Pais saudáveis, filhos também

Esse título poderia ser aplicado a uma gama enorme de textos. Poderíamos estar falando sobre como pais que oferecem comida saudável aos filhos podem ajudá-los a manter a saúde; ou sobre como pais que estimulam a prática de atividade física criam um ambiente mais equilibrado e ativo.

Mas não. Hoje quero compartilhar o resultado de pesquisas científicas que indicam que um pai, homem, que se exercita pode transmitir aos filhos uma predisposição a ter uma boa resposta à prática de atividade física.

Talvez você já tenha visto uma cena em que um casal tentando engravidar, ou que acabou de descobrir a gravidez, a mulher se abstém de vícios como bebidas alcoólicas e cigarro, enquanto o homem segue livre, sem grandes mudanças de hábito. Afinal, como o feto se desenvolve no útero da mãe, é ela quem precisa evitar substâncias nocivas. Já o pai… pode? Ou será mesmo?

O biólogo Xin Yin, pesquisador da Universidade de Nanjing, sempre ficou curioso sobre por que algumas crianças parecem ser naturalmente melhores em esportes do que outras. Para investigar se o pai poderia, de alguma forma, transmitir características relacionadas à aptidão física, ele elaborou uma série de experimentos. Só que com camundongos.

Os animais foram divididos em grupos: um deles passou por treinamento físico, enquanto o outro permaneceu sedentário. Depois, ambos cruzaram com fêmeas sedentárias. O resultado surpreendeu, mostrando que os filhotes dos machos que se exercitavam tiveram desempenho melhor nos testes de esteira do que os descendentes dos machos sedentários.

A pesquisa mapeou pequenos segmentos de RNA conhecidos como micro-RNAs, capazes de promover alterações epigenéticas no DNA. Ao analisar o sêmen dos animais ativos, a equipe de Xin Yin identificou dois micro-RNAs alterados, relacionados a uma proteína produzida em excesso em camundongos que praticam atividade física e também ao seu regulador.

Para testar a hipótese de que esses micro-RNAs seriam os responsáveis por transmitir a facilidade em se exercitar à prole, os pesquisadores utilizaram camundongos geneticamente modificados, capazes de apresentar uma resposta positiva ao treinamento físico mesmo sem se exercitar.

Metade dos descendentes desses machos herdava essa condição; a outra metade, não. Ainda assim, toda a prole de pais ativos teve desempenho superior nos testes, mesmo sem carregar o gene alterado.

Esse resultado indica que a facilidade em responder bem ao exercício não vinha do gene modificado, mas sim de algo mais, como os micro-RNAs detectados. Em um experimento final, ao inserir esses micro-RNAs em embriões de camundongos sedentários, a prole passou a apresentar melhor desempenho físico, confirmando a hipótese.

Se esses resultados forem confirmados em humanos, isso sugere que o estilo de vida do homem também influencia características que serão herdadas pelos filhos e filhas. E talvez, daqui para frente, tanto pai quanto mãe precisem repensar aquele drinque quando uma gravidez planejada estiver no horizonte.

Fábio Moraes

Auxiliar de Pesquisa, departamento de Física, IBILCE-UNESP.