Na pele de Carmen: exposição homenageia estudante da Unesp de Ilha Solteira desaparecida há 40 dias
A exposição trará fotografias feitas pela jovem, além de textos e poesias escritos durante momentos marcantes de sua vida; o evento ocorre neste sábado, 26

A Fundação Cultural de Ilha Solteira anunciou para o próximo sábado, 26, a exposição "Na pele de Carmen", que trará registros fotográficos feitos pela jovem Carmen de Oliveira Alves, de 25 anos, e poesias escritas durante sua vida, passando por momentos importantes, e trazendo uma visão íntima da vida da estudante. Carmen está desaparecida desde o dia 12 de junho.
“O evento será tomado pela presença viva de uma mulher que precisa ser lembrada para além dos estereótipos, mas por tudo aquilo que construiu em vida”, anuncia a organização do evento. A abertura da exposição está marcada para às 20h, no prédio da Fundação Cultural, na Praça dos Paiaguás, nº 135, Módulo L3.
Logo após a exposição, às 21h, será apresentado um sarau artístico que celebrará a memória de Carmen com música, palavra e afeto. O evento será aberto ao público que deseja conhecer um pouco da trajetória de Carmen até o seu desaparecimento.
Lucas de Oliveira, irmão e organizador da exposição, informou que foram coletadas diversas fotografias, além de um caderno composto por textos e poesias utilizado pela estudante.
"A ideia é trazer as pessoas para dentro do mundo dela, para que entendam quem era Carmen, como foi o período de sua transição de gênero, as confusões da adolescência, o seu 'eu' enquanto Carmen", conclui Lucas.
Desaparecida há 40 dias
Carmen de Oliveira Alves, de 25 anos, mulher transsexual e estudante de Zootecnia, desapareceu no dia 12 de junho, após sair do Campus II da Unesp de Ilha Solteira. Ela foi vista pela última vez pilotando uma bicicleta elétrica.
Após o desaparecimento, a Polícia Civil iniciou as investigações, resultando na quebra de sigilo e interceptação telefônica da vítima e de dois suspeitos — um deles, também estudante de Zootecnia, mantinha um relacionamento com Carmen; o outro, um policial militar aposentado, era amante do primeiro suspeito.
Após a análise de todo o material disponibilizado pelas operadoras de telefonia, a polícia constatou que Carmen não havia saído da cidade. O último local onde o celular da jovem teria dado sinal foi no Assentamento Estrela da Ilha, onde o namorado da estudante morava.
Também foram analisadas câmeras de segurança por toda a cidade, entre casas e estabelecimentos comerciais, traçando todo o trajeto feito por Carmen no dia do desaparecimento. Mais uma vez, o último local onde ela foi vista com vida foi no sítio do suspeito.
Suspeita de feminicídio
Com base nessa linha de investigação, a polícia passou a tratar o caso como um possível feminicídio, já que a jovem foi vista chegando ao sítio e não foi vista saindo do local. De acordo com a polícia, as investigações apontam que o suspeito, com a ajuda do amante, teria matado-a e ocultado o corpo.
Os dois foram presos temporariamente, inicialmente por 30 dias, para andamento das investigações. Ambos, até o momento, não confessaram o crime.
Motivação
De acordo com o delegado do caso, Miguel Rocha, a motivação do crime seria o fato de que Carmen teria descoberto o envolvimento do rapaz com furtos e roubos de fios de cobre em Ilha Solteira, e montado uma pasta com todas as provas em seu computador, como uma espécie de dossiê.
Após serem confirmados os indícios de que Carmen não havia saído do sítio, a Polícia Civil passou a realizar buscas com apoio da Guarda Civil Municipal (GCM) e do Corpo de Bombeiros por todo o local onde residia o suspeito. Foram feitas buscas no rio São José dos Dourados, que margeia a propriedade, com o auxílio de drones e sonares. No último fim de semana, dias 19 e 20, a Marinha também esteve no local para colaborar, porém, nada foi encontrado.
A polícia também contou com o apoio de um geólogo da Unesp, que utilizou um aparelho de georadar (GPR) para analisar o solo do sítio. No entanto, novamente, nada foi localizado.
Fragmentos de ossos
Até o momento o único indício encontrado pela Polícia Civil foram fragmentos de ossos queimados, localizados perto da casa do rapaz. O material, encontrado na última sexta-feira, 18, foi enviado ao Instituto Médico Legal (IML) para averiguar se, de fato, trata-se de ossos humanos. Se confirmado, será feito posteriormente um exame de DNA. O laudo deve sair em até 30 dias.
As investigações prosseguem. Nas redes sociais, o perfil “Onde está Carmen?” segue ganhando repercussão com manifestações de populares pedindo por respostas pelo desaparecimento.
*Estagiário sob supervisão de Gabriel Vital