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SAÚDE

O impacto do aleitamento materno

Agosto Dourado reforça a importância da amamentação para o bem-estar de mães e crianças 

por Francela Pinheiro
Publicado há 6 horasAtualizado há 3 horas
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 A amamentação é um dos laços mais profundos e significativos entre mãe e filho. Nesse período essencial, o leite materno, amplamente reconhecido por seu alto valor nutricional, cumpre um papel vital ao promover a saúde, o desenvolvimento e a proteção do bebê desde os primeiros dias de vida. Com o objetivo de reforçar a relevância desse gesto de amor e cuidado, foi criada a campanha nacional Agosto Dourado, dedicada a conscientizar e incentivar o aleitamento materno como prática essencial para a saúde individual e coletiva.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os bebês sejam alimentados exclusivamente com leite materno até completar os seis meses de vida e que, mesmo depois da introdução alimentar, continuem mamando até pelo menos os dois anos.

Isso porque o leite materno fortalece o sistema imunológico, previne inflamações, alergias, diarreias e reduz significativamente a mortalidade infantil por causas evitáveis. A longo prazo, também contribui para diminuir o risco de obesidade, diabetes e outras doenças crônicas. Segundo a pediatra e neonatologista Marina Lania Teles, do Hospital da Criança e Maternidade (HCM) de Rio Preto, a avaliação do sucesso da amamentação deve ir além do ganho de peso. “Bebês bem alimentados ganham peso dpeso suficiente, fazem xixi e coco diariamente, tem sono adequado para a idade e não são irritados e se desenvolvem bem. A avaliação da amamentação vai muito além do ganho de peso, para considerarmos que ela está sendo bem-sucedida devemos sempre avaliar o bebê de maneira global”, afirma.

A ginecologista e obstetra Daniella Campos Oliveira reforça que a amamentação é uma via de mão dupla, com benefícios para mãe e filho. “Para o bebê, significa nutrição completa, proteção imunológica e fortalecimento do vínculo com a mãe. Já para a mulher, amamentar ajuda na recuperação pós-parto, reduz o risco de hemorragia e contribui para a prevenção de doenças como câncer de mama e ovário”. Além dos benefícios físicos, a amamentação também promove efeitos emocionais positivos. O contato pele a pele estimula a produção de ocitocina, o chamado “hormônio do amor”, que favorece o acolhimento e pode prevenir quadros de depressão pós-parto. No entanto, esse processo nem sempre é fácil.

O aleitamento materno também é vivido de forma intensa e emocional por muitas mães. A dona de casa Maria Eduarda Oliveira das Neves lembra com gratidão a sua experiência com a amamentação do filho recém-nascido. “Amamentar é algo mágico, costumo dizer que é um momento único entre mãe e bebê. Quando estamos nesse contato pele a pele, e você vê aqueles olhinhos te olhando... não tem sensação mais gratificante do que saber que está alimentando seu filho e vivendo um momento só de vocês dois”.

Desafios que muitas mães enfrentam

Dor, fissuras nos mamilos, ingurgitamento das mamas, dúvidas sobre a produção de leite e o retorno ao trabalho estão entre as dificuldades mais comuns. “Cabe ao ginecologista oferecer suporte desde o pré-natal, com orientações claras, acompanhamento no pós-parto e tratamento de possíveis intercorrências, como mastite”, enfatiza Daniella.

Agosto Dourado

O HCM amplia o cuidado com mães que estão amamentando por meio do atendimento remoto após a alta hospitalar. Como parte das ações do Agosto Dourado, mês dedicado à conscientização sobre o aleitamento materno, o hospital oferece teleconsultas com profissionais especializados para orientar e solucionar dúvidas relacionadas à amamentação, mesmo à distância. Quando necessário, as pacientes também podem retornar presencialmente para acompanhamento.

“Ainda hoje, muitos mitos persistem, como a ideia de que o leite materno é fraco e não é suficiente pra manter a alimentação do bebê, que os bebês mamam apenas a cada 3 horas, que os bebês sentem sede quando estão apenas em aleitamento materno. Esclarecer essas crenças é essencial para uma amamentação bem-sucedida”, afirma a pediatra Marina.

Os resultados dessa iniciativa são expressivos: entre 2020 e 2024, o número médio de atendimentos mensais às mães aumentou 275%, passando de 291 para 1.093. Já a quantidade de leite humano coletado saltou de 202 litros para 684 litros no mesmo período — um crescimento de mais de 240%, reflexo do engajamento das mães e do fortalecimento das políticas de incentivo à amamentação e à doação.

Maria Eduarda conta que sonhava em amamentar e, apesar de alguns desafios iniciais, conseguiu superar com o apoio da equipe do HCM. Seu bebê nasceu com a língua presa, o que dificultava a mamada, mas logo no hospital foi feita a correção e iniciada a orientação especializada. “A equipe de amamentação veio, me deu todo o suporte, tirou minhas dúvidas e me ensinou sobre a pega correta e o contato pele a pele. Hoje ele mama super bem, graças a Deus. Meus seios não machucaram, tenho ótima produção de leite e meu filho está super gordinho. A pediatra até elogiou!”, relata.

Durante todo o mês de agosto, o HCM também promove ações educativas com rodas de conversa, oficinas, momentos de relaxamento e atividades voltadas às mães e aos profissionais da instituição. Todas essas ações têm um único objetivo: reforçar que amamentar é um gesto poderoso de amor, saúde e proteção para toda a vida.

Desafios da amamentação: como superar as principais dificuldades do início

Para muitas mulheres a amamentação pode ser um processo cercado de dúvidas e dificuldades. A enfermeira obstétrica Bruna Celano destaca os principais desafios enfrentados pelas mães durante o processo de amamentação e explica e como superá-los de forma segura e eficaz:

Pega incorreta do bebê: pode causar dor intensa, fissuras no mamilo e má sucção. “Sinais como bochechas encovadas, mamilo achatado ao final da mamada e boca pouco aberta indicam que algo não está certo”, explica.

A dica para corrigir é estimular uma boa abertura da boca do bebê e garantir que ele abocanhe não apenas o mamilo, mas boa parte da aréola, com o queixo encostado na mama.

Dor ao amamentar: é outro problema comum, geralmente relacionado à pega inadequada, posição errada do bebê ou uso de bicos artificiais como chupetas e mamadeiras. “O bebê deve estar bem alinhado ao seio da mãe e o mamilo pode ser hidratado com o próprio leite para ajudar na cicatrização e prevenção de feridas”, orienta.

Sensação de ter pouco leite: esse ponto costuma preocupar mães, principalmente nos primeiros dias após o parto, quando o corpo ainda está produzindo colostro, um leite mais leve, porém essencial para o recém-nascido. A produção aumenta naturalmente com a descida do leite, que costuma ocorrer entre o terceiro e o quinto dia após o nascimento. “Amamentar em livre demanda e manter uma boa hidratação são essenciais para garantir uma boa produção de leite”, reforça a especialista.