Os idosos não são os únicos mais vulneráveis a Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Homens e mulheres com pelo menos um fator de risco associado, as chamadas comorbidades, também integram o grupo de risco. Diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares estão entre as doenças preexistentes mais preocupantes em pacientes com o vírus. A obesidade, que é uma doença crônica, que se caracteriza principalmente pelo acúmulo excessivo de gordura corpora e tem ligação com estas enfermidades, é um importante fator complicador para quem contrai o coronavírus.
Cientistas no campo emergente do imunometabolismo estão descobrindo que os obesos têm mais riscos de desenvolver a forma grave da Covid-19. Pesquisas mostram que a obesidade interfere na resposta imune do corpo, colocando as pessoas obesas em maior risco de infecção por patógenos como o novo coronavírus.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que pacientes com condições crônicas preexistentes, como diabetes e hipertensão, apresentaram versões mais graves da doença. O proctologista e cirurgião bariátrico Roberto Luiz Kaiser Júnior explica que a infecção progride de maneira mais rápida para complicações respiratórias de um modo geral neste perfil de paciente. "Como a obesidade anda associada a essas doenças crônicas, ela também entra como fator de risco para a Covid-19 e suas complicações." O boletim do Ministério da Saúde, divulgado em abril, sobre a disseminação da Covid-19 no Brasil, apontou uma nova tendência relacionada às mortes por coronavírus: a obesidade estava mais presente nos óbitos de jovens que os de idosos.
Algumas pesquisas concluíram que a seriedade da infecção da Covid-19 aumenta à medida que o Índice de Massa Corpórea (IMC) cresce. Um estudo francês mostrou que 47,6% eram obesas (IMC > 30) e 28,2% tinham obesidade grave (IMC > 35). Os cientistas notaram ainda que 68,6% utilizaram ventilação mecânica, sendo que a proporção foi maior entre os obesos graves (85,7%).
Quem é considerado obeso
Atualmente classifica-se a obesidade de acordo com o IMC, que é uma conta feita baseada no peso e na altura da pessoa. Se esse número for maior ou igual a 30 significa que está na faixa da obesidade. Se for entre 25 e 30 considera-se que está acima do peso (sobrepeso), mas fora da faixa da obesidade e dos seus riscos. Se for menor que 25, considera-se dentro da normalidade.
A obesidade já é considerado um problema mundial há muitos anos. Segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), de 2018, do Ministério da Saúde, a prevalência da obesidade voltou a crescer no Brasil, principalmente entre os adultos de 25 a 34 anos e 35 a 44 anos, com 84,2% e 81,1%, respectivamente.
Mais alto que o índice de obesos, estão o de sobrepesos, o que representa uma séria ameaça. Kaiser Júnior afirma que a população com sobrepeso corresponde a mais da metade da população. "Os números da última Pesquisa de Vigilância dos Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel) que apontou que 55,7% da população adulta no Brasil tem excesso de peso e que 19,8% é obesa."
Alerta
Neste cenário, o excesso de gordura é uma doença e as pessoas precisam se livrar dele para fugir de outros males, não só por estética. As principais causas do problema são alimentação inadequada, falta de exercício físico, influência psicológica, questões genéticas e alterações hormonais. Por isso, é preciso buscar orientação médica para um tratamento multidisciplinar, elaborado em conjunto por médicos, psicólogo, nutricionista e profissional de educação física. A mudança de estilo de vida passa por diversas etapas.
O endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Albert Einstein, afirma que uma forma tratar a obesidade é adotar mudanças no estilo de vida, com uma dieta menos calórica aliada a um programa de exercícios físicos, sempre sob a supervisão de um profissional. Também pode ser feito o uso de medicamentos, desde controladores de apetite até os que reduzem a absorção de gordura pelo organismo. Para os casos mais graves, pode ser recomendada também a cirurgia bariátrica, especialmente para quem possui o IMC acima de 35 e também ter doenças associadas à obesidade, e para os que têm IMC acima de 40 e não conseguem emagrecer com outros tratamentos. "Em todos os casos, o acompanhamento médico regular é fundamental."
Persistência
Maria Edna de Melo, endocrinologista especialista em obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (Sbem-SP), afirma que a obesidade é uma doença crônica, multifatorial e recidivante. Mas, com orientação, fica mais fácil se livrar-se do peso extra. Neste confinamento por causa do coronavírus, a médica afirma que o obeso em tratamento precisa seguir um planejamento para a mudança de hábito de vida.
A rotina alterada e o estresse causado por essa situação é apenas uma das pontas que desencadeia o consumo exagerado de calorias. Dentro de casa, eles ainda podem se sentir mais estimulados a comer fora de hora, por isso a necessidade de planejamento para as refeições. "É muito importante se manter dentro do tratamento, ficando atento ao que se come e à evolução do peso. Caso pare de perder ou até ganhe peso, uma boa estratégia é fazer o automonitoramento da comida ingerida através de aplicativos." A médica recomenda a companhia de aplicativos para prática de atividade física, além de filmes, séries e livros como aliados nesse novo cenário.