Morre Ulysses Mussi, primeiro marchand de Rio Preto
Criativo, inovador e eternamente apaixonado pelas artes, ele deixa um legado de pioneirismo e sensibilidade que ajudou a moldar a identidade da cidade

Faleceu nesta segunda-feira, 30 de junho, aos 95 anos, Ulysses Mussi, figura marcante da história cultural e comercial de Rio Preto. Criativo, inovador e eternamente apaixonado pelas artes, ele deixa um legado de pioneirismo e sensibilidade que ajudou a moldar a identidade da cidade. O velório acontece nesta terça-feira, 1º de julho, no Jardim da Paz, até as 19h. O horário do sepultamento ainda será informado.
A filha Maria Amélia Mussi relembra o espírito generoso e criativo do pai. “Meu pai foi um empreendedor muito a frente de seu tempo, além de uma sensibilidade inexplicável ligada a arte plástica e à música”, afirma, complementando que um dos seus maiores valores eram a família. “Muito dedicado a nós e a minha mãe, ajudando-a a cuidar de todos os cunhados na velhice. Ele cuidou dos irmãos e foi de uma dedicação aos pais dele, visitando-os três vezes por dia. A alegria dele era nos ver reunidos em sua casa”, conta.
Ulysses foi o primeiro marchand de Rio Preto. À frente da galeria Shop Shop, que mais tarde se tornaria a emblemática Tela Branca. Ele abriu portas para que a arte plástica ganhasse espaço e valorização em uma cidade ainda distante do circuito artístico nacional. Com seu trabalho incansável, levou obras de artistas regionais a feiras, salões e colecionadores em toda a região, Capital e até no litoral.
"A arte plástica é a minha vida", dizia com frequência. E era mesmo: Ulysses não apenas vendia arte, ele a vivia. No início da carreira, muitas vezes, transformava o próprio carro em galeria itinerante, percorrendo estradas para levar as artes plásticas onde ela ainda não chegava. Foi assim que conheceu artistas como Manoel Marto, Antônio Portella, José Antônio e Silva, o primitivista rio-pretense reconhecido internacionalmente.
Mas o gosto pela inovação não se limitava às telas. Antes da galeria, Ulysses já tinha cravado seu nome na história comercial da cidade. Ao lado do pai, José Mussi, comandou a loja Cristalux, que introduziu à população de Rio Preto avanços como o ar-condicionado e a máquina de lavar roupas.
Um marchand que entendia de gente
Ulysses não apenas identificava talento, ele sabia cultivá-lo. Seu olhar clínico para a qualidade técnica e sua busca incessante por artistas comprometidos com o estudo e a excelência o tornaram uma referência. Sua formação em Direito foi breve; sua vocação verdadeira estava no contato humano, na sensibilidade e na arte de vender, mais que produtos, experiências.
Mesmo aos 95 anos, Ulysses se mantinha lúcido, ativo e criativo. Dedicava seu tempo à confecção de bonecos de ventriloquia, passatempo que descrevia como exercício para a imaginação e forma de levar alegria às crianças.
Casado há 70 anos com Apparecida Kenan Mussi, deixa as filhas Maria Amélia, Maria Angélica e Maria Cristina; os netos José Eduardo, Thiago, Pedro e Stephanie; e os bisnetos Miguel e Mariana.