Diário da Região

Centro de Inteligência municiou relatório que indiciou Marcondes

Relatório da Polícia Civil de Rio Preto concluiu que vice-prefeito cometeu crime de injúria racial em discussão com segurança do Palmeiras, em Mirassol: defesa de Marcondes contesta e advogado do segurança comemora

por Vinícius Marques
Publicado em 01/08/2025 às 22:15Atualizado em 02/08/2025 às 01:25
Vice-prefeito de Rio Preto, Fábio Marcondes, em fevereiro: relatório vai para o Ministério Público (Reprodução/TV TEM )
Vice-prefeito de Rio Preto, Fábio Marcondes, em fevereiro: relatório vai para o Ministério Público (Reprodução/TV TEM )
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O delegado Renato Camacho, que indiciou o vice-prefeito de Rio Preto, Fábio Marcondes, por injúria racial contra o segurança do Palmeiras Adilson Antônio de Oliveira, foi municiado em seu relatório por dados do Centro de Inteligência Policial (CIP), da Delegacia Seccional.  

A pedido do delegado, foi analisado pelo CIP áudio do vídeo que mostra a confusão envolvendo Marcondes e o segurança, depois de jogo do Palmeiras contra o Mirassol, em fevereiro. Houve ainda o uso de duas ferramentas de inteligência artificial.

Além disso, Camacho destacou em seu relatório reações de outros seguranças do Palmeiras em meio à discussão. Um deles disse "racismo, não". 

"No áudio do vídeo, várias pessoas trocam ofensas e xingamentos, e um dos indivíduos faz um insulto racista ao chamar outro de “macaco velho”, consta no relatório, com análise da ferramenta de Inteligência Artificial Perplexity. 

O mesmo resultado é obtido com a ferramenta Gemini. "A  transcrição revela uma discussão intensa, com a repetição de insultos ('lixo', 'macaco velho') e acusações de racismo ('racismo não')", consta no relatório realizado pelo Centro de Inteligência na terça, 29.

LAUDOS 

O delegado analisou ainda dois laudos oficiais elaborados pelo Instituto de Criminalística de São Paulo - que afirmam que o termo fonético utilizado por Marcondes seria "paca vea" e não "macaco velho", além de dois pareceres contratados pelo Palmeiras que apontam o termo ofensivo (macaco velho), o que configuraria injúria racial.  

"Ainda que os laudos periciais do Instituto de Criminalística tenham constado que os termos utilizados pelo investigado sejam “paca véa” e não “macaco velho”, após exaustivas repetições do vídeo em questão, torna-se praticamente impossível não reconhecer audivelmente que as palavras proferidas são duas palavras de gênero masculino, as quais foram identificadas pelo mecanismo de inteligência artificial", escreveu o delegado no relatório final. 

Camacho ainda citou depoimentos. Ainda que a maioria afirme não ter ouvido o termo "macaco velho", outros ouviram "racismo, não". 

"Restou clara a total indignação dos integrantes da delegação do time do Palmeiras com as falas registradas no vídeo veiculado pela imprensa na ocasião dos fatos", escreveu o delegado.

Em seu depoimento, Marcondes negou que tenha uso termo de cunho racial ao segurança e disse que agiu em defesa de seu filho.

INDICIAMENTO 

O delegado determinou notificação de Marcondes para assinar o termo de indiciamento na quarta-feira, 30. O advogado do vice, Edlênio Xavier Barreto, informou que ele não iria. Dessa forma, foi formalizado o indiciamento indireto na quinta-feira, 31, mesmo dia que o relatório foi incluído no inquérito. 

O indiciamento significa que o delegado concluiu que existem indícios suficientes de ocorrência de crime. Segundo a lei, é crime "injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional". A pena prevista, em caso de condenação, vai de 2 a cinco anos de reclusão. 

Em junho deste ano, portaria do Ministério da Justiça e Segurança Pública autorizou o uso de IA em investigações policiais.

No MP

Como o episódio ocorreu em Mirassol, o inquérito é acompanhado pela Justiça da cidade. O relatório será encaminhado ao promotor José Sílvio Codogno, que irá decidir se oferece denúncia à Justiça contra Marcondes, se pede novas investigações ou se opina pelo arquivamento. A decisão será da Justiça. 

Advogado

O advogado de Marcondes criticou o relatório final. "Importa destacar que foi o próprio delegado de polícia quem, por duas vezes, requisitou perícia oficial ao Instituto de Criminalística, apresentando quesitos técnicos detalhados. Ambas as perícias oficiais, elaboradas por órgão imparcial e tecnicamente habilitado, concluíram de forma categórica que a palavra “macaco” não foi pronunciada pelo investigado.

"A defesa reafirma que Fábio Marcondes já prestou todos os esclarecimentos necessários e nega categoricamente ter proferido qualquer expressão de cunho racial" (leia a nota na íntegra no site do Diário). 
Euro Bento Maciel Filho, advogado do segurança, afirmou, em nota, que "graças ao excelente trabalho desenvolvido pela Polícia Civil, as investigações confirmaram o que todos já sabiam, ou seja, que Adilson foi racialmente ofendido pelo vice-prefeito de São José do Rio Preto, que o chamou de 'macaco velho' no dia dos fatos".

"Agora, com a conclusão do inquérito, espero que o MP-SP analise o caso com a seriedade de praxe e, então, ofereça denúncia em face do agressor.”

 

Coronel banca vice

O prefeito de Rio Preto, Coronel Fábio Candido (PL), vai bancar seu vice, Fábio Marcondes (PL), no comando da Secretaria de Obras do município mesmo após ele ser indiciado pela Polícia Civil por injúria racial.

Na quinta-feira, 31, logo após a decisão do indiciamento se tornar pública, o prefeito declarou que “ele (Marcondes) continua tralhando”.

“A gente tem conhecimento dessa apuração por parte da Polícia Civil. Ele (Marcondes) está prestando um bom serviço como vice-prefeito e secretário de Obras e dará continuidade aos trabalhos aqui, mesmo porque tem todo um caminhar de investigação ainda que tem de ser seguido”, afirmou Coronel.

“Portanto”, ainda segundo o prefeito, “não há mudança de posicionamento da Prefeitura por conta desse fato, que é um fato particular do vice-prefeito e secretário de Obras".

Marcondes chegou a licenciar-se do posto de vice e da Secretaria de Obras por duas vezes após episódio, em função da repercussão negativa da ocorrência. 

Impechament 

Na Câmara, foi protocolado pedido de impeachment de Marcondes pelo vereador Alexandre Montenegro (PL). De acordo com o documento, Marcondes não teria condições de seguir no cargo. O documento cita normas da Constituição, além de lei federal e regras da Lei Orgânica Municipal e do Regimento Interno do Legislativo para justificar possível quebra de decoro parlamentar. O pedido foi encaminhado para análise do presidente da Casa, Luciano Julião (PL). 

(Maria Elena Covre e Marco Antonio dos Santos)