Crise 'dispara' ida de alunos da rede particular para pública
Alunos de escolas particulares migram para o ensino público em meio a pandemia; docentes criam formas de demonstrar afeto aos alunos



A crise provocada pelo coronavírus fez disparar o número de transferências de estudantes para a rede pública de ensino. Na região, entre abril e maio, foram 106 transferências de estudantes para a rede estadual, contra duas do mesmo período do ano passado. O aumento é explicado pelas dificuldades financeiras de muitas famílias devido à pandemia, que levou muitos pais a tirarem alunos da rede particular e os colarem na rede pública de ensino - que atende 80% dos alunos de São Paulo.
Na rede municipal, que atende estudantes das séries iniciais do ensino fundamental de Rio Preto, o aumento não foi tão expressivo em comparação com o mesmo período do ano passado. Durante a pandemia, a rede municipal de ensino passou de 40.368 alunos para 40.690, crescimento de 0,8%. Em contrapartida, em 2019, esse aumento de transferências foi de 2,7%, de 39.373 para 40.436 alunos.
Entre os motivos apontados para o aumento expressivo na rede estadual e um aumento pequeno na municipal está o valor das mensalidades. Costumeiramente, os anos finais do ensino médio, em que estudantes se preparam para os vestibulares, costumam ter mensalidades mais caras do que a primeira etapa do ensino infantil. Na região, as escolas estaduais atendem à segunda etapa do ensino fundamental e alunos do ensino médio, enquanto a rede municipal atende em sua maior parte alunos das séries iniciais de ensino.
E devido ao crescimento das transferências, a rede estadual lançou uma plataforma digital em que os pais não precisam mais ir até a escola para fazer a matrícula num colégio público.
"Dada à situação do isolamento social, criamos a plataforma. Nela, o pai entra no site e lá tem todas as informações para fazer a pré-inscrição na rede pública. Com isso, uma escola faz a análise dos documentos, e se tiver tudo certo a escola liga para o responsável e já vale de forma imediata a matrícula", explicou o coordenador de tecnologia, informação e matrícula da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, Thiago Cardoso.
Para efetuar a pré-matrícula, é necessário acessar o site ( https://sed.educacao.sp.gov.br/NCA/PreInscricaoOnline/login ) e preencher as informações solicitadas. Na plataforma, o responsável pela transferência da criança precisa fazer upload dos documentos no mesmo endereço eletrônico.
Para a professora e especialista em educação da Unesp de Rio Preto, Ana Maria Klein, a pandemia tem mostrando a importância do papel do Estado durante a crise sanitária. "Digo que é a escola pública é a escola de todo mundo. É uma escola democrática, onde a criança lida com personalidade totalmente distintas", apontou.
Volta às aulas
Com data indefinida sobre a volta às aulas, a rede estadual de ensino de São Paulo até agora só confirmou que o retorno das aulas presenciais nas instituições do estado será gradual. "O que temos certeza é que será um retorno gradual e que vai ser regionalizado, considerando que tem regiões em que a pandemia está um pouco mais contida", destacou Thiago.
Uma avaliação diagnóstica também deve ser aplicada aos estudantes quando às aulas presenciais voltarem no intuito de definir o grau de dificuldade de cada estudante.
Lápis emprestado para o colega de classe deve ser um hábito proibido, assim como medidas de higienização serão redobradas.
Além disso, as escolas devem voltar a funcionar nas primeiras semanas com 20% da capacidade e possibilidade de ensino hibrido durante as primeiras semanas. Ou seja, enquanto um grupo de estudantes vai um dia para a escola, outro continua acompanhando as aulas pelas plataformas digitais. A medida visa respeitar o distanciamento entre os estudantes, evitando o contágio da Covid-19.
Na rede municipal, o cenário também é de indefinição quanto à volta dos estudantes para a sala de aula. Nesta semana, a prefeitura de Rio Preto iniciou a exibição de atividades educativas da rede municipal pela TV Câmara. É a terceira etapa do programa lançado em abril, com o objetivo de oferecer atividades educativas a serem desenvolvidas pelas famílias, enquanto os alunos estão afastados das escolas.
A prefeitura já havia lançado uma plataforma digital para os alunos acompanharem as aulas, mas alguns alunos da cidade, sem acesso à internet, não conseguirem acompanhar, mesmo com a educação oferecendo atividades impressas nas escolas.
Cartinhas para matar saudades da turma
Professoras de escolas infantis de Rio Preto têm buscado manter o vínculo com seus alunos mesmo com a distância provocada pelo isolamento social. Com aulas presenciais suspensas, elas apostam no carinho para estar "perto" dos pequenos. É por meio de cartinhas escritas por elas que seguem as mensagens de afeto. Vídeos postados nas redes sociais das escolas também ajudam a matar a saudade.
A escola Pantera Cor de Rosa foi uma das que teve a ideia de enviar carta para os alunos. Segundo a coordenadora da escola, Patrícia Vieira Ribeiro, a iniciativa começou depois de reuniões entre os professores e a Secretaria de Educação. A orientação era para que houvesse uma maior aproximação entre alunos e professores. Daí nasceu a ideia das cartas, entregues para os 172 alunos. Todas as professoras escrevem as cartas e cada uma escolhe um aluno para receber. A entrega é feita com os kits alimentação que a prefeitura está disponibilizando.
Patricia afirmou que, inicialmente, a ideia era dar a cartinha apenas uma vez, mas eles estão pensando em realizar a ação mais uma vez. "As crianças que vieram receber o kit junto com os pais sentiam tanta alegria que queriam abraçar os professores. Os pais ficaram muito contentes. Um deles disse que era aniversário da filha e que ela iria ficar muito feliz".
Patrícia conta que a reação foi tão positiva que algumas crianças resolveram retribuir o carinho e também escreveram cartas aos professores.
O editor de áudio e vídeo Leandro Fermino, pai da Heloise, 5 anos, aluna da escola Pantera Cor de Rosa, diz que gostou muito da iniciativa e que as cartinhas ficaram lindas. "Minha filha é uma aluna que ama ir à escola, e nessa fase que estamos passando ela não para de falar que está com saudade das professoras, amiguinhos e brinquedos. Quando entreguei a carta para minha filha, ela amou, pediu rapidamente para ler as partes das palavras que ela não entendia".
Fermino afirma que a filha não vê a hora de voltar às aulas e que o desejo dela é dar um abraço de gratidão pelo carinho transmitido pelos professores, mesmo com a distância. "Nós, pais, a cada dia, temos mais certeza de que nossas crianças estão sendo bem cuidadas, por pessoas tão humanas e profissionais muito dedicados".
A escola também teve a iniciativa de publicar vídeos em sua página no Facebook. Num deles, a professora vai colocando o nome de seus alunos dentro de um coração que tem nas mãos, mostrando que todos estão dentro. Outro vídeo emocionante é o em que a professora canta uma música, relembrando dos momentos em que eles cantavam nas aulas.
Aproximação
Na Escola Municipal Lydia Sanfelice, os professores também estão produzindo cartas. A iniciativa foi dos professores em parceria com a diretora Patrícia Gutierrez e a coordenadora pedagógica Ana Catarina Angeloni Hein.
Segundo a diretora da escola, Patrícia Gutierrez, o momento é de minimizar os danos causados pela pandemia. "Cada um desenvolveu a ideia de uma maneira. Os segundos e terceiros anos estão trabalhando com cartas por estarem no período de alfabetização, então unimos o conteúdo à acolhida amorosa aos alunos".
A coordenadora pedagógica Ana Catarina diz que alguns professores ficaram preocupados com a falta de contato virtual com todos os alunos e, com isso, decidiram entregar as cartas. "As crianças gostaram muito de receber esse gesto de carinho e cuidado. Foi uma forma de estarmos perto, apesar da distância".
A escola também aumentou seu contato pelas redes sociais. Por lá são divulgado os materiais de estudo da escola e da Secretaria da Educação, além disso, também é divulgado os materiais produzidos por professores e alunos e todas as ações produzidas pela escola para manter a relação com os alunos.
(Colaborou Leonardo Lino)