Qualquer semelhança...

Trump é um “inimigo da democracia”. E antes que alguém comece com aquela conversa-fiada de ideologia, discurso da esquerda e outras besteiras mais, gostaria de enfatizar que quem fez essa afirmação, embora concorde plenamente, não fui eu (razão pela qual está entre aspas). Quem chegou a essa conclusão foi ninguém menos do que Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia. Há alguns dias, o economista americano publicou artigo no qual voltou a criticar o presidente dos EUA pela imposição de tarifas a quase todos os países do mundo.
De acordo com Krugman, além de Trump não estar vencendo sua “guerra comercial”, está adotando medidas que são claramente ilegais. E o economista americano cita a sobretaxa de 50%, no caso do Brasil, como exemplo flagrante de ilegalidade ao querer, de forma explícita e descarada, influenciar a política interna de outro país e usar a política comercial para pressionar o governo brasileiro sobre questões não relacionadas à economia. Em seu texto, Krugman enfatiza que “nem o advogado mais inescrupuloso conseguiria encontrar algo na lei americana que dê ao presidente o direito de impor tarifas a um país, não por razões econômicas, mas porque não gosta do que o Judiciário daquele país está fazendo”. No artigo, Paul Krugman acrescenta que as negociações (ou imposições) de Trump feitas ao Brasil, são diferentes das que ele fez a outras nações, uma vez que o presidente americano vinculou as tarifas à ousadia do país em julgar o ex-presidente pela tentativa de golpe e outras crimes que estão sendo apurados. O prêmio Nobel lembra, ainda, que Trump e seus assessores desconhecem o fato de que 88% das exportações brasileiras vão para países que não são os EUA.
Para aqueles que veem Trump como uma espécie de ídolo ou mito, ou qualquer uma dessas caricaturas medíocres que a extrema-direita brasileira se apaixona facilmente, talvez, seja oportuno conhecer a biografia de Paul Krugman que, insisto, é americano e prêmio Nobel de Economia (prêmio esse conquistado por suas contribuições para a nova teoria de comércio e a nova geografia econômica, as quais o tornaram uma das maiores autoridades em comércio internacional).
Vamos lá: Krugman foi professor de Economia no MIT e na Universidade de Princeton. É autor ou coautor de 27 livros e de mais de duas centenas de artigos acadêmicos publicados em revistas conceituadas internacionalmente, sendo o segundo autor mais citado em programas universitários para cursos de Economia. Trabalhou na Casa Branca como membro da equipe do Conselho de Assessores Econômicos, durante o governo Reagan. É professor na London School of Economics e pesquisador associado do National Bureau of Economics Research. Escreveu centenas de colunas sobre assuntos econômicos e políticos para o The New York Times, Fortune e Slate. Por esse breve resumo biográfico, acredito que Paul Krugman tem toda a autoridade e conhecimento para criticar as ações do governo Trump. Falando nele, o mesmo site que apresenta a biografia do professor Krugman, tem a do atual presidente americano.
Como foi dito, quem o idolatra tanto, deveria dar uma lida. Pode ser que essa leitura seja libertadora. Diferentemente da irretocável carreira de Paul Krugman, a biografia de Trump é recheada de casos como empréstimos levantados e não pagos, acordos que evitaram a falência pessoal e da imersão na duvidosa carreira política que vem sendo marcada pela propagação de teorias da conspiração e desinformação, recorrentes comentários racistas e misóginos etc. Foi acusado, também, de incitar a invasão do Capitólio por seus apoiadores e se livrou do processo de impeachment graças à conivência da maioria dos senadores republicanos.
Que coisa, não é? É por essas e por outras que, às vezes, quando se trata de governos da extrema-direita, qualquer semelhança não é, e nunca será, uma mera coincidência.
Ademar Pereira dos Reis Filho
Doutor pelo IGCE-UNESP de Rio Claro e docente da Fatec Rio Preto