Diário da Região

Município tem disparada no uso de energia renovável

Rio Preto multiplica por 290 o número de sistemas de geração de energia solar em 10 anos, uma produção que daria para abastecer por um ano uma cidade equivalente ao porte de Votuporanga; a mesma geração em 10 anos na região igualmente daria para abastecer Rio Preto por um ano

por Marco Antonio dos Santos
Publicado há 1 hora
Painéis solares instalados no topo de prédios no complexo do Hospital de Base de Rio Preto (Divulgação/Funfarme)
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Painéis solares instalados no topo de prédios no complexo do Hospital de Base de Rio Preto (Divulgação/Funfarme)
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A transição para a energia limpa está acelerada em Rio Preto, representada por uma forte expansão na instalação de painéis solares e no uso de veículos elétricos e híbridos. Entre 2015 e 2025, os sistemas fotovoltaicos na cidade saltaram de 65 para 18.858, enquanto a frota elétrica cresceu de 23 para 5.927 veículos. A região também se destaca pela geração de energia a partir da biomassa.

Os sistemas fotovoltaicos conectados à rede em Rio Preto representam crescimento de quase 290 vezes desde 2015. No mesmo período, a potência instalada avançou de 250,47 kW para 136.290,89 kW, volume capaz de abastecer uma cidade do porte de Votuporanga por um ano.

Segundo dados oficiais, Rio Preto é a segunda cidade do estado de São Paulo com mais unidades geradoras, atrás apenas de São Paulo. Em quantidade de energia gerada, Rio Preto está na terceira posição entre os municípios paulistas atrás de São Paulo e Ribeirão Preto.

Em 2015, o município tinha apenas 65 equipamentos instalados, somando 250,47 kW. Em 2020, impulsionada pela popularização dos painéis solares e por mudanças na legislação federal, Rio Preto já contabilizava 1.466 unidades geradoras e 11.058,28 kW de potência.

O maior salto ocorreu entre 2020 e 2025. Neste ano, o total de sistemas chegou a 18.858, alta de 1.185 por cento. A potência atingiu 136.290,89 kW, consolidando a cidade entre as mais avançadas da região na adoção de energia limpa.

A expansão é resultado da combinação entre busca por economia, alta no custo da energia elétrica e maior oferta de soluções residenciais e comerciais. O movimento segue a tendência regional, que também registrou avanço expressivo na última década.

REGIÃO

A região também registrou crescimento acelerado no uso de energia solar. Entre 2015 e 2025, o total de unidades geradoras instaladas subiu de 124 para 89.175, aumento superior a 700 vezes. A potência instalada avançou de 460,76 kW para 785.196,17 kW, volume suficiente para atender uma cidade do tamanho de Rio Preto por um ano.

Em 2015, apenas 21 municípios tinham sistemas fotovoltaicos em operação. Cinco anos depois, em 2020, esse número saltou para 98 cidades, com 7.273 unidades e 61.752,63 kW de potência.

O ritmo se acelerou de forma ainda mais intensa entre 2020 e 2025. A região manteve 98 municípios com sistemas conectados, mas viu as unidades geradoras crescerem 1.125 por cento em cinco anos, chegando a 89.175 instalações. A potência total alcançou 785.196,17 kW.

O avanço regional acompanha a queda no preço dos equipamentos, as mudanças regulatórias e a busca de consumidores por alternativas diante das altas sucessivas na conta de luz. Residências, pequenos comércios e usinas de geração remota puxam o crescimento.

Energia solar no HB

A vista panorâmica dos tetos do Hospital de Base e do Hospital da Criança e Maternidade, no complexo Funfarme, reflete a tendência rio-pretense de investir em energias renováveis. O conjunto de prédios recebeu 1,2 mil placas solares que hoje geram parte significativa da energia consumida pelo complexo. O restante é adquirido no mercado livre exclusivamente de fontes 100% renováveis.

Desde o início da instalação das usinas, em 2023, já foram produzidos 3 milhões de kWh de energia limpa, volume suficiente para abastecer uma cidade de 3.700 habitantes por um mês. Com a geração própria e o uso exclusivo de energia renovável, o HB deixou de emitir mais de 240 toneladas de CO₂, equivalente ao plantio de 1.750 árvores.

A economia financeira também é expressiva. Segundo o diretor-executivo da Funfarme, Horácio Ramalho, a redução de custos já supera R$ 2,3 milhões, valor que tem sido reinvestido em melhorias e no custeio do hospital, que atende mais de 1,7 milhão de habitantes pelo SUS.

O projeto foi desenvolvido pela Funfarme em parceria com a CPFL, dentro do Programa de Eficiência Energética. (MAS)

Venda de carro elétrico salta de 23 para 5,9 mil

Dados atualizados mostram que a frota desses modelos passou de apenas 23 unidades em 2015 para 5.927 em 2025. A expansão mais forte ocorreu entre 2020 e 2025. Neste ano, a frota regional atingiu 1.503.495 veículos, dos quais 5.927 são elétricos ou híbridos, distribuídos por 85 cidades.

As vendas de carros elétricos e híbridos devem continuar crescendo em 2026. Concessionárias da cidade registram avanço de 15% a 40% nas vendas em comparação com o ano passado, impulsionadas por economia, comodidade e menor necessidade de manutenção. O movimento acompanha a tendência nacional de expansão da tecnologia.

Segundo o vendedor João Vitor Borghezan, modelos totalmente elétricos já representam uma fatia crescente do mercado, embora os híbridos ainda liderem as vendas. “O híbrido ainda vende bem mais, mas o elétrico está vindo forte”, afirma.

De acordo com ele, a busca por comodidade tem sido o principal fator para a escolha dos elétricos. “O cliente carrega o carro em casa e praticamente não faz manutenção. Na nossa marca, a revisão é a cada dois anos ou 24 mil quilômetros. Não tem troca de óleo, não tem as manutenções tradicionais”, explica.

Os modelos urbanos e de menor porte são os mais procurados. A perspectiva para 2026 é de avanço ainda maior. A GWM, por exemplo, elevou sua meta anual de vendas de 50 mil para 70 mil veículos, somando elétricos e híbridos.

Apesar do crescimento, a falta de infraestrutura de recarga nas rodovias ainda é o principal entrave. “O motorista se programa para parar num posto que tem só dois carregadores. Quando chega, tem fila. Isso inviabiliza a viagem”, diz Borghezan.

Mesmo com a limitação, a aceitação cresce entre os proprietários. Segundo ele, muitos não querem voltar para veículos a combustão. No caso dos híbridos plug-in, o apelo econômico é ainda maior. “Tem cliente que ficou 60 dias sem ir ao posto. Carrega em casa e gasta cerca de R$ 150 por mês. Antes gastava R$ 600 em combustível”, afirma.

A mesma aceleração na venda de carros elétricos é observada no mercado de energia. Arthur Faria, empresário no setor de instalação de painéis solares, com dez anos no ramo, acompanha de perto o salto do setor desde 2015. Segundo ele, a procura por projetos de geração fotovoltaica cresceu ao menos dez vezes nos últimos oito anos.

Arthur explica que a alta constante da conta de luz e as mudanças na legislação impulsionaram a busca por alternativas mais econômicas. “Mesmo com uma matriz renovável, com Hidrelétricas, solar e eólica, o custo da energia cresce cada vez mais”, afirmou. “Com o marco regulatório da geração distribuída, especialmente após 2021, muita gente passou a buscar soluções para reduzir gastos.”

Ele lembra que, no início, a procura era baixa e restrita. De lá para cá, o cenário mudou completamente. A geração distribuída, modalidade em que consumidores produzem sua própria energia e compensam créditos na rede, atualmente representa mais de 15% de toda a demanda nacional. (MAS)

Produção nas usinas

As usinas de etanol da região de Rio Preto ampliaram iniciativas de geração de energia elétrica a partir da biomassa da cana-de-açúcar, transformando resíduos do processamento em eletricidade limpa, contribuindo para a eficiência dos mecanismos que estão acelerando a opção energética mo Estado de São Paulo e no País.

A biomassa é utilizada principalmente na combustão em termelétricas, processo que aquece água, produz vapor e movimenta turbinas ligadas a geradores. Também são empregados métodos como pirólise, gaseificação e co-combustão, que reduzem o uso de combustíveis fósseis. No Brasil, o bagaço da cana é a principal fonte dessa energia renovável.

Um dos destaques é o Grupo Tereos, que recebeu em setembro o Selo Energia Verde da Unica. A certificação reconheceu a produção de bioenergia nas usinas de Tanabi, Olímpia e Guaraci, na região de Rio Preto, e em Pitangueiras, localizada na região de Ribeirão Preto.

Todas as usinas produziram bioeletricidade a partir da biomassa da cana, com baixa emissão de poluentes e exportação comprovada para o Sistema Interligado Nacional, um dos critérios obrigatórios da certificação.

Outra referência regional é a CTG Brasil, responsável pela hidrelétrica de Ilha Solteira. A empresa divulgou nesta semana seu Relatório Anual de Sustentabilidade e, pelo quinto ano consecutivo, recebeu o Selo Ouro do Programa GHG Protocol, que reconhece organizações que monitoram e reportam de forma transparente suas emissões de CO₂, reforçando o compromisso com a redução de impactos climáticos. (MAS)

Entre placa solar e carro elétrico

A busca por economia leva moradores de Rio Preto a trocar veículos a combustão por modelos elétricos e, em muitos casos, a instalar energia solar em casa para zerar o custo de abastecimento. Entrevistados pelo Diário relatam reduções significativas no orçamento mensal e apontam conforto, autonomia e modernização como fatores decisivos para a mudança.

O fisioterapeuta Marcelo Arroyo utiliza um carro elétrico há 18 meses e afirma ter eliminado os cerca de R$ 3 mil mensais que gastava com combustível. A economia só foi possível porque ele já tinha energia solar instalada na residência. “O primeiro motivo foi financeiro. Depois veio a consciência ambiental, mas a decisão inicial foi pela economia”, disse. Ele afirma que sua escolha influenciou ao menos sete amigos a migrarem para modelos elétricos ou híbridos.

Alexandre de Souza Pinhel, 46 anos, também aderiu ao carro elétrico há um ano e meio e reduziu de R$ 1,3 mil para R$ 250 a R$ 300 seus gastos mensais com energia. Ele conta que a experiência o motivou a instalar painéis fotovoltaicos na casa que está construindo. “Com energia solar, vou ter custo zero para rodar 100 quilômetros sem precisar abastecer com gasolina ou álcool”, relatou.

O empresário Daniel Rodrigues da Silva deve receber ainda nesta semana um SUV elétrico com autonomia superior a 400 quilômetros. Ele destaca o conforto, o torque e o silêncio como vantagens, além do baixo custo de abastecimento graças à energia solar instalada em sua residência.

Energia

Energia Solar

Região de Rio Preto

2015

Cidades com unidades geradoras: 21

Quantidade de unidades geradoras: 124

Potência instalada: 460,76 kw

2020

Cidades com unidades geradoras: 98

Quantidade de unidades geradoras: 7.273

Potência instalada: 61.752,63 kw

2025

Cidades com unidades geradoras: 98

Quantidade de unidades geradoras: 89.175

Potência instalada: 785.196,17 kw (suficiente para abastecer uma

cidade do tamanho de Rio Preto)

Rio Preto

2015

Quantidade de unidades geradoras: 65

Potência instalada: 250,47 kw

2020

Quantidade de unidades geradoras: 1.466

Potência instalada: 11.058,28 kw

2025

Quantidade de unidades geradoras: 18.858

Potência instalada: 136.290,89 kw (suficiente para abastecer uma cidade do tamanho de Votuporanga)

Carros elétricos

Região de Rio Preto

2015

Frota total: 1.128.377

Frota elétrica/híbrida: 23

Cidades com carros elétricos/híbridos: 10

2020

Frota total: 1.313.64.

Frota elétrica/híbrida: 213

Cidades com carros elétricos/híbridos: 27

2025

Frota total: 1.503.495

Frota elétrica/híbrida: 5.927

Cidades com carros elétricos/híbridos: 85

Rio Preto

Carros elétricos

2015

Frota total: 360.520

Frota elétrica/híbrida: 9

2020

Frota total: 406.142

Frota elétrica/híbrida: 128

2025

Frota total: 452.610

Frota elétrica/híbrida: 3.544

Fonte: Senatran e Aneel