Com aulas remotas, pais se reinventam para ajudar na educação dos filhos
Ensino remoto emergencial permite maior interação entre professores e alunos, sem necessidade de alterar o planejamento pedagógico

Com aulas suspensas desde o final de março, devido à pandemia do coronavírus, muita gente tem sofrido com a adaptação da educação em casa. Sem o contato direto, professores precisaram reinventar a forma de chamar a atenção pelo vídeo, enquanto os alunos precisam focar na rotina e disciplina longe do espaço físico das escolas e os pais têm se sentido desnorteados sobre como acompanhar toda a mudança.
Em home office desde o início da quarentena, o contador rio-pretense Kleber José Roversi reforçou seu planejamento e organização para conseguir auxiliar a filha de 8 anos, Ana Laura Roversi, que cursa o 3º ano do Ensino Fundamental I, nas aulas, que têm acontecido online.
Além de organizar o material tecnológico para os estudos e estabelecer diálogo com a pequena, cobrando o comprometimento necessário, ele precisou criar uma rotina de horários para lidar com isso e transformou a sala de sua casa numa ilha profissional e escolar.
Enquanto se dedica à empresa, Ana Laura passa cerca de 2 horas e meia assistindo às aulas. Na parte da tarde, a garota retorna e fica em torno de 1 a 2 horas estudando e fazendo tarefa, conforme recomenda o roteiro de estudos semanal deixado pela escola.
Em relação ao comportamento da filha, Kleber ressalta que não houve mudança, uma vez que ela continua curiosa e motivada, mas percebe que ela tem como desafio construir seu espaço de aprendizagem e por isso, contribui para seu esforço afastando os elementos atrativos de casa no momento da aprendizagem, como TV, brinquedos, tablet, etc.
“Há dias em que ela não quer a aula naquele momento, diferente da escola presencial ou você vê que ela está mais dispersa. Esta, então, é a hora em que o diálogo e os limites precisam ser estabelecidos”, explicou o contador, que também tem acompanhado a filha nas atividades extracurriculares que seguiram por videoconferência, como aulas de canto e de teclado.
Adaptação pode gerar estresseA administradora de empresa Maria Cecília Bariani Haddad também tem lidado bem com a adaptação da filha, Marisa Bariani Haddad, de 14 anos, às aulas remotas. Aluna do 9° ano do Ensino Fundamental II, a adolescente passa o dia estudando por meio das ferramentas tecnológicas que já domina, dispensando o auxílio da mãe.
Com a nova rotina, Maria Cecília apenas observou um aumento do nível de estresse da filha, principalmente por precisar recorrer a outras ferramentas da internet para complementar às informações que o professor não consegue dar durante a aula.
“Ela está estudando bem mais do que durante as aulas presenciais, o que a faz ficar mais sobrecarregada e estressada”, contou a administradora, que disse que a filha concilia as aulas em casa com outras atividades, como aula de inglês, violão e pilates, além de participar de lives da Igreja .
Segundo a psicóloga e educadora Cristiane Fachini Brandolezi, a educação domiciliar é algo novo para os pais e para os filhos, portanto é momento de erros e acertos. Entretanto, já é possível analisar que o excesso de atividades escolares e a falta de uma rotina pré-estabelecida podem causar estresse tanto para os pais como para os filho, principalmente pela falta de interação com os colegas e professores e pelas restrições do isolamento.
“Esse estresse pode gerar o desinteresse da criança pelos estudos, além de desencadear outros problemas como ansiedade, depressão, entre outros. Cinco horas à frente de um computador se torna muito desgastante e por vezes menos interessante do que seria o mesmo tempo na escola. Portanto é importante estabelecer uma rotina bem organizada, porém diversificada. É importante que durante a rotina de estudos, sejam feitas pausas, seja para um lanche, para uma brincadeira, uma atividade lúdica, ou seja, para um momento de descontração”, explicou a profissional, que observou, porém, que a cobrança dos pais deve ser na dose certa, respeitando os limites de cada indivíduo.
Para Maria Cecília, embora as crianças e adolescentes estejam tendo a oportunidade de aprender a estudar de uma forma que outras gerações não necessitaram, a interação entre professor e aluno se vê comprometida.
“Um exemplo é que não é possível ver o aluno levantar a mão quando está com uma dúvida. O professor online se prepara para explicar, dar a aula e depois irá ver no chat da aula se há dúvidas. E isso, compromete o rendimento e qualidade da aprendizagem. Por isso que faz a diferença um professor preparado ou não”, disse a mãe de Marisa, que apesar das adaptações, avalia que não teve muitas alterações na rotina.
Ensino remoto emergencialPara lidar com a situação, escolas de Rio Preto e região passaram a adotar técnicas e plataformas que personalizam o ensino domiciliar à necessidade do momento, indo muito além de aprender/ensinar por vídeo.
Uma dessas técnicas é o ensino remoto emergencial, um método de aprendizagem comprovado cientificamente e usado em países de primeiro mundo em momentos de crise como o da pandemia do coronavírus.
O sistema que valoriza o aprendizado, conduzindo o processo de ensino de forma saudável e equilibrada, já está sendo aplicado nas aulas online de escolas como Start Anglo e Anglo Rio Preto por meio de uma parceria com o professor doutor Paulo Tomazinho, especialista na modalidade, que é diferente do tradicional EAD (Ensino a Distância), uma vez que o sistema é remoto por permitir maior interação entre professores e alunos sem necessidade de alterar o planejamento pedagógico que havia sido previsto para o ano.
O especialista conta que ensino remoto emergencial (ERE) é um termo já conhecido na Educação e foi aplicado, na História, em crises climáticas e naturais ou guerras civis.“É remoto porque professores e alunos não podem vir para sala de aula e é emergencial porque não houve planejamento prévio, ninguém estava preparado, ninguém foi treinado”, explicou Tomazinho, que destacou algumas diferenças entre o método e o tradicional EaD.
“No EaD existe um grupo de professores que produzem as aulas, vendem o direito autoral dessas aulas à uma instituição de ensino, que por sua vez inserem num ambiente virtual de aprendizagem em que há a figura mediadora do tutor, que não é quem criou as aulas e que muitas vezes nem precisa ser professor, porque não ensina, não dá aula, mas ajuda a consumir o conteúdo”, explicou o doutor, que enumerou as diferenças do ERE.
“Neste caso, a turma continua do mesmo tamanho e os professores são os mesmos, mantendo o vínculo emocional com seus alunos e entre os colegas da turma. Neste modelo, também não há ganho de escala, o que dispõe de mais trabalho e mais investimento por parte da escola, sendo a única alternativa perante à situação”.
Tomazinho comparou, ainda, a modalidade implementada ao sistema presencial, tradicional na rotina escolar. “À educação tradicional é muito focada no Ensino, e infelizmente não na aprendizagem. Se um aluno vai a aula e fala ‘presente’ este aluno está presente, e o professor é obrigado a atribuir presença à este aluno, mesmo que ele não preste atenção na aula, não faça as atividades e as tarefas. Na educação presencial, a presença do aluno é condicionada a presença física do aluno na sala. No sistema remoto, a presença do aluno é atribuída à atividade realizada, o que obriga os alunos a estudar para aprender e não apenas ir à escola para assistir aulas”, finalizou o especialista.
Ensino remoto emergencial
Para lidar com a situação, escolas de Rio Preto e região passaram a adotar técnicas e plataformas que personalizam o ensino domiciliar à necessidade do momento, indo muito além de aprender e ensinar por vídeo.
Uma dessas técnicas é o ensino remoto emergencial, um método de aprendizagem comprovado cientificamente e usado em países de primeiro mundo em momentos de crise como o da pandemia do coronavírus.
O sistema que valoriza o aprendizado, conduzindo o processo de ensino de forma saudável e equilibrada, já está sendo aplicado nas aulas online de escolas como Start Anglo e Anglo Rio Preto por meio de uma parceria com o professor doutor Paulo Tomazinho, especialista na modalidade, que é diferente do tradicional EAD (Ensino a Distância), uma vez que o sistema é remoto por permitir maior interação entre professores e alunos sem necessidade de alterar o planejamento pedagógico que havia sido previsto para o ano.
O especialista conta que ensino remoto emergencial (ERE) é um termo já conhecido na educação e foi aplicado, na história, em crises climáticas e naturais ou guerras civis."É remoto porque professores e alunos não podem vir para sala de aula e é emergencial porque não houve planejamento prévio, ninguém estava preparado, ninguém foi treinado", explicou Tomazinho, que destacou algumas diferenças entre o método e o tradicional EAD.
"No EAD existe um grupo de professores que produz as aulas, vende o direito autoral dessas aulas à uma instituição de ensino, que por sua vez insere num ambiente virtual de aprendizagem em que há a figura mediadora do tutor, que não é quem criou as aulas e que muitas vezes nem precisa ser professor, porque não ensina, não dá aula, mas ajuda a consumir o conteúdo", explicou o doutor, que enumerou as diferenças do ERE.
"Neste caso, a turma continua do mesmo tamanho e os professores são os mesmos, mantendo o vínculo emocional com seus alunos e entre os colegas da turma. Neste modelo, também não há ganho de escala, o que dispõe de mais trabalho e mais investimento por parte da escola, sendo a única alternativa perante à situação".
Tomazinho comparou a modalidade implementada ao sistema presencial, tradicional na rotina escolar. "A educação tradicional é muito focada no ensino, e infelizmente não na aprendizagem. Se um aluno vai à aula e fala 'presente', este aluno está presente, e o professor é obrigado a atribuir presença à este aluno, mesmo que ele não preste atenção na aula, não faça as atividades e as tarefas. Na educação presencial, a presença do aluno é condicionada à presença física do aluno na sala. No sistema remoto, a presença do aluno é atribuída à atividade realizada, o que obriga os alunos a estudarem para aprender e não apenas ir à escola para assistir aulas", finalizou. (AP)
Adaptação pode gerar estresse
A administradora de empresa Maria Cecília Bariani Haddad também tem lidado bem com a adaptação da filha, Marisa Bariani Haddad, de 14 anos, às aulas remotas. Aluna do 9° ano do ensino fundamental II, a adolescente passa o dia estudando por meio das ferramentas tecnológicas que já domina, dispensando o auxílio da mãe.
Com a nova rotina, Maria Cecília apenas observou um aumento do nível de estresse da filha, principalmente por precisar recorrer a outras ferramentas da internet para complementar às informações que o professor não consegue dar durante a aula.
"Ela está estudando bem mais do que durante as aulas presenciais, o que a faz ficar mais sobrecarregada e estressada", contou a administradora, que disse que a filha concilia as aulas em casa com outras atividades, como aula de inglês, violão e pilates, além de participar de lives da igreja.
Segundo a psicóloga e educadora Cristiane Fachini Brandolezi, a educação domiciliar é algo novo para os pais e para os filhos, portanto é momento de erros e acertos. Entretanto, já é possível analisar que o excesso de atividades escolares e a falta de uma rotina pré-estabelecida podem causar estresse tanto para os pais como para os filhos, principalmente pela falta de interação com os colegas e professores e pelas restrições do isolamento.
"Esse estresse pode gerar o desinteresse da criança pelos estudos, além de desencadear outros problemas, como ansiedade, depressão, entre outros. Cinco horas à frente de um computador se torna muito desgastante e por vezes menos interessante do que seria o mesmo tempo na escola. Portanto é importante estabelecer uma rotina bem organizada, porém diversificada. É importante que durante a rotina de estudos sejam feitas pausas, seja para um lanche, para uma brincadeira, uma atividade lúdica, ou seja, para um momento de descontração", explicou a profissional, que observou, porém, que a cobrança dos pais deve ser na dose certa, respeitando os limites de cada indivíduo.
Para Maria Cecília, embora as crianças e adolescentes estejam tendo a oportunidade de aprender a estudar de uma forma que outras gerações não necessitaram, a interação entre professor e aluno se vê comprometida.
"Um exemplo é que não é possível ver o aluno levantar a mão quando está com uma dúvida. O professor online se prepara para explicar, dar a aula e depois irá ver no chat da aula se há dúvidas. E isso, compromete o rendimento e qualidade da aprendizagem. Por isso que faz a diferença um professor preparado ou não", disse a mãe de Marisa, que apesar das adaptações, avalia que não teve muitas alterações na rotina.(AP)