Diário da Região
OS PATRIMÔNIOS DE RIO PRETO

Conheça 14 bens tombados como patrimônio cultural de Rio Preto

Bens tombados como patrimônio cultural vão de estação ferroviária a túmulo de engenheiro, em Rio Preto. Região Central e bairro mais antigo da cidade - Boa Vista - tentam preservar os últimos resquícios de sua história por meio dos casarões

por Rone Carvalho
Publicado em 23/04/2022 às 19:42Atualizado em 24/04/2022 às 08:12
Membro do Comdephact de Rio Preto, Kedson Barbero, é guardião de um casarão no Centro (Guilherme Baffi 20/04/2022)
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Membro do Comdephact de Rio Preto, Kedson Barbero, é guardião de um casarão no Centro (Guilherme Baffi 20/04/2022)
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Como toda grande cidade, Rio Preto também perde no decorrer dos anos parte de sua história. Basta andar pelos bairros Redentora ou Boa Vista e ver prédios históricos desaparecerem com o avanço do mercado imobiliário. Mas, um grupo de rio-pretenses luta para manter e preservar a identidade de locais que nasceram antes mesmo da cidade crescer.

São árvores, estações ferroviárias, prédios públicos, conjuntos musicais e até o túmulo de um engenheiro que foram tombados pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural e Turístico (Comdephact) como patrimônios culturais e que ajudam a contar parte dos 170 anos de história da cidade.

Apesar disso, Rio Preto aparece entre os municípios que menos possuem bens tombados como patrimônios culturais no Brasil, segundo especialistas ouvidos pelo Diário. São apenas 14, dos quais 13 com aval municipal do Comdephact e um com aval estadual do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat) - o Complexo da Swift.

Muito além da preservação de parte da história, o tombamento representa ações com o objetivo de defender bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e de valor afetivo para a população. Criado em 1937, ele está previsto por meio de lei federal e está assegurado na Constituição Federal de 1988.

Segundo o membro do Comdephact de Rio Preto, Kedson Barbero, a cidade possui aproximadamente 170 bens com potencial de serem patrimônio cultural. São imóveis, construções, esculturas, praças e igrejas que precisam ser preservados para não se perder com o crescimento da cidade. “Entre os locais, estão a praça da Basílica Menor de Nossa Senhora Aparecida e a de Santa Apolônia, em Engenheiro Schmitt”.

Para o professor de artes, arquitetura e história Augusto Vasconcelos Neto, não é necessário apenas tombar locais como patrimônio da cidade, mas inseri-los em um roteiro turístico. “O que preserva a edificação não é apenas a restauração depois do tombamento, mas o uso e a presença de pessoas. A Swift é muito bem vista, construiu uma relação de amor com a cidade, principalmente, na pandemia, mas isso não acontece com a estação ferroviária de Engenheiro Schmitt”, apontou.

Para Augusto, Rio Preto possui um enorme potencial turístico, mas é necessário maior empenho do poder público para atrair visitantes além do comércio e saúde. “Schmitt é o maior exemplo disso, é um ótimo roteiro turístico, tem a igreja, os doces típicos, locais tradicionais de festa. Todos esses bens tombados poderiam ser inseridos em uma rota caipira. Rio Preto não tem que ser a cidade apenas que as pessoas vem para ir no shopping ou receber atendimento médico”, disse.

O historiador Fernando Marques conta que Rio Preto sempre teve dificuldades de preservar parte de seu patrimônio. “Na década de 1930, por exemplo, um engenheiro chegou à cidade e ao ver a região central com os três jardins, fez uma planta e propôs um tombamento branco para a região, assim como fez Santos e Botucatu, pois era uma das regiões centrais mais lindas do Brasil, mas o projeto nunca foi levado a diante”.

Quando um bem é tombado, sobretudo, um imóvel, o proprietário fica limitado ao que pode fazer. No entanto, o que parece um problema também é uma oportunidade. Isso porque a legislação de alguns municípios estão avançado no sentido de incentivar a preservação do patrimônio cultural, com mecanismo de isenções do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e ISS (Imposto Sobre Serviços).

“Preservar o patrimônio de uma cidade é preservar parte da história. Quando dizemos da importância de preservar o Complexo da Swift, é a mesma coisa de Roma preservar o seu Coliseu. São marcas da cidade, que ao decorrer dos anos, infelizmente, estamos perdendo”, afirmou Augusto.

TÚMULO DO ENGENHEIRO UGOLINO UGOLINI

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Tombado em 2004 como patrimônio cultural de Rio Preto, o túmulo do Engenheiro Ugolino Ugolini está localizado no Cemitério da Ressurreição, na Vila Ercília. Até 11 de fevereiro de 1895, nenhuma rua ou praça de Rio Preto possuía denominação oficial. Era rua de Cima, Baixo ou até do Comércio. Foi Ugolino o responsável pelo traçado urbano de Rio Preto, transformando, por exemplo, a rua de Cima em Bernardino de Campos

ANTIGO INSTITUTO PENAL AGRÍCOLA (IPA)

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Tombado em 2008 como patrimônio cultural de Rio Preto, o antigo Instituto Penal Agrícola (IPA) “Dr. Javert de Andrade” foi criado em 18 de junho de 1955, na esteira do desenvolvimento econômico de Rio Preto, cujo impulso se deu pela cultura do café e pela construção da Estrada de Ferro de Araraquara. No entanto, apesar de ser patrimônio cultural da cidade encontra-se em ruínas

PRÉDIO DO ANTIGO TIRO DE GUERRA (TG 197)

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Tombado em 2004 como patrimônio cultural de Rio Preto, o antigo Prédio do Tiro de Guerra (TG-197), que hoje abriga o Museu de Arte Primitivista José Antônio da Silva (MAP), foi um dos primeiros bens materiais tombados na cidade.

GUAPURUVU NO BAIRRO IMPERIAL

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Tombada em 2014 como patrimônio cultural de Rio Preto, a árvore nativa Guapuruvu, no bairro Imperial, não existe. Ela foi cortada em 2019, quando tinha, aproximadamente 85 anos. A determinação de cortar o Guapuruvu foi expedida pela Defesa Civil pelo risco da árvore cair. No local, está prevista a construção de um memorial para a árvore

ORQUESTRA SINFÔNICA DE RIO PRETO

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Tombada em 2020 como patrimônio cultural de Rio Preto, a Orquestra Sinfônica de Rio Preto fez seu primeiro concerto em 1942. Os esforços de importantes músicos da época foram fundamentais para o surgimento da orquestra de Rio Preto, destacando o violinista Luiz Biela de Souza Valle, o violoncelista Artur Ranzini e o flautista Deocleciano de Souza Viana

COMPLEXO DA SWIFT

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Tombado em 2008 como patrimônio histórico do Estado de São Paulo, o prédio da antiga fábrica Swift-Armour em Rio Preto teve sua construção iniciada em 1937 e funcionou até 1973. Ocupa uma área coberta de 7.140 metros quadrados. Destinava-se à fabricação de produtos obtidos através do processamento de milho, mamona, amendoim e, principalmente, caroço de algodão

ACERVO DO MUSEU DE ARTE PRIMITIVISTA JOSÉ ANTÔNIO DA SILVA (MAP)

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Tombado em 2021 como patrimônio cultural de Rio Preto, o acervo do Museu de Arte Primitivista José Antônio da Silva (MAP) reúne 67 telas a óleo, representando todas as fases pictóricas do artista, além de esculturas, desenhos e gravuras

BANDA REGIMENTAL DE MÚSICA DO CPI-5

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Tombada em 2014 como patrimônio cultural de Rio Preto, a Banda Regimental de Música do Comando de Policiamento do Interior Cinco (CPI-5) é responsável por diversas apresentações na cidade

PRÉDIO DO LAR PARA IDOSOS DE ENGENHEIRO SCHMITT

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Tombado em 2004 como patrimônio cultural de Rio Preto, o prédio do Lar para Idosos de Engenheiro Schmitt também conhecido como Associação e Oficina de Caridade Santa Rita de Cássia abrigava, no passado, o Colégio São José

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE RIO PRETO

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Tombada em 2007 como patrimônio cultural ferroviário do Brasil, através da Lei 11.483, de 31 de maio de 2007, a Estação Ferroviária de Rio Preto foi inaugurada em junho de 1912. Foi a partir dela que a cidade cresceu e se desenvolveu

PALÁCIO DAS ÁGUAS

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Tombado em 2004 como patrimônio cultural de Rio Preto, o Palácio das Águas foi inaugurado em outubro de 1955. Era um tradicional ponto turístico da cidade e atraía visitantes da região interessados em admirar o mirante do local. Entre seus atrativos estão as três sereias no saguão de entrada, pilares em estilo rebuscado e um poema em homenagem à água, mas o grande destaque é o chafariz

FIGUEIRA DO JARDIM SÃO MARCOS

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Tombada em 2016 como patrimônio cultural de Rio Preto, a árvore centenária da espécie Figueira, no Jardim São Marcos, foi tombada após uma campanha feita por moradores da cidade. Além de ser centenária, a árvore fica próxima de nascentes

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE SCHMITT

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Tombada em 2008 como patrimônio cultural de Rio Preto, a Estação Ferroviária do distrito de Engenheiro Schmitt foi inaugurada em 1º de outubro de 1912 pela Estrada de Ferro Araraquara. A implantação da estação pela ferrovia deu origem ao vilarejo em volta, que surgiu em 1913

MERCADÃO DE RIO PRETO

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Tombado em 2004 como patrimônio cultural de Rio Preto, o Mercado Municipal foi inaugurado em 19 de julho de 1944 para ser um entreposto comercial de atacado e varejo, especializado na comercialização de frutas, verduras, cereais, carnes, temperos e outros produtos alimentícios. O prédio possui inspiração de Art Déco

Patrimônio ameaçado

Galeria Bassitt, prédio da escola Monsenhor Gonçalves, Basílica Menor de Nossa Senhora Aparecida, Igreja Ortodoxa Antioquina de São Jorge, Cristo da Vila Maceno, casarões e edifícios da região Central, Boa Vista e Redentora são lembrados com frequência como possíveis novos patrimônios.

Em 2007, em campanha do Diário, os moradores da cidade elegeram como as sete maravilhas de Rio Preto: Basílica Nossa Senhora Aparecida, Represa Municipal, Bosque Municipal, Palácio das Águas, Riopreto Shopping Center, Mercadão Municipal e o complexo da Swift. Três estão tombados como patrimônios culturais.

Para um bem ser tombado é necessária a mobilização de moradores. “Os últimos foram de pedidos de associações de bairro”.

No Brasil, o tombamento existe em três esferas, em nível municipal feito pelo Comdephact; em nível estadual feito pelo Condephaat, e em nível nacional, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

“Em Rio Preto, não temos prédios religiosos tombados porque quando se trata de um patrimônio religioso, a própria religião possui a postura da preservação. No caso dos casarões, esse trabalho é mais acentuado”, disse Kedson Barbero, que mora em um casarão na região central de Rio Preto e integra o Comdephact.

No âmbito municipal, após o pedido, o Comdephact – formado por diversos membros da sociedade civil – vota se o bem será tombado ou não. “Toda cidade tem sua história e a história não é contada apenas com os livros, mas também através de sua arquitetura”.

O Diário procurou a Prefeitura para saber quais medidas estão sendo adotadas com o objetivo de colocar os patrimônios em um roteiro turístico e sobre a situação de alguns bens em estado de abandono, mas não obteve resposta. (RC)