MP vai apurar teor de vídeo com cruz em chamas publicado pelo Baep de Rio Preto
Imagens mostram ao menos 16 policiais militares diante de uma cruz em chamas, além de um caminho marcado por fogo e viaturas da corporação

O Ministério Público de Rio Preto vai instaurar procedimento para apurar o teor de um vídeo publicado nas redes sociais do 9º Batalhão de Ações Especiais (Baep) em que uma cruz é incendiada. As imagens, captadas na sede da unidade militar, remetem a um tradicional ritual da Ku Klux Klan (KKK), organização supremacista conhecida pela perseguição a negros nos Estados Unidos.
O vídeo de 17 segundos foi divulgado nesta terça-feira, 15, no perfil @baepriopreto, em parceria (collab) com os perfis @cpi5pmesp (página oficial do Comando do Policiamento do Interior 5) e @jtcostajunior (perfil do tenente-coronel José Thomaz Costa Júnior). A publicação foi apagada horas depois.
As imagens, captadas com auxílio de um drone, mostram pelo menos 16 policiais militares diante de uma cruz em chamas. Há ainda um caminho marcado por fogo e cinco viaturas da corporação ao fundo. A sigla Baep também aparece marcada por fogo ao fundo.
Nos Estados Unidos, a queima da cruz pela KKK, que simboliza intimidação a grupos oponentes, foi considerada crime pela Suprema Corte.
“O que essas imagens apresentam ou pretendem representar diz muito sobre a política de Segurança Pública que está sendo implementada no estado de São Paulo. Uma política que dialoga com o racismo e com ideologias que colocam especialmente a população negra numa condição de povo desumanizado. Os dados de letalidade policial falam por si”, afirma Claudinho Silva, ex-Ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, especialista em Segurança Pública e ativista do Movimento Negro.
Ele menciona ainda que comandantes da PM não deveriam se sentir a vontade para publicizar esse tipo de conteúdo.
“Muito provavelmente isso foi produzido dentro de um estabelecimento policial, com utilização de equipamentos da própria polícia. É uma afronta àqueles que a vida inteira sofreram com o racismo e eu avalio que medidas drásticas precisam ser tomadas por quem de direito, o Ministério Público, a Corregedoria, e por que não dizer o próprio governador, para coibir esse tipo de comportamento”, acrescenta.
A reportagem solicitou explicações à Polícia Militar sobre a mensagem que o 9º Baep quis transmitir no vídeo. Até o momento, não houve manifestação.
Em nota, o Ministério Público informou que “o caso foi protocolizado na Secretaria Executiva da Promotoria de Justiça Criminal de São José do Rio Preto e o expediente foi encaminhado a um promotor de Justiça para conhecimento”
Atualização 16/04/2025
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública respondeu que a Polícia Militar é uma instituição legalista e repudia toda e qualquer manifestação de intolerância. "Assim que tomou conhecimento das imagens, a Corporação instaurou um procedimento para investigar as circunstâncias relativas ao caso. A Corporação não compactua com desvios de conduta e reforça que qualquer manifestação que contrarie seus valores e princípios será rigorosamente apurada e os envolvidos responsabilizados".