Três adolescentes de Rio Preto serão os primeiros a participar do projeto Portas Abertas
Parceria entre a Vara da Infância e Juventude e a Arprom, o projeto busca treinar menores infratores para o mercado de trabalho e encaminhá-los para cumprirem funções remuneradas em empresas parceiras


O dia 7 de dezembro de 2022 será inesquecível para três menores que cumprem medida socioeducativa de internação na Fundação Casa de Rio Preto. A data está registrada na carteira de trabalho deles como o primeiro dia de uma nova vida. De uma parceria entre a Vara da Infância e Juventude e a Associação Riopretense de Promoção do Menor (Arprom) surgiu o projeto Portas Abertas, iniciativa que visa treinar menores infratores para o mercado de trabalho e encaminhá-los para cumprirem funções remuneradas em empresas parceiras.
Nesta quarta-feira, 7, três adolescentes reescrevem a própria história, longe do tráfico de drogas. Dois deles foram aprovados e admitidos por um grupo empresarial e um prestará serviços para a própria Arprom.
“Os jovens são cooptados pelo crime por falta de oportunidades. A maioria vem de família vulnerável e busca, principalmente no tráfico de drogas, uma possibilidade de sustento. Nas minhas visitas à Fundação Casa sempre pergunto quem tem interesse de trabalhar e a maioria responde que tem. Então o que falta? Portas abertas”, explica o juiz Evandro Pelarin, idealizador da iniciativa.
Priscila Silveira Pasqual, psicóloga judiciária que integra o time do projeto, diz que os três menores foram selecionados pela Fundação Casa de Rio Preto por demonstrarem grande interesse em um trabalho formal.
“Trata-se de uma ideia experimental que ainda está em desenvolvimento. Estamos avaliando os resultados e a logística para aprimorar o plano de ação. A ideia é que, futuramente, todos os jovens internados, que tenham interesse em trabalhar, recebam uma oportunidade”, afirma.
Priscila explica que os menores já capacitados ainda cumprem medida socioeducativa e retornarão para a unidade após o final do expediente. Um trabalho importante realizado pela equipe de capacitação foi orientar os meninos a dispensarem comportamentos disciplinares exigidos na unidade de internação, como andar com as mãos para trás e tratar a todos como “senhor” e “senhora”.
Coordenadora geral da Arprom, Maria Luiza Bueno diz que os adolescentes encaminhados pela Fundação Casa são inseridos nas atividades da Associação sem qualquer diferença entre os menores assistidos pela instituição.
“Participam dos cursos e capacitações junto com a turma. Queremos mostrar para eles que todos devem ter oportunidade de recomeçar. Queremos que eles se sintam parte da sociedade”, diz.
A entidade se comprometeu a sempre manter um menor em medida socioeducativa no quadro de funcionários como forma de incentivar empresários a participarem da iniciativa. O primeiro grupo empresarial a topar a empreitada é parceiro histórico da Arprom e já empregou dezenas de jovens desde a consolidação da lei de estágio e menor aprendiz.
Em 51 anos de história, a Arprom já capacitou 20 mil menores para o mercado de trabalho. Atualmente conta com 700 jovens inscritos, entre meninos e meninas. Aproximadamente 450 estão trabalhando e 250 concluindo o treinamento, que inclui informática e etiqueta.
Literatura como uma boa arma
Outro importante projeto em curso, também encabeçado pelo juiz Evandro Pelarin, é o de recitais de literatura, a serem realizados na Biblioteca Municipal.
“A ideia é que, a partir de janeiro, um sábado por mês, menores em cumprimento de medidas socioeducativas participem de audições de obras clássicas e que também sejam convidados a recitar”, explica o juiz.
A iniciativa visa apresentar aos menores o universo dos livros e do conhecimento, oferecendo mais uma alternativa de futuro, por meio do interesse em temas que eles não têm acesso nas periferias.
Pedro Ganga, secretário de Cultura de Rio Preto, disse que está estudando de que forma o projeto poderá ser implementado na programação da Biblioteca.
“Já temos a ‘Hora do Conto’, oferecido às escolas municipais de Rio Preto. Precisamos encontrar profissionais especializados em literatura e que tenham abordagem criativa, para atrair a atenção desses meninos. Reconhecemos os esforços do juiz Pelarin na ressocialização desses adolescentes e queremos somar nesse propósito”, disse. (JT)