Casal de Rio Preto vê imagem de santa em cera de vela derretida
Valcir e Cleonir identificaram a imagem de Nossa Senhora na cera da vela que colocaram para queimar durante um terço on-line; psicólogo explica fenômeno

Enxergar em um objeto um rosto familiar ou uma figura religiosa pode deixar muita gente intrigada e até emocionada. Quem já passou por isso certamente perguntou para outras pessoas se estavam vendo a mesma coisa. Foi o que aconteceu com o casal rio-pretense Valcir Rodrigues Pereira, 49 anos, e Cleonir Joaquim da Silva Pereira, 46, no momento em que rezava um terço no ano passado. A vela que estava acesa foi queimando e a cera que sobrou tomou um formato que o casal associou à imagem de Nossa Senhora.
Católico, Valcir conta que ele e a esposa participavam do terço de forma on-line quando notaram o formato da santa feito pela cera queimada. Foram duas noites rezando com a mesma vela, até que decidiram guardá-la. Nesta semana, após quase um ano do ocorrido, a vela mantinha o mesmo formato. "Achei interessante. Para quem é católico toca muito. A gente sente que de alguma forma ela manifestou a presença dela", conta. A vela está guardada no altar da família, em cima da Bíblia e ao lado da imagem de Nossa Senhora.
Valcir entendeu como uma mensagem
O rio-pretense afirma que a família estava passando por um momento muito difícil. Ele havia sofrido um acidente de trânsito, estava afastado do trabalho e a família começou a passar por dificuldades. "Eu creio que ali ela veio para falar: “estou com vocês”. Senti isso, que ela estava com a gente para dar uma força. Sempre fomos muito devotos de Nossa Senhora. Ficamos espantados de ver, ficamos arrepiados, foi muito forte. Ela deixou uma mensagem", conta.
"Tem horas que a gente desanima, porque acontecem tantas coisas ruins e vamos desanimando. Naquele momento ela veio para não deixar a gente desanimar. Que Deus estaria preparando algo melhor pra gente. Nos apegamos a isso. E vamos superar", afirmou ele.
E foi o que aconteceu. Pouco tempo depois, a família começou a receber ajuda. Os mantimentos foram tantos que eles também começaram a doar aquilo que não utilizariam. "Em meio de tantas coisas ruins, acontecem milagres", finaliza.
Ciência explica fenômeno psicológico
Chamado de pareidolia, o fenômeno de ver figuras conhecidas em objetos é mais comum do que se pode imaginar, segundo o psicólogo clínico e professor universitário Marcus Vinícius Gabriel. A ciência psicológica explica que, como fenômeno mental, é uma distorção cognitiva relacionada à percepção de um determinado estímulo visual. Marcus Vinícius afirma que não se trata de um transtorno mental, mas de uma distorção perceptiva. São ilusões materializadas pelos conceitos já registrados no funcionamento mental.
"Com isso, há pessoas que adquirem hábitos frequentes e começam a 'enxergar' silhuetas, auras, perfis, sinais parecidos com os componentes de um rosto, sombras e acreditam associar o que veem a determinada referência que lhe é importante. Fenômenos naturais, como nuvens, cortinas de fumaças e ventos em florestas ou em tomadas, interruptores, eletrodomésticos, móveis, podem trazer similaridades com imagens faciais conhecidas", explica.
O psicólogo ressalta que, em geral, a pessoa enxerga mesmo a imagem em um determinado objeto. Principalmente, se há um parâmetro religioso, ele vai associar com imagens sacras. "Podem haver semelhanças bem constituídas, mas não se pode afirmar que são, em geral, sinais sobrenaturais projetados em objetos", diz o especialista.
'Não basta observar, mas crer no que é observado'
Marcus Vinícius afirma que essa situação pode acontecer a qualquer momento, sob circunstâncias imprevisíveis. O psicólogo diz que as crenças são dispositivos cognitivos que determinam a referência de mundo. A pessoa passa a avalizar uma crença, na medida em que ela oferece algum benefício. "Enxergar um rosto de uma pessoa em um objeto me faz crer que aquela determinada pessoa está envolvida naquele material. Eu enxergo antes e creio em seguida. A crença é uma avalista da observação. Não basta observar, mas crer no observado".
Existem aquelas pessoas mais propensas a enxergar essas imagens, tudo depende da visão de mundo, ideologias e projeções de cada um. "Fiéis religiosos vão ter uma tendência a enxergar rostos identificados com aquilo que seja objeto de crença e culto, por haver uma vontade permanente de ver aquilo. Isso passa por nosso conjunto de crenças, também", finaliza.