferido para a UPA Jaguaré, porque, segundo o filho, a UPA Norte não estaria com o aparelho de raio-x em funcionamento.
Na tarde do dia 23 de junho, após a retirada do gesso, Noeli sofreu um mal-estar e desmaiou. Após exames, foi constatado que ela havia sofrido um infarto. Seus sinais vitais foram restabelecidos pela equipe de plantão, mas a dona de casa morreu na UPA Jaguaré, à espera de um leito em hospital.
"Logo que minha mãe sofreu um infarto, ela deveria ter sido transferida. Isso poderia ter salvado a vida dela. Não entendo por que demoraram. Por que minha mãe morreu na UPA? Eu perdi minha mãe, a pessoa que mais me apoiava", lamenta o filho, ainda em luto.
Vaga zero
A presidente do Sindicato dos Médicos de Rio Preto e região, Merabe Muniz Diniz, afirma que a Saúde falhou ao não aplicar o critério "vaga zero", segundo o qual o paciente com risco iminente de morte deve ser admitido em um hospital, mesmo que não haja leitos disponíveis.
"A paciente tinha acabado de sofrer um infarto. Um dos procedimentos que poderiam ter salvado a vida dela seria um cateterismo, mas não há como fazer isso em uma UPA, por falta de equipamento. Portanto, como determina portaria do Ministério da Saúde, a paciente deveria ter sido transferida imediatamente para a Santa Casa, onde há condições de realizar o cateterismo", diz a médica.
Outro lado
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde respondeu que a paciente estava na UPA Jaguaré para acompanhamento ortopédico quando apresentou um novo problema de saúde, sendo prontamente atendida e recebendo todos os procedimentos necessários, conforme os protocolos médicos preconizados, "mas, infelizmente, veio a óbito."
Questionada sobre o critério de "vaga zero", a pasta afirmou que segue as leis, resoluções e portarias estabelecidas e que, conforme resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), pacientes instáveis em iminente risco de vida ou sofrimento intenso devem ser imediatamente transferidos a serviço hospitalar após serem estabilizados.
Ainda conforme a pasta, a paciente precisou de estabilização e, nesse período, foi realizada regulação médica, "sem a necessidade da 'vaga zero', e assim que estabilizada, transportada até unidade hospitalar pela Unidade de Suporte Avançada do Samu".
Em razão de sigilo médico e da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a Secretaria de Saúde disse estar impedida de divulgar outras informações sobre o caso.