Diário da Região
Olhar 360

Encontros e despedidas de um povo

Infelizmente, parece que a política e seu ambiente são inevitavelmente terrenos férteis ao cultivo das mais baixas expressões da personalidade humana

por Azor Lopes
Publicado há 1 hora
Azor Lopes Júnior (Azor Lopes Júnior)
Azor Lopes Júnior (Azor Lopes Júnior)
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“Todos os dias é um vai-e-vem; a vida se repete na estação. Tem gente que chega prá ficar; tem gente que vai prá nunca mais... Tem gente que vem e quer voltar. Tem gente que vai e quer ficar. Tem gente que veio só olhar; tem gente a sorrir e a chorar.”

Pois em abril de 2018, nos anais do Habeas Corpus 152.752, o Supremo Tribunal Federal negou a Lula o pedido de aguardar em liberdade, até o trânsito em julgado da sentença, o cumprimento das penas decretadas por Sérgio Moro e confirmadas pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Na ocasião, o relator, Edson Fachin, conduziu a maioria, no sentido de que não haveria ilegalidade naquela prisão, mesmo sem que ainda tivesse ocorrido seu trânsito em julgado; divergiram, Lewandowski, para quem “A vida e a liberdade não se repõem jamais”, enquanto Marco Aurélio assentava “Meu dever maior não é atender a maioria indignada, mas tornar prevalecente”.

Mesmo em junho de 2019, depois que o jornalista Glenn Greenwald trouxe à tona mensagens trocadas entre Sérgio Moro e procuradores da República durante a “Operação Lava Jato”, a Segunda Turma do STF rejeitou o posicionamento do ministro Gilmar Mendes, no sentido de que Lula fosse posto em liberdade até o julgamento definitivo do Habeas Corpus 164.493, em que a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro era suscitada pelo então advogado Cristiano Zanin, hoje ministro do STF e presidente da Primeira Turma, que condenou Bolsonaro.

Lula, o nordestino metalúrgico se tornou líder sindical, criou o Partido dos Trabalhadores, foi deputado federal e seu populismo o fez presidente “Pai dos Pobres” (termo publicitário criado para o populista Getúlio Vargas, pelo Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP -, dirigido por Lourival Fontes).

Semelhantemente, o “mito” Bolsonaro, um simplório caipira paulista de Glicério, ganharia expressão nacional a partir de 3 de setembro de 1986, quando publicou o artigo “O salário está baixo” na Revista Veja. Esse viés “sindicalista” evoluiria para o campo do terrorismo, revelado pela mesma Revista, na matéria “Pôr bombas nos quartéis, um plano na ESAO”, divulgando atentados idealizados pelo capitão... De militar rebelde, Jair tomaria sua vocação política a partir da vereança e viria a se tornar o deputado polêmico que, na decadência moral do Partido dos Trabalhadores ao longo de Lula 2 até o impeachment da caricata Dilma, seria esfaqueado e eleito o 38º presidente do Brasil.

Condenados Lula e Bolsonaro, fico a refletir se o aparente egocentrismo midiático de magistrados, como Sérgio Moro e Alexandre de Moraes, é bastante para “descondenar” ou anistiar líderes populistas como Lula e Bolsonaro...

Conforta-me ver que esses encontros e desencontros não são privilégios do terceiro mundo, pois a história dos Estados Unidos, a superpotência em decadência, também é marcada por assassinato de um presidente (Kennedy, 1963), pelo escândalo do Watergate (Nixon, 1974), pela eleição de um ator cinematográfico (Reagan, 1981), por um escândalo sexual (Clinton-Lewinsky, 1998) e a invasão do Capitólio (Donald Trump, 2021).

Também não parece ser a solução esperar a morte desses líderes populistas (Vargas, 1954; Lula... Bolsonaro...). Infelizmente, parece que a política e seu ambiente são inevitavelmente terrenos férteis ao cultivo das mais baixas expressões da personalidade humana, sejam oriundas das irracionais paixões por parte dos eleitores ou da manipulação dessas paixões e vil caráter dos seus eleitos.

Será que, como círculos concêntricos, esses fenômenos se veriam replicados em nossos Estados e municípios?

Azor Lopes da Silva Júnior

Advogado, professor de direito e coronel da Polícia Militar