Parasita matou dinossauros na região, diz estudo
Descoberta surgiu após análise de fóssil encontrado em Ibirá; segundo pesquisadores, dinossauros "pescoçudos", que viveram na região há 80 milhões de anos, foram dizimados por doença infecciosa que pode ser causada por vírus, bactérias, fungos ou protozoários

Uma doença infecciosa causada por um parasita pode ter sido a causa da morte de dinossauros na região de Rio Preto há cerca de 80 milhões de anos. A descoberta foi feita por pesquisadores e divulgada nesta semana na revista científica The Anatomical Record. O financiamento da pesquisa foi por meio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Na região de Rio Preto, fósseis de dinossauros foram encontrados em diversas cidades, incluindo Catanduva, Elisiário, Cedral, Ibirá, Rio Preto, Monte Aprazível e Uchoa. Estas localidades são conhecidas por suas descobertas do período Cretáceo, com idades estimadas em 80 milhões de anos
A pista para o achado veio de um parasita identificado em um fóssil de dinossauro saurópode (como são chamados os dinossauros pescoçudos), encontrado no sítio paleontológico Vaca Morta, em Ibirá, no ano de 2006. O fóssil, uma fíbula — osso da perna — de uma das patas traseiras do animal, foi localizado pelos paleontólogos Aline Ghilardi e Marcelo Fernandes, e analisado por cientistas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
Indícios
Segundo os pesquisadores, um dos indícios da letalidade do parasita são as marcas de deformação nos ossos, compatíveis com osteomielite — uma doença infecciosa que pode ser provocada por vírus, bactérias, fungos ou protozoários e que, nesse caso, teria levado os animais à morte em pouco tempo. A descoberta aponta que havia condições favoráveis à propagação da patologia na região durante o período Cretáceo Superior.
“Esses ossos apresentavam alterações no desenvolvimento enquanto o animal ainda estava vivo. Ele sofreu ação de parasitas sanguíneos, que provavelmente causaram a contaminação sistêmica do organismo — e talvez tenham afetado outros indivíduos do mesmo grupo que viviam ali”, explica o paleontólogo Marcelo Fernandes.
Os ossos analisados não apresentavam sinais de regeneração, o que indica que os animais morreram com a infecção ainda em curso, provavelmente em decorrência dela.
A lesão
Uma das lesões causadas pelo parasita ficou restrita à medula óssea. Outras atingiam da medula até a parte externa do osso. As lesões tinham textura esponjosa e apresentavam sinais de intensa vascularização, o que as diferenciam de outras patologias, como osteossarcoma e neoplasia óssea — dois tipos de câncer que também afetam o tecido ósseo.
“É como uma ‘úlcera de Bauru’ que não cicatriza, formando uma laceração que pode permitir a entrada de parasitas externos. Não sabemos se foi o parasita que causou a osteomielite ou se uma lesão aberta acabou permitindo que ele se instalasse. Mas, ao analisarmos as lâminas do osso mineralizado — substituído por carbonatos, silicatos e fosfatos —, encontramos estruturas no interior do tecido que lembram pequenos filamentos”, detalha Marcelo.
Segundo o pesquisador, a presença de fosfato foi essencial para a preservação do parasita ao longo de milhões de anos, ajudando na mineralização de sua estrutura, afirma Marcelo.
Parasita em Uchoa
O paleontólogo Fabiano Iori afirma que também foram encontrados em 2019 sinais de parasita em fósseis de um dinossauro pescoçudo guardados pelo Museu de Paleontologia "Pedro Candolo", em Uchoa. Os ossos tinham sido coletados pelo fundador nas décadas anteriores.
"A gente encontrou em uma vértebra da cauda do dinossauro pescoçudo, um titanossauro, que apresentava sinais de patologia. Ele tinha algumas marcas que indicavam que teve um processo infeccioso. Tinha alguns dutos que mostravam extravasamento de pus. Em 2019, apresentamos esse trabalho na vértebra que estava na coleção de Pedro Candolo, juntado por ele nas décadas de 1970 e 1980", diz o paleontólogo.
Para Fabiano, as características geográficas, de solo e climáticas da região ajudaram muito na preservação dos fósseis e os deixam em condições de serem pesquisados sobre as possíveis patologias que afetavam os antigos habitantes do Planeta Terra. "Muito se deve ao excelente grau de preservação dos fósseis da região", afirma o pesquisador.