O enterro simbólico e a morte da representação
Quem trata o povo com desprezo acaba sepultadopela história

Um simples enterro simbólico foi o bastante para escandalizar parte da Câmara Municipal. Não o escândalo pelo aumento abusivo do IPTU. Esse, silenciam. O que os ofende é o espelho que o povo lhes colocou diante dos olhos.
O ato ocorreu no último sábado de manhã, no Calçadão, de forma tranquila e pacífica, reunindo cidadãos que, com criatividade e indignação legítima, expressaram o luto coletivo por uma decisão injusta.
Foi um protesto sereno, só deformado pela presença de um ex-assessor do prefeito, que apareceu para confrontar manifestantes em busca de alguns likes e da velha migalha de protagonismo.
Vereadores que votaram a favor de um reajuste de 20% no imposto, sem ouvir a população, agora posam de vítimas. Alegam “ataques à honra”, “excesso de crítica”, “falta de respeito” e pasme: “ameaça de morte”.
Mas respeito é o que faltou quando aprovaram, em tempo recorde, um projeto nascido de um estudo pecaminoso, pra não dizer injustificável, gasto com dinheiro público. Combateram as emendas que buscavam proteger o povo. Ignoraram o clamor de quem paga a conta. As galerias estavam cheias de moradores. E agora, espantados com o “enterro político”, fingem não entender o poder da simbologia, ou se fazem de bobos.
O povo está enterrando a velha prática política, não as pessoas. O ato foi pacífico, criativo, legítimo. A democracia não morre no protesto. Ela morre é no silêncio imposto pelos que têm medo de crítica.
Os que se dizem “representantes do povo” parecem esquecer que não representam nem 30% do eleitorado somados. Foram eleitos pela minoria, mas governam como se tivessem o monopólio da vontade popular. E o povo, cansado de ser figurante, resolveu escrever o seu próprio epitáfio: a paciência acabou.
Que esse enterro simbólico sirva de aviso. Quem trata o povo com desprezo acaba sepultado pela história.
Carlos Alexandre
Presidente do PT – Rio Preto